O professor é uma das inúmeras fontes de conhecimento dos alunos.
Seu papel precisa ser repensado
Seu papel precisa ser repensado
Conceito
Desafios
O novo papel do professor traz desafios novos também:
- Compreender que o professor não é a mais importante nem a única fonte da informação para os estudantes. Ele deixa de ser o centro da aprendizagem, fornecedor de conteúdos e único detentor de todos os saberes, para tornar-se fundamental na facilitação do processo de aprendizagem do aluno
- Entender esse novo conceito. Como a informação hoje é abundante e rápida, o professor passa a ser o grande responsável por criar situações em que os alunos possam desenvolver as competências necessárias para localizar, analisar e juntar essas informações, refletindo e melhorando os seus processos, tornando-se aptos a interagir com respeito e intencionalidade, para se comunicar e trabalhar com outras pessoas. Sim, isso mexe muito com o conceito que temos do professor
- Perceber que, com a crescente tendência de protagonismo e autonomia dos jovens, o professor passou a compartilhar com os estudantes o processo de aprendizagem, numa relação menos hierárquica e mais colaborativa
- Aproximar-se do aluno e entender melhor a sua realidade, seus interesses e anseios
- Olhar para as tecnologias como aliadas poderosas nesse novo papel – professor do século XXI, professor “digital”
- Ter bem claros os conhecimentos que os professores da era digital precisam dominar. O professor saiu do papel de único detentor de conteúdo, graças ao acesso a todo tipo de informação que a tecnologia, diariamente utilizada pelos jovens, traz. Transformar a experiência educacional exige novas metodologias de ensino para dar conta dessas demandas. Não se trata mais de deter o conhecimento em tecnologia, conteúdo ou metodologia, mas, sim, de uma combinação de tudo isso, que deve ser explorado de acordo com a necessidade de cada professor
- Aprender a fazer boas perguntas, desafiadoras e instigantes
Caminhos percorridos
Os papéis assumidos pelo professor estão sendo constantemente ressignificados e
reconstruídos. Ao integrar as novidades tecnológicas à sala de aula, ele deixa de ser o “dono
do saber” e se transforma num agente da transformação. Algumas escolas, referências em
inovação, têm denominações e funções diferentes para o professor:
- – É aquele que trabalha de forma interdisciplinar, ou seja, não leciona uma matéria específica, mas transita por várias delas. Esse professor faz combinações estratégicas dos conteúdos curriculares, mesclando atividades de matemática com artes ou língua portuguesa com história, por exemplo
- – O papel desse professor é contribuir para o desenvolvimento integral dos alunos e pensar nas mais diversas facetas de cada estudante, vivenciando a educação no seu sentido mais amplo e dando uma atenção especial a escolhas que ele fará em seu caminho de aprendizagem, o que ajuda bastante na construção do projeto de vida de cada jovem
- – Ele tem uma função muito mais interativa e dinâmica, colaborando com a aprendizagem daquilo que os estudantes demonstram ter mais interesse, como nos momentos da aprendizagem baseada em projetos. Esse professor incentiva o aluno a resolver problemas da vida real, dando sentido ao conteúdo teórico aprendido
Lembrete É importante ter em mente que você não precisa se encaixar em
uma única denominação, já que todos esses papéis são complementares.
Numa mesma classe, você pode trabalhar com diferentes aspectos, de acordo
com a necessidade de cada grupo de alunos
No cenário atual da educação, é fato que o professor precisa estar bem preparado para lidar
com um jovem, cuja vida é mediada pela tecnologia. Se a formação inicial do educador o levou
a um tipo de conteúdo e abordagem diferentes das necessidades da escola e dos alunos de
hoje, surge um conflito interno que coloca o professor numa situação desconfortável,
deixando-o, muitas vezes, vulnerável.
Por isso, é preciso haver um alinhamento bem estruturado entre a coordenação pedagógica e
os professores, em que todos concordem com o caminho a ser trilhado, para não deixar que
esse tipo de ruído atrapalhe o processo de transformação. Nesse sentido, o educador que está
sempre em busca de uma formação contínua, bem como o desenvolvimento de suas
competências, tende a ampliar o seu campo de trabalho.
Para os adultos, é muito mais difícil aprender. Eles têm as aprendizagens anteriores muito
mais sedimentadas. Para encarar o desafio de uma escola inovadora, você tem que estar disposto. Formar é tentar colocar numa forma, então não gosto dessa palavra. A palavra é transformar.
Ideia! Além de contar com sua equipe, pesquise também outras opções de formação
continuada que estejam ao seu alcance e incentive outros professores a fazerem o
mesmo. Você pode dar o pontapé inicial, conferindo os cursos gratuitos e on-line da
Fundação Telefônica, no portal Escolas Conectadas.
Outra opção é a Escola Digital, uma plataforma
inteiramente gratuita que possui ampla possibilidade de customização.
Na Northern Beaches Christian School, localizada na Austrália, existe um hábito que é
incessantemente disseminado por toda a escola: com certa frequência, todos os
funcionários participam de cursos de aprendizagem profissional que são facilitados,
preferencialmente, por outros funcionários.
Professores que estão interessados em uma nova prática profissional são apoiados
pela equipe a pesquisar, testar e desenvolver o método para si e, em seguida,
incentivar os demais a fazerem o mesmo.
O governo federal tem também uma série de iniciativas de formação continuada na área de
educação, principalmente para professores do ensino fundamental e do ensino médio.
Conheça as principais:
- – O Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciatura em Educação do Campo (Procampo) oferece cursos superiores de licenciatura, voltados para professores dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio nas escolas públicas rurais. O processo de inscrição é feito nos institutos de educação participantes. Saiba mais no site: http://portal.mec.gov.br/tv-mec
- – O Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor) oferece cursos gratuitos de licenciatura, segunda licenciatura e formação pedagógica. Saiba mais no site: http://www.capes.gov.br/educacao-basica/parfor
- – A Universidade Aberta do Brasil (UAB) tem cursos a distância gratuitos para qualificação de professores. Saiba mais no site: http://uab.capes.gov.br/
Passo a passo
Você não vai mais atuar sozinho e precisa buscar a integração das disciplinas dos estudantes,
dos contextos e do aprendizado. Para isso, trabalhe com todos os agentes da escola e fora
dela. Estudantes, familiares e colegas profissionais serão seus parceiros de cocriação,
conectados a questões contemporâneas, permeáveis aos recursos da comunidade e do
mundo.
Como o seu trabalho depende dos demais atores do processo de aprendizagem, é essencial
que você crie mecanismos para engajar todos.
Para ter consciência dos diferentes estilos de aprendizagem presentes em uma única sala de
aula, valorizando o grupo e respeitando o ritmo de cada estudante, analise quem é a sua
turma. Em cada momento, procure entrar em contato com essas diferenças tão ricas.
Para definir temas e objetivos de cada momento, revisite o projeto da escola, mantendo-os
integrados, e procure alinhá-los ao trabalho dos outros professores.
Faça uso do planejamento colaborativo das atividades para chegar a três definições: qual será
o produto final, quais estratégias vai utilizar na mediação pedagógica e quais os processos de
avaliação irá adotar.
Como o estudante, o professor também se coloca no papel de quem aprende. Por isso, é
interessante que trate de suas dificuldades, curiosidades e vontade de crescer, buscando
outras fontes de aprendizagem que acredite ser importantes e válidas para sua demanda.
Cursos presenciais ou a distância são bem-vindos, além de processos de tutoria e treinamento.
Quando o professor se depara com possíveis deficiências de sua formação, certa insegurança
começa a fazer parte do seu dia a dia. Nesse caso, procure o apoio do coordenador pedagógico
de sua escola, que poderá orientá-lo de uma forma mais local e contextualizada, apoiando-o
na criação de projetos, portfólio dos estudantes e criação de diários de acompanhamento.
Talvez você ainda se sinta meio inseguro em determinados momentos, mesmo com esse
apoio, mas com a busca por uma prática mais focada no objetivo final da educação, com
certeza você irá ajudar os estudantes a aprenderem.
Eu tenho medo todo dia (risos). A insegurança é bacana também. Quando ficamos seguros
demais, ficamos muito arrogantes.
Por muito tempo, questões hierárquicas colocaram o professor num patamar muito distante dos alunos, restringindo sua relação ao período que passavam em sala de aula. As coisas mudaram e, hoje, esse olhar também se transformou consideravelmente. Agora, a escola incentiva o professor a estar cada vez mais próximo dos estudantes. Refletir sobre esse novo papel e as formas de criar essa aproximação faz parte de seu trabalho. Cada vez que um determinado professor entrava na sala de aula antes, ele tinha um tipo de escola na cabeça dele, uma concepção de sala, uma concepção de aula, uma concepção de estudante e uma concepção de função da escola, então daí nascia uma relação de poder: ‘Eu é quem mando aqui’. Não era uma posição horizontal, era hierárquica.
Aqui existe uma quebra de paradigmas. O estudante aqui acha normal a gente pedir a ajuda deles. Eu costumo pedir ajuda para os estudantes maiores direto.
Uma das ferramentas mais poderosas do professor é o diálogo aberto e objetivo, não só com os alunos, mas com todos os profissionais da escola. Estar disposto a ouvir esses jovens e seus pares, ficar atento aos sinais que eles emitem e conseguir extrair o melhor dessas interações são fatores importantes para que você possa refletir sobre a sua prática profissional e como andam as suas concepções sobre tudo que envolve a escola.
O professor exigia o respeito, se o estudante falava alguma coisa era: ‘Não, agora EU estou falando’. Nem se permitia que o estudante tivesse muita opinião, porque o professor estava muito focado no que queria dizer, no que queria cobrar, ou queria passar. Hoje eu me sinto fora desse pedestal, mais próxima deles. Mudou minha visão completamente.
Por muito tempo, questões hierárquicas colocaram o professor num patamar muito distante dos alunos, restringindo sua relação ao período que passavam em sala de aula. As coisas mudaram e, hoje, esse olhar também se transformou consideravelmente. Agora, a escola incentiva o professor a estar cada vez mais próximo dos estudantes. Refletir sobre esse novo papel e as formas de criar essa aproximação faz parte de seu trabalho. Cada vez que um determinado professor entrava na sala de aula antes, ele tinha um tipo de escola na cabeça dele, uma concepção de sala, uma concepção de aula, uma concepção de estudante e uma concepção de função da escola, então daí nascia uma relação de poder: ‘Eu é quem mando aqui’. Não era uma posição horizontal, era hierárquica.
Aqui existe uma quebra de paradigmas. O estudante aqui acha normal a gente pedir a ajuda deles. Eu costumo pedir ajuda para os estudantes maiores direto.
Uma das ferramentas mais poderosas do professor é o diálogo aberto e objetivo, não só com os alunos, mas com todos os profissionais da escola. Estar disposto a ouvir esses jovens e seus pares, ficar atento aos sinais que eles emitem e conseguir extrair o melhor dessas interações são fatores importantes para que você possa refletir sobre a sua prática profissional e como andam as suas concepções sobre tudo que envolve a escola.
Ideia! Faça uma autoanálise sobre sua prática diária, criando uma lista de tudo o que
você gostaria de melhorar e também do que você faz muito bem. Busque o apoio de
seus colegas, organizando equipes e grupos de discussão, em que um pode ajudar o
outro assistindo a suas aulas, fazendo críticas e aprendendo juntos.
O professor é tradicionalmente o lugar do saber, o lugar do poder, muitos lugares que ele tem
na prática dele, mas todos ligados ao poder. Quando você coloca ele trabalhando
horizontalmente, é muito difícil de início, porque ele fica muito exposto. Exposto pelos
estudantes, pelos pais, exposto pela comunidade. O professor exigia o respeito, se o estudante falava alguma coisa era: ‘Não, agora EU estou falando’. Nem se permitia que o estudante tivesse muita opinião, porque o professor estava muito focado no que queria dizer, no que queria cobrar, ou queria passar. Hoje eu me sinto fora desse pedestal, mais próxima deles. Mudou minha visão completamente.
Um exemplo de horizontalização do trabalho do professor, aproximando-o do
estudante, acontece nas Escuelas Experimentales, uma rede de escolas públicas
democráticas na Argentina em que a metodologia de ensino do currículo nacional é
aplicada usando as artes. As aulas acontecem em rodas de discussão de, no máximo,
15 alunos.
O professor pode, por exemplo, tratar o contexto histórico de um artista ou de seu
quadro em uma aula de pintura. Música, poesia e dança são utilizadas pelos
educadores para abordar as tradições locais. Os professores acompanham o
desenvolvimento do aprendizado de seus alunos, além de especificidades como visão,
audição e alimentação. Não existem provas. As avaliações ocorrem por meio das
produções elaboradas nas próprias aulas.
Ao final do dia, os professores se reúnem por duas horas para falar sobre o trabalho
desenvolvido e fazer o planejamento do dia seguinte. As decisões são tomadas levando
em consideração a opinião de todos.
Eu simplesmente falava, passava a matéria no quadro, explicava e pronto: ‘Entenderam?’. E
acabou ali. Hoje eu estou preocupada em sentar com o estudante e falar de forma que ele
entenda, quero mergulhar na cabeça dele.
Passo a passo
Uma boa forma de se aproximar dos alunos e, ao mesmo tempo, refletir sobre sua prática
profissional, pode acontecer com uma simples inversão de papéis. Saber como eles enxergam
o seu trabalho pode ser um grande incentivo para fazer uma sintonia fina em suas técnicas de
ensino.
Peça aos estudantes que o desafiem. O ideal é que eles organizem um tipo de gincana em que
podem testar seus conhecimentos gerais sobre a escola e a comunidade, e também o
conteúdo pedagógico.
Para tornar a atividade mais competitiva, separe-os em dois ou três grupos e sugira que
escolham um líder para cada um. Esse é um ótimo momento para estimular o engajamento e a
noção de responsabilidade.
Uma orientação importante é que, além das perguntas, eles também devem redigir as
possíveis respostas, para que você possa ter uma noção de como cada grupo realizou suas
respectivas pesquisas para a elaboração das questões e qual o nível de organização de cada
um.
Incentive-os a ousar nas perguntas e questionamentos, sem receio de serem repreendidos. O
importante é que eles tenham a chance de perceber que também podem ensinar!
Nessa gincana, o objetivo é estimular a interação entre os alunos e o professor, então todos
ganham. Os alunos aprendem de uma forma mais descontraída e divertida, enquanto você
ganha insumos para refletir sobre o trabalho que desempenha com esses jovens.
O professor tem um importante papel na integração entre a escola e as famílias dos
estudantes, uma vez que ele contribui para que os jovens tenham uma perspectiva mais
positiva na construção de uma vida melhor, de cidadãos produtivos e autônomos.
Realizar reuniões periódicas, para que as famílias estejam constantemente informadas sobre
os progressos e anseios dos alunos, pode ser o primeiro passo para os responsáveis se
sentirem mais à vontade e, consequentemente, participar ativamente do cotidiano escolar.
Ideia! Essa aproximação, certamente, deve acontecer de forma gradual e espontânea.
Por isso, não desanime se não houver o retorno esperado nas primeiras convocações.
Você precisa ter em mente que, para muitos pais, pode ser difícil comparecer a
reuniões com a frequência necessária. Então, tente criar grupos do WhatsApp ou até
mesmo de e-mails, para deixá-los atualizados de todas as novidades.
Exemplos de quem já faz
Na Escola da Ponte, em Portugal, os contatos com as famílias dos estudantes são feitos
pelo professor tutor, que acompanha, orienta e avalia diariamente as atividades
realizadas pelos jovens. Funciona assim: a escola oferece atividades de fortalecimento
do currículo àqueles que necessitem que os seus filhos tenham um acompanhamento,
e fica a cargo desse professor traçar o melhor caminho para solucionar as dificuldades
desses alunos.
A organização da Escola da Ponte inspira uma filosofia inclusiva e cooperativa que,
simplificando bastante, pode ser resumida assim: “todos precisamos aprender e todos
podemos aprender uns com os outros. E quem aprende, aprende a seu modo no
exercício da cidadania.”