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Confira a análise da Fundação Telefônica Vivo dos principais resultados sobre letramento matemático e desenvolvimento do pensamento computacional nos estudantes brasileiros publicados no relatório do Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (PISA 2022)

Imagem mostra uma estudante negra em sala de aula, ela segura um lápis com a mão direita e escreve em um caderno

1. Introdução

O Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (PISA), iniciativa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), foi criado em 1997 para fornecer evidências comparáveis internacionalmente sobre o desempenho de estudantes.

Realizado a cada 3 anos desde 2000, o PISA avalia estudantes de 15 anos de idade em todo o mundo, indo além da mera avaliação de conhecimentos ao testar a capacidade dos estudantes de aplicar suas habilidades em situações-problemas, além de comparar as diferenças de desempenho, identificando características dos estudantes, escolas e sistemas educacionais.

A 8ª avaliação, originalmente planejada para 2021, foi adiada para 2022 devido aos desafios enfrentados pelos sistemas educacionais provocados pela pandemia de COVID-19.

Com uma ampla cobertura, o PISA 2022 incluiu a participação de 81 países e economias, abrangendo uma variedade de regiões ao redor do mundo, com aproximadamente 690 mil participantes, representando cerca de 29 milhões de jovens de 15 anos de idade matriculados nas escolas.

A cada ciclo do PISA, um assunto é examinado detalhadamente, ocupando quase metade do tempo total de teste. O PISA 2022 concentrou-se na Matemática, ao lado da avaliação de Leitura, Ciências e Pensamento Criativo.

 

2. Análise dos resultados de Matemática para o Brasil

O framework da OCDE integra 6 níveis de proficiência em Matemática. Nível 1 (que, desde 2018, foi desagregado em subníveis: 1c, 1b, 1a), Nível 2, Nível 3, Nível 4, Nível 5 e Nível 6 (o maior nível de proficiência). (OCDE, 2023b, p. 240)

Segundo análise do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), países da América Latina e Caribe estão com “anos de atraso” em relação a países da OCDE1. Brasil, Argentina e Jamaica, possuem dados que equivalem a 5 anos de atraso na aprendizagem em comparação com os países-membros da OCDE. Panamá, Guatemala e El Salvador, possuem indicadores que equivalem a 6 anos de atraso. De modo geral, a região possui desfalque de 5 anos na aprendizagem em relação à OCDE e 10 anos em relação ao líder do ranking.

A disparidade entre regiões é evidente nos resultados. No Brasil, a região Sul foi a que obteve maior média em Matemática, com um score de 394 pontos, seguida da região Sudeste, com 388 pontos, Centro-Oeste, com 384, Nordeste, com 363 e Norte, com 357 pontos. (Inep, 2023)

O Brasil se manteve praticamente estável em relação a 2018, mas seus indicadores ainda são muito baixos em relação aos países da OCDE, com poucos estudantes atingindo a linha mínima de base. No Brasil, apenas 27% dos estudantes atingiram o nível 2 de proficiência em matemática, a média da OCDE é de 69%. Ao mesmo tempo, apenas 1% dos estudantes conseguiram um nível de proficiência de alta performance (níveis 5 e 6), a média da OCDE é de 9%. (OCDE, 2023d)

A disparidade de gênero em Matemática e Leitura varia de forma inversa entre meninos e meninas. No Brasil, os meninos tendem a obter um score 8 pontos maior em matemática, enquanto em leitura as meninas tendem a ter um score de 17 pontos a mais. Neste sentido, 71% dos meninos estão abaixo da linha de base (nível 2) em Matemática, enquanto 76% das meninas encontram-se nessa posição. (OCDE, 2023d)

Houve um decréscimo na percepção dos estudantes do suporte por parte dos professores de Matemática. Em 2012, 84% dos estudantes indicaram que os professores de matemática demonstram interesse pessoal nos estudantes, enquanto em 2022 o percentual foi para 74%. Do mesmo modo, em 2022, 72% dos estudantes indicaram que os professores proviam suporte àqueles com maiores dificuldades, uma diminuição pouco expressiva em relação à 2012 (73%). (OCDE, 2023d)

1 El uno por uno de los países de Latinoamérica en las pruebas PISA: los que mejoraron y los de peor desempeño – Infobae

 

3. Pensamento computacional como pilar do Pensamento matemático 

O framework de Matemática da OCDE está divido, atualmente, em quatro grandes processos matemáticos: i) pensamento matemático; ii) formular situações matematicamente; iii) empregar conceitos, fatos e procedimentos matemáticos; iii) interpretar, aplicar e avaliar resultados matemáticos. (OCDE, 2023b, p. 81)

O pensamento computacional é visto como um dos elementos basilares do pensamento matemático, segundo a OCDE “[…] a intersecção entre o pensamento matemático e computacional integra um conjunto semelhante de perspectivas, processos e modelos mentais que os estudantes precisam para serem bem-sucedidos em um mundo cada vez mais tecnológico”. (OCDE, 2023a, p. 25)

Apesar de ser apresentado como um dos pilares do pensamento matemático, não foram produzidos indicadores que diretamente relacionassem Matemática com o pensamento computacional.

 

4. Impacto do uso de tecnologias na sala de aula sobre a concentração e performance dos alunos

Os resultados são ambíguos: o uso de dispositivos eletrônicos pode se converter em uma distração ou em um instrumento de aprimoramento dos estudos, a depender da intenção, modo e período de uso.

Na análise da perspectiva dos estudantes dos países-membros, 30% relataram se distrair ao usar dispositivos digitais nas aulas de Matemática e tais estudantes tendiam a ter um desempenho 8 pontos2 menor do que estudantes que indicavam não se distraírem. Para o Brasil, esse percentual é mais elevado, chegando a aproximadamente 45%. (OCDE, 2023c, p. 101)

Por outro lado, também é identificado que estudantes dos países-membros da OCDE que utilizam equipamentos digitais por até 1 hora diária para atividades de aprendizagem tendiam a ter um score 25 pontos mais alto em Matemática do que estudantes que não utilizam equipamentos digitais. (OCDE, 2023c, p. 193)

Nesse sentido, muitas escolas introduziram diretrizes para lidar com o problema de distração associado ao uso de dispositivos digitais na escola, e foi identificado que o conteúdo e o design dessas regras, assim como a capacidade de aplicá-las, desempenharam papel crítico na determinação de sua eficácia — quando as regras de uma escola são genericamente elaboradas, imprecisas ou lenientes, é improvável que apoiem um ensino e aprendizado eficazes com dispositivos digitais.

Por esse motivo, é fundamental um bom desenho de políticas que visem o desenvolvimento de competências nos estudantes para que possam interagir de modo positivo com as tecnologias e com os ambientes digitais, para fazer bom uso de tais dispositivos, possibilitando benefícios pedagógicos e limitando às possibilidades de distrações.

2 Resultado refere-se ao impacto do uso de dispositivos pelo próprio aluno, não considerando o impacto causado pelo uso de tecnologia por terceiros ao seu redor.

 

5. Considerações Finais

A partir da análise inicial dos dados do PISA 2022, identifica-se que, apesar da variação dos indicadores do Brasil não terem sido estatisticamente relevantes em comparação com a última edição, o país ainda se posiciona em um patamar de desenvolvimento comparativamente muito baixo em relação aos outros países que fizeram parte do estudo.

Ao mesmo tempo, os indicadores relacionados ao desenvolvimento de competências matemáticas apresentam clivagens em relação à condição socioeconômica e gênero — e também de raça, embora esse marcador social não seja mobilizado nos estudos produzidos pela OCDE.

Nesse sentido, é importante avaliar a possibilidade de construir estratégias múltiplas com direcionamento específico de políticas, sejam elas direcionadas para escolas com baixo desempenho, sejam direcionadas a indivíduos em circunstâncias que dificultem a aprendizagem (OCDE, 2023b, p. 133).

A relação entre pensamento matemático e pensamento computacional. apresentada no framework, é uma oportunidade de promover não só o desenvolvimento associado de ambas as competências, mas também de fomentar o uso de recursos digitais, sobretudo aqueles baseados em inteligência artificial adaptativa, para ampliar a personalização do ensino e maximizar as possibilidades de desenvolvimento dos estudantes.

Esses indicativos ressoam nos insights obtidos na pesquisa “Futuro do Mundo do Trabalho para as Juventudes Brasileiras”, desenvolvida pela Fundação Telefônica Vivo em 2022, em parceria com outras organizações3, apontando a centralidade das competências digitais e de sua relevância nas economias emergentes — verde, digital, do cuidado, criativa e prateada.

Os impactos da economia digital produzem demandas específicas, para as quais as competências digitais — que dialogam diretamente com o aprendizado na idade certa, em Matemática — são essenciais para promoção da inclusão produtiva dos jovens.

Atualmente, o Brasil conta com um contexto normativo-legal propício à promoção do desenvolvimento de competências digitais, uma vez que existe um referencial curricular neste tema. Com a homologação da Resolução nº 1, de outubro de 2022, pelo Conselho Nacional de Educação, as normas sobre Computação na Educação Básica, em complemento à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), devem ser implementadas em todo o país, abrangendo todas as etapas de ensino.

Nesse contexto, é importante indicar que a temática que será priorizada pela OCDE no PISA 2025 será Aprendendo no Mundo Digital4. Desse modo, cabe aos governos realizarem investimentos no desenvolvimento associado das competências básicas — como as competências matemáticas (assim como leitura e letramento científico) — com as competências digitais, permitindo que jovens possam galgar possibilidades no horizonte por vir.

3 Pesquisa Futuro do Mundo do Trabalho para as Juventudes Brasileiras: Idealizada pela Fundação Telefônica Vivo, Itaú Educação e Trabalho, Fundação Roberto Marinho, Fundação Arymax e GOYN SP, e executada pelo Instituto Cíclica em parceria com o Instituto Veredas.

4 Learning in the Digital World – PISA (oecd.org)

 

Referências Bibliográficas 

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE). PISA 2022 Assessment and Analytical Framework. OECD Publishing, Paris, 2023a.

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE). PISA 2022 Results The State of Learning and Equity in Education Publication Volume I. OECD Publishing, Paris, 2023b.

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE). PISA 2022 Results Learning During – and From – Disruption Volume II. OECD Publishing, Paris, 2023c.

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE). PISA 2022 Results: Factsheets – Brazil. Disponível em: <https://www.oecd.org/publication/pisa-2022-results/country-notes/brazil-61690648#chapter-d1e11>. 2023d>.

Instituto Nacional de Pesquisas Anísio Teixeira (Inep). Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa 2022). Brasília. 2023.

Análise dos Resultados do PISA 2022
Análise dos Resultados do PISA 2022