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Preparar os jovens para o uso da tecnologia vai muito além de ensinar habilidades e competências digitais. A educação brasileira precisa formar cidadãos críticos e éticos para o uso das ferramentas e redes digitais, como recomenda a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Mas o relatório “Cultura e Cidadania Digital nos currículos de Ensino Médio das redes estaduais de educação” produzido pela Safernet Brasil e divulgado em março de 2025, mostra que somente 44% das redes estaduais de ensino brasileiras – ou seja 12 das 27 unidades federativas – ofertam disciplinas eletivas ou obrigatórias para tratar do uso seguro e consciente de tecnologias aos estudantes do Ensino Médio. São elas: Acre, Alagoas, Amazonas, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Em outras 7 redes estaduais de educação, o levantamento identificou componentes curriculares que abordam o uso consciente e seguro de tecnologias de maneira transversal, ou seja, aparece junto com outros temas e em diferentes disciplinas. As redes de Rondônia, Roraima, Maranhão, Sergipe, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Tocantins adotam essa estratégia. A Safernet Brasil consultou 26 estados e o Distrito Federal – 3 estados não responderam.

Considerando que menos da metade das redes estaduais possui uma diretriz sobre as práticas digitais responsáveis, Guilherme Alves, gerente de projetos da Safernet Brasil diz que a jornada da educação pública para o ensino da tecnologia ainda tem um longo caminho. “A BNCC traz a competência de cultura digital (obrigatória) desde 2018 e foi ainda reforçada com o complemento da Computação (2022) e cabe a cada rede de ensino identificar se será trabalhada transversalmente, com disciplinas eletivas ou obrigatórias”, explica.

Alves explica que os especialistas recomendam a aplicação das disciplinas que abordam cultura e cidadania digital nos currículos escolares. “Assim há uma ementa com os conhecimentos que devem ser trabalhados, tem a destinação de professores que vão aplicá-lo, há uma carga horária e há a possibilidade de acompanhar o trabalho ao longo do ano”.

Segundo o relatório da Safernet Brasil, “a inexistência de um componente curricular específico ou exclusivo também não descarta a possibilidade de outras abordagens pedagógicas”, embora, Alves faça um alerta: “A aplicação de estratégias extracurriculares como palestras pontuais ou um trabalho transversal podem, “na prática, diluir o conteúdo e perder a sua efetividade”.

 

O uso consciente das tecnologias digitais

A cultura digital e o uso consciente das tecnologias são aprendizados indispensáveis para as crianças e jovens do mundo atual, seja na escola, em casa, nas relações pessoais ou no futuro quando ingressarem no mercado de trabalho.

De acordo com o relatório, “Monitoramento global da educação 2023”, da Unesco, o uso sem orientação e acompanhamento pedagógico das tecnologias e redes sociais reflete-se em casos de bullying, dificuldade em reconhecer fake news e desinformação, exposição de fotos e dados pessoais, dentre outros problemas que podem causar mal a crianças e jovens.

O gerente de projetos da Safernet Brasil reforça que a presença da disciplina que aborde o tema no currículo do Ensino Médio ajuda a promover um ambiente mais seguro para os jovens. “Os estudantes devem saber, por exemplo, que se acontecer alguma situação mais grave, eles podem procurar a escola.”

Alves ressalta que é preciso envolver também a família no processo de aprendizado de cultura digital de forma que ela e a escola caminhem juntas nesse processo. “Quando vemos situações, por exemplo, em que os professores estimulam os estudantes a discutirem com seus responsáveis, ou alguma atividade que envolva as famílias, os resultados são muito positivos.”