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Embora o acesso à internet tenha aumentado nas escolas, a pesquisa TIC Educação 2022 aponta que reduziu o número de formação docente específica em tecnologias digitais e que isso dificulta a adoção de inovações nas atividades em sala de aula. Especialistas comentam alguns dados

#Educadores#TecnologiasDigitais

A pesquisa TIC Educação 2022, lançada em setembro deste ano, apresenta um panorama sobre o acesso e uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC) por educadores e estudantes de escolas brasileiras de Ensino Fundamental e Médio. Nesta edição, o estudo conduzido pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), mostra que a presença de computadores e o acesso à internet nas escolas não são os únicos fatores para promover um processo de ensino e aprendizagem mais digital.

Antes de tudo, é preciso que os educadores estejam preparados para saber como inserir as tecnologias em sala de aula. O número de professores que reportaram ter participado de formação continuada sobre o uso de tecnologias digitais nos últimos 12 meses anteriores à pesquisa caiu de 65%, em 2021, para 56%, em 2022. Ou seja, somente pouco mais da metade dos entrevistados disseram estar capacitados para o uso das tecnologias em sala de aula.

De acordo com o levantamento, para grande parte dos educadores (75%) a falta de um curso específico dificulta a adoção das tecnologias digitais nos processos de ensino e aprendizagem.

“Os dados mostram que talvez as formações em tecnologia realizadas pelos professores não são adequadas para suas reais necessidades. Assim, é preciso desenvolver metodologias inovadoras e efetivas para os educadores experimentarem diferentes tecnologias”, acredita Lucia Dellagnelo, mestre e doutora em Educação pela Universidade de Harvard.

A doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano e diretora da Tríade Educacional, Lilian Bacich, afirma que muitos docentes não vivenciaram o uso de tecnologias digitais em sua formação inicial. Nesse sentido, a construção de comunidades e de redes de aprendizagem nas instituições de ensino pode ser uma alternativa para apoiar o docente nesse tema.

“De fato, a formação continuada é fundamental. Nessas formações é possível sensibilizar os professores para o potencial das tecnologias digitais na aprendizagem. A partir de então, é preciso apoiar os docentes na elaboração de experiências com uso de tecnologias digitais. Através da aprendizagem por pares, eles podem se fortalecer e fazer escolhas alinhadas ao que se pretende desenvolver com os estudantes dentro das condições possíveis”, detalha Lilian.

 

Educação para a cidadania digital 

Além da formação docente, a pesquisa TIC Educação 2022 também abordou outros temas relevantes no contexto das tecnologias digitais na educação, como o uso seguro e ético da internet .

De acordo com os dados, entre as principais situações relatadas pelos estudantes no ambiente on-line estão o uso excessivo de jogos e tecnologias digitais (46%), cyberbullying (34%), discriminação (30%), disseminação ou vazamento de imagens sem consentimento (26%) e assédio (20%).

Ainda segundo a pesquisa, 61% dos professores entrevistados afirmaram ter apoiado estudantes no enfrentamento dessas situações. E quase metade dos estudantes entrevistados disse que recorre aos professores da escola quando precisa de informação sobre o uso de tecnologias digitais.

Os números reforçam a importância e a urgência de capacitar professores para que sejam educadores na era digital e apoiem seus estudantes nos desafios e riscos do mundo on-line.

Guilherme Alves, gerente de projetos na Safernet Brasil, reconhece que o uso da internet por crianças e adolescentes se intensificou por causa da pandemia. Consequentemente, os problemas associados ao aumento de acesso também cresceram. Para ele, um dos caminhos para suprir essa necessidade é o investimento na formação docente.

“Crianças e adolescentes são o segmento da população que mais consome internet, seja para lazer, educação ou comunicação. E isso causa um caldeirão de possibilidades boas e ruins. Conforme crescem os relatos de cyberbullying, também aumenta a demanda de apoio por parte dos professores. Nesse sentido, a formação continuada dos educadores é um dos principais desafios. Mas também a formação básica, para que saibam usar a tecnologia na educação e possam educar os estudantes para o uso consciente”, opina.

Lilian Bacich afirma que o estímulo ao uso de tecnologias digitais precisa fazer parte do planejamento pedagógico das escolas e trabalhado de forma coletiva e crítica. Dessa forma, a prática docente será um incentivo ao uso consciente das novas tecnologias, fazendo com que os estudantes sejam muito mais que meros consumidores.

“Para desenvolver competências digitais dos estudantes, as práticas em sala de aula precisam valorizar a segurança e a ética no uso. É essencial avançar para além do consumo de tecnologias e partir para a produção, o que demanda o planejamento de práticas pedagógicas que coloquem os estudantes no centro do processo, por meio de metodologias ativas. Assim, a segurança e a ética são aplicadas no uso, consumo e produção de tecnologias digitais”, declara.

O que são metodologias ativas?

As metodologias ativas de aprendizagem são práticas que possibilitam a inovação em sala de aula e colocam o estudante como protagonista e personagem ativo do processo de construção de conhecimento. Para isso, o professor utiliza abordagens que têm como objetivo levar o estudante para o centro do processo de aprendizagem.

Acesso à internet 

A pesquisa TIC Educação 2022 aponta que a grande maioria (94%) das instituições de Ensino Fundamental e Médio do país está conectada à rede. Por outro lado, apenas pouco mais da metade (58%) conta com dispositivos como notebook, desktop e tablet para uso dos estudantes.

O uso da internet no processo de ensino e aprendizagem tornou-se mais frequente após a pandemia. Para se ter uma ideia, na edição anterior da TIC Educação, a maioria das escolas estaduais (79%), municipais (71%) e pouco mais da metade das escolas rurais (52%) contava com acesso à internet. Na nova edição do estudo, esses mesmos dados aumentaram para 97%, 93% e 85% nas escolas estaduais, municipais e rurais, respectivamente.

De acordo com Lucia Dellagnelo, quando comparados ao resultado da pesquisa do ano anterior, os dados são positivos porque indicam que houve um aumento da presença de tecnologias [dispositivos] nas escolas. “Embora esse aumento não signifique necessariamente uma maior utilização dessas tecnologias pelos educadores e estudantes”, conclui a especialista.

Formação continuada em tecnologias digitais é fundamental para a adoção de inovações nas atividades pedagógicas, aponta pesquisa
Formação continuada em tecnologias digitais é fundamental para a adoção de inovações nas atividades pedagógicas, aponta pesquisa