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11.04.2016
Tempo de leitura: 4 minutos

Como a reformulação do Ensino Médio, feito com e para o jovem, pode diminuir a evasão escolar

Um novo olhar sobre a grade curricular pode preparar o jovem integralmente para os desafios do futuro.

Um novo olhar sobre a grade curricular pode preparar o aluno integralmente para os desafios do futuro.

Durante cinco horas, toda manhã, o jovem sente como se seu cérebro fosse tomado por uma enxurrada de conteúdo. Quarenta minutos de aula sobre as leis de Newton, os próximos sobre a história da literatura barroca. Todo dia o ritual se repete, sem nenhuma abertura para a óbvia multiplicidade de conteúdos que interessam aos adolescentes, para as competências que eles certamente possuem, mas que não se encaixam em disciplinas aplicadas com rigor. Há 30 anos, o Ensino Médio brasileiro se mantém o mesmo, enquanto a cada segundo o jovem se transforma.

Os resultados de um Ensino Médio desestimulante podem ser medidos em carteiras vazias: é o ciclo com maior taxa de evasão escolar, com 15% dos jovens entre 15 e 19 anos fora da sala de aula. “A estrutura do Ensino Médio é muito perversa: quando o jovem chega nele, encontra um currículo mais abstrato do que o ciclo anterior, com treze disciplinas. Muitas vezes, ele já carrega dificuldades do Ensino Fundamental”, fala Antônio Neto, vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED).

É tendo em vista os preocupantes índices que o CONSED se mobilizou para propor uma reforma contundente na base curricular do Ensino Médio. Com projeto de lei já em trâmite, a nova base proposta foca no descongelamento de grades curriculares, adoção de novas competências e protagonismo de quem mais é afetado por essa mudança: o jovem. “A juventude não é única, tem múltiplas expectativas: a juventude da favela não é a mesma da do centro da cidade, tem juventude que só pode estudar de noite, outra que deseja formação técnica. Um modelo único de Ensino Médio não atende a essa pluralidade”, complementa Antônio.

Para viabilizar a perspectiva de uma formação integral, tanto em conteúdo e competência, é fundamental que aquilo desejado pelo jovem seja levado em conta. Nessa previsão, enquanto os conteúdos elementares como matemática, física ou português ainda seriam trabalhados, o currículo também teria espaço para objetivos de aprendizagem diversos, compatíveis com os desejos dos estudantes. Um jovem que tivesse mais interesse em ciências exatas, por exemplo, poderia escolher competências adequadas para se desenvolver nessa trajetória.

Para o secretário, é curioso que a, despeito de nem sempre terem os instrumentos técnicos e críticos para tanto, os jovens sejam tão participativos. Ele dá como exemplo uma experiência bem sucedida no Rio de Janeiro, a Solução Educacional do Ensino Médio. Nela, os jovens são o centro: eles escolhem o que vão estudar e organizam o processo de conhecimento. Ao dar uma maior flexibilidade à grade curricular do Ensino Médio, o aluno toma as rédeas de seu processo educativo, adaptando-o para seus desejos como indivíduo e futuro profissional.

Os três anos de Ensino Médio são também o período em que os estudantes se preparam para ingressar em universidades. Remodelar a grade curricular impacta diretamente nos métodos de avaliação, como o Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM. Nos primórdios de sua aplicação, o ENEM trabalhava competências em áreas diversas. Para ser utilizado como ingresso para universidades públicas, adotou os conteúdos disciplinares comuns. Essa inversão seria desfeita caso o jovem pudesse trilhar um caminho próprio desde o Ensino Médio. “O ENEM tem de se adaptar a base curricular, não o contrário”, afirma Antônio.

Medidas progressistas sempre geram resistência – principalmente o medo de que, dando abertura para competências mais abrangentes, o conteúdo fique defasado. É necessário desfazer a divisão entre conteúdo e competência, pois eles não são excludentes, funcionando melhor quando integrados. Para transpor os abismos da evasão escolar e do desinteresse pelos estudos, a educação do Ensino Médio não deve mais dar pequenos pulos, e sim saltos imensos rumo a uma educação plural e integral no século XXI. “Temos de interver a lógica do Ensino Médio: o jovem ensina o que ele quer aprender”, finaliza o vice-presidente.


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