Notícias

06.09.2016
Tempo de leitura: 4 minutos

Como as tecnologias e os objetos digitais podem transformar a educação indígena

Distante de qualquer estereótipo, a pedagogia indígena alia conhecimentos tradicionais com maneiras inovadoras de usar materiais digitais.

Distante de qualquer estereótipo, a pedagogia indígena alia conhecimentos tradicionais com maneiras inovadoras de usar materiais digitais.

Olhos atentos, o assovio na ponta da língua, nas mãos um gravador. O professor que tem tudo na memória na hora da caçada de pássaros quer transmitir seus conhecimentos para os alunos, e caminhando no fio entre tradição e modernidade, recorda sua empreitada na mata com o gravador. A sala de aula onde leciona é como qualquer outra, ansiosa para aprender. A diferença é que outras escolas não são bilíngues e também não sofrem o estereótipo a que são submetidas escolas em comunidades tradicionais. Quem sabe da escola indígena é o indígena, e ele sabe que ela é muito apta à inovação.

A educação indígena é garantida pela Constituição Brasileira de 1988; está previsto na Resolução nº5, Art. 1º que todas as populações indígenas têm direito a uma educação escolar com especificidades próprias a sua realidade. As aulas devem ser bilíngues, para manutenção e preservação da língua materna; também deve haver uma promoção da interculturalidade, para que os conhecimentos que vem de fora da comunidade consigam potencializar e agregar ao que é produzido em seu meio. Para que isso aconteça, é fundamental que os educadores responsáveis sejam indígenas e participem ativamente, se possível liderem, qualquer discussão e realização de um plano curricular.

Contudo, a realidade das 3085 escolas indígenas é muito diferente. “A legislação prevê a participação de professores indígenas, mas infelizmente os currículos são organizados a partir das secretarias estaduais de educação. Há uma luta acontecendo e educadores indígenas se organizando em função de uma educação mais específica e diferenciada, mas é difícil”. As palavras são da professora e pesquisadora Maria Isabel Alonso Alves. Ela é autora do artigo Tecnologias e Formação de Professores Indígenas, onde acompanhou a licenciatura de educadores em Rondônia.

Assim como a tecnologia tem alterado a realidade das populações urbanas, as comunidades indígenas também têm em seu cotidiano os telefones móveis, computadores e acesso à internet. Muitas das escolas contam com laboratórios de informática.

Durante o acompanhamento dos educadores, Marina pode perceber a vontade que os professores possuíam de usar as tecnologias em classe, tanto para fazer uma ponte com o universo não indígena como para manutenção de suas próprias culturas. Os usos são os mais variados, desde o manejo básico dos computadores até usar o GPS para mapeamento de território. O próprio uso de dispositivos de gravação, como no caso do professor que gravou a caçada, mostra potências que uso de TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) podem encerrar.

Francisca de Magalhães Melo, coordenadora do núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) de Cruzeiro do Sul, no Acre, trabalha na implementação de tecnologias dentro de escolas rurais e indígenas. Ela comenta outras experiências positivas, pautadas também na pedagogia bilíngue, como a que aconteceu na Escola Ixubay Rabui Puyanawa, em Mâncio Lima, também no Acre. “Os professores e alunos indígenas sempre se mostram interessados e se apropriam do conteúdo. Em aula, por exemplo, eles desenhavam os animais na lousa digital e depois os nomeavam em suas duas línguas”.

As tecnologias podem fazer com que os naturais choques culturais entre culturas não tradicionais e comunidades indígenas sejam motivo de fortalecimento, estabelecendo pontos de diálogo que não são simples quando se fala em territórios físicos e geográficos a serem transpostos. Um laboratório no meio da comunidade serve tanto para preservar uma língua que vai sendo diluída pelo tempo ou pelos poucos falantes quanto para conectar a juventude com o universo que pode auxiliá-los a compreender e melhorar o seu entorno.


Outras Notícias

Tecnologia e Educação: 9 tendências que estão transformando o ensino e aprendizagem

29/04/2025

Tecnologia e Educação: 9 tendências que estão transformando o ensino e aprendizagem

As novidades combinam personalização, aprendizado adaptativo, modelos híbridos e realidade virtual para engajar estudantes e prepará-los para o mundo cada vez mais digital

Mês da Mulher: conheça três profissionais com trajetórias inspiradoras na tecnologia

25/03/2025

Mês da Mulher: conheça três profissionais com trajetórias inspiradoras na tecnologia

Numa área majoritariamente masculina, três vozes femininas detalham o caminho que escolheram para vencer os desafios profissionais, conquistar espaço e motivar mais mulheres

No Dia da Escola, saiba como a tecnologia pode promover uma educação mais inclusiva

14/03/2025

No Dia da Escola, saiba como a tecnologia pode promover uma educação mais inclusiva

Para o especialista Albino Szesz, infraestrutura, recursos, formação e mobilização são a base para uma educação que alia inovação e inclusão, tendo o professor como principal agente dessa transformação

Conheça 10 ferramentas de IA para apoiar educadores e estudantes

06/03/2025

Conheça 10 ferramentas de IA para apoiar educadores e estudantes

Diante de ampla oferta de plataformas, recursos e aplicações, especialistas indicam as ferramentas de IA mais adequadas e confiáveis para uso em sala de aula

O que é pensamento computacional e como aplicá-lo em sala de aula?

27/02/2025

O que é pensamento computacional e como aplicá-lo em sala de aula?

Presente na BNCC Computação, é um dos eixos que norteiam as diretrizes para o desenvolvimento de habilidades essenciais para a resolução de problemas e a compreensão do mundo digital

O uso do celular como ferramenta pedagógica nas escolas

14/02/2025

O uso do celular como ferramenta pedagógica nas escolas

Alinhado aos objetivos educacionais, o aparelho pode ser um importante aliado nos processos de ensino e aprendizagem