Nota técnica "Educar na era da Inteligência Artifical: Caminhos para a BNCC Computação"

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13.10.2015
Tempo de leitura: 6 minutos

Como o Dia dos Voluntários me ensinou que eu ainda tenho muito a aprender

Por Cecília Garcia

Foi uma entrevista com o educador Braz Nogueira que me inspirou a escolher a creche Ipê, dentro da ONG Liga Solidária.  Ainda que eu já tivesse ouvido palavras semelhantes de outros entrevistados em minha jornada como jornalista de educação, a paixão dele ao proferi-las me instigou. Ele dizia que crianças são seres completos, capazes de tomar decisões conscientes e inteligentes desde a tenra idade. Trabalhando um dia com pequenos de um até três anos, confirmei o poder dessa afirmação.

O curto trajeto que separava o metrô Butantã da ONG Liga Solidária, localizada no bairro Jardim Educandário, foi silencioso. Criávamos grandes expectativas que nos deixavam pensativos. Por todo o país, 4000 voluntários, que impactariam 46 ONGS e 25 mil pessoas também deveriam estar sentindo o mesmo frio na barriga.

Há mais de 90 anos, o Educandário Dom Duarte, que abriga a ONG que ajudaríamos, tem sido uma referência dentro da comunidade, oferecendo serviços de qualidade para jovens, adultos e idosos. À medida que nos aproximávamos do CEI Ipê, ouvíamos as risadas agudas e os passinhos apressados. A casa atende diariamente 143 crianças matriculadas e algumas delas vinham nos receber, entre curiosas e ressabiadas. Afinal, éramos adultos bobalhões e sorridentes. As mulheres responsáveis pelo lugar nos pediram então para que escolhêssemos com que sala queríamos trabalhar. Eu não tive dúvida: queria ficar com as crianças de 1 a 3 anos, as mesmas que nos haviam recebido no portão.

Meninas e meninos de canelas sujas de terra receberam a mim e outras duas voluntárias curiosas, dispostas a brincar. Demos uma pausa no almoço e depois fomos trabalhar com as crianças. Foi um mutirão de pintura na bochecha dos pequenos Muito falantes e gestuais, se algo lhes desagrada deixam claro e, se querem algo, vão buscar. Cabe a um time dedicado de educadoras a tarefa de incentivá-las, mas também ensiná-las o que podem e não podem fazer.

Encerramos nosso contato com elas de maneira doce. Depois de uma chuva de bolinhas de sabão, com as quais elas caçavam pela sala, entregamos as 150 bexigas que confeccionamos. De olhos brilhantes, elas as receberam, começando a brincar logo em seguida. É um brinquedo simples e singelo, mas que as deixava muito felizes. Eu senti ter dado muito pouco, ainda que tenha feito todas as crianças sorrirem. Fui desajeitada e, com certeza, queria mais tempo para conhecê-las melhor. Mas como aprendi! Aprendi mais naquela sala decorada de animaizinhos e balões do que em muitos lugares com adultos. Crianças não precisam dizer muito para ensinar: é só estar com elas que você já sente sua alma renovada.

O encanto que senti durante todo o dia, os meus companheiros voluntários também compartilharam. Ao longo do dia, tive a oportunidade de trocar miudezas com alguns deles, pois no calor do momento é que as melhores histórias são contadas. Como foi com o caso da Alessandra Mondenini. Ainda que estivesse acostumada a participar de trabalhos voluntários, o encanto para ela sempre se renova.

Este ano, Alessandra foi uma das voluntárias da ONG Casa Transitória. Assim como a Liga Solidária, esse espaço é o coração de sua comunidade, prestando serviços que vão desde atividade para crianças até um lar para 22 idosas. Uma delas presenteou Alessandra com uma delicada lembrança em crochê. “O grande legado desse dia, além das ações concretas que fizemos lá, como pintar paredes e reformar espaços, é termos o contato com a comunidade e sentir que a nossa presença e carinho fizeram diferença, conta emocionada.

O voluntário convidado Cristiano Dias se comoveu com a orquestra mirim que recebeu ele e outros 400 voluntários no Centro Social Carisma. “O sorriso estampado no rosto e a alegria dessas crianças era como o espelho de cada um dos voluntários presentes, felizes em poder contribuir com um dia de trabalho e dedicação”. Nessa instituição, os colaboradores executaram tarefas como pintura, consertos, jardinagens e organizações de bazar para reformar o espaço e torná-lo mais harmonioso para quem o frequenta diariamente.

Para Bruno de Palma, também colaborador convidado, o que muito chamou a atenção foi o afinco com que os líderes do comitê trabalharam durante todo o dia. Na ONG Casa de Cultura e Cidadania, as tarefas exigiam bastante esforço físico e envolviam reparos e construção. Para que os voluntários se sentissem sempre motivados a alcançar suas metas, os líderes andavam para lá e para cá distribuindo água, alimentos e muitas palavras de incentivo.

A voluntária Luciana Alcântara visitou três ONGs em Curitiba e, ainda que os trabalhos desenvolvidos nelas tenham sido distintos, ela enxergou um ponto em comum: o espírito de cidadania. Ela visitou a Escola 29 de Março, onde um mutirão de colaboradores dedicados arregaçou as mangas para pintar, construir espaços recreativos e interagir. Ela também conheceu o trabalho esportivo desenvolvido na Escola Vivian Marçal, na qual os voluntários participavam de gincanas interativas e inclusivas com os portadores de deficiência. O último lugar que visitou, a Associação Encontro com Deus, teve um gosto de despedida. Após a conclusão das reformas, os alunos que frequentam o espaço entraram nas salas emocionados, sorrindo e contando uns para as outros: “Eu sempre quis que a sala ficasse desse jeito”. E as mães que moram em outra ala da casa com crianças de colo, ficaram emocionadas com a pintura e reorganização dos ambientes de convivência e os brinquedos (piscina de bolinha e escorregador) que os filhos ganharam para brincar.

A minha narrativa carrega muito do que eu ouvi desses colegas colaboradores. Afinal, quando somadas, as experiências trazem a verdadeira dimensão da comoção que é o Dia dos Voluntários. Depois de um encerramento emocionante, com apresentações de dança de crianças e idosos, além de voluntários agradecendo o esforço dos mais 300 colaboradores presentes, eu tomei o ônibus de volta. Não sei se me sentia outra pessoa, mas me sentia mais próxima à menina que fui, que tinha uma curiosidade natural pelo mundo e uma fome de aprender. Carrego uma certeza: ganhei muito mais do que dei e saí cheia de um conhecimento que só a inocência e o compartilhamento ensinam.


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