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01.12.2016
Tempo de leitura: 7 minutos

Projeto colombiano incentiva a leitura na escola e compartilha suas vivências e reflexões

Crédito: Shutterstock
Por Sandra Milena Carvajal Alarcón, do Palabra Maestra,
com tradução de Caio Zinet, do Centro de Referências em Educação Integral.

“Você pode ter muitas riquezas materiais: cofres com joias e baus de ouro. Porém mais rico do que eu você não poderá ser: tive uma mãe que leu para mim”. Dessa forma começa a introdução do livro: “Manual de leitura em voz alta”, de Jim Trelease, onde o autor apresenta suas pesquisas sobre leitura em voz alta e os resultados surpreendentes, incluindo testemunhos de pessoas que relatam uma mudança significativa na relação com a leitura. Os livros nos levam a mundos imaginários e nos permite viver novas realidades, conhecer outras possibilidades e se relacionar de múltiplas maneiras com os autores.

Somos um grupo de pesquisa que nasceu em 2010 como clube de leitura na Sede de Chápata do Instituto de Educação El Horro, na cidade de Anserma Caldas, Colômbia. Inicialmente buscamos compreender o que torna uma pessoa leitora e criamos um grupo para entender porque se exige que os estudantes leiam nas escolas e porque muitos alunos não leem por vontade própria. Dessa forma nos inscrevemos no programa de pesquisa Onda Colciencias, no departamento de Caldas, com o nome “Leitores por vontade própria para a vida”.

Para a pesquisa, organizamos um grupo de estudantes do ensino fundamental 2 (6º ao 9º anos) para compreender quais porque alguns estudantes não gostavam de ler. Nas matérias de humanas se pediam aos alunos que lessem, com o argumento de que a seleção dos textos fosse feita livremente, mas, ainda assim, ler não era um ato de escolha, mas sim de obrigação.

Com o passar do tempo, compreendemos que o interesse de várias das crianças não era ler e usavam o argumento da obrigação para resistir. Indo mais além, percebemos ao longo da pesquisa que faltavam modelos já que nas suas casas, a maioria dos estudantes não tinha acesso a livros e nunca se havia lido para eles em voz alta, portanto, a única oportunidade de conviver com livros acontecia no ambiente escolar.

O professor de Linguagens, José Fernando Arias, começou, então, a ler em voz alta em todas as suas aulas. Depois disso, nosso proposito mudou de “animar os estudantes a ler” e se transformou em “leitores para a vida”.

Com isso, a vida institucional da escola mudou. Todos os dias de manhã acontece uma revolução: meninas e meninos, jovens, professores e professoras, iniciam uma maratona em busca das letras. Os alunos saem de suas salas de aula, os maiores fazem leitura em voz alta para os pequenos, são feitas trocas de livros e de anotações. Houve mudanças nos grupos, em seus integrantes e na forma de trabalhar a leitura na escola.

Os demais professores do instituto se uniram de múltiplas formas, viabilizaram tempos e espaços para a leitura diária. Vários estudantes do 4º e do 5º ano do ensino fundamental também queriam ler para os menores e a proposta passou a integrar o Plano Nacional de Leitura e Escrita (PNLE).

 

 

Diariamente, os integrantes do grupo da sede de Chápata compartilham algumas de suas vivências e reflexões nos diários de pesquisa. Seus registros vão desde informações básicas, como o livro lido, as estratégias usadas e as “características comportamentais” em que se descreve um pouco da situação vivida com os alunos para quem eles leem.

Tais descrições continham as reações das crianças, as verbalizações do que entendiam e do que compreendiam como avanços de leitura etc.

Tendo em conta que existem diversas formas de se aproximar e viver um texto, e reconhecendo que a produção, oral e escrita se enriquece com múltiplas estratégias, em maio deste ano iniciamos um novo processo de ensino e convidamos os estudantes a imaginarem e criarem novas histórias a partir de suas leituras por meio de três estratégias.

A primeira foi denominada texto imaginativo, no qual se apresenta aos alunos algumas partes do livro como o título e/ou a capa, com a intenção de promover a construção de uma história a partir desses elementos. A ideia é que eles façam uma espécie de previsão verbal daquilo que esperam encontrar na história do livro, qual a característica dos personagens, que imaginem quais situações e lugares estarão presentes e que tragam para a sua realidade pessoal o que o título ou a capa diz.   No exercício de imaginar situações, o papel das perguntas que se devem formular para levar as crianças a formular uma história é central. Os “quens”, os “quês”, os “quandos”, os “comos” , os “ondes”, os “porquês” e os “para quês”. Todas aquelas palavras interrogativas que abrem a possibilidade de descrições literárias servem como um ponto de partida da criação, estimulando a imaginação.

A segunda maneira de abordar os livros e promover a imaginação é fazer leituras de imagens. Aproveitando a riqueza das ilustrações do texto, a forma como se apresentam, a representação conceitual que se cria a partir delas, as sequências (sim, elas existem), os detalhes, as cores, cheiros e sabores que se podem construir a partir dessa imagem, os conhecimentos prévios de emoções, as relações com a realidade. Tudo que produz uma imagem em nosso cérebro se aproveita para que se construa também uma história.

 

 

Logo depois disso praticamos a leitura em voz alta. O exercício complexo nos permite entrar em um mundo de personagens, emprestar as nossas vozes para que os outros conheçam o o que os autores criam para si e para os outros.

Ler em voz alta requer lidar com nuances de voz para atingir o objetivo, exige muitas criatividade na hora de apresentar os textos e deve ser acompanhado do uso da linguagem corporal, já nossa voz, sozinha, não conta uma história se não forem usados os nossos rostos, mãos, elementos que estão ao nosso redor e no das crianças para as quais estamos lendo. No final das contas, é preciso ler com tudo, com todos e para todos e todas.

Em alguns casos, utilizamos de uma quarta estratégia. Como um exercício que busca saber o quanto as histórias criadas e lidas coincidiram. Voltamos aos cenários iniciais criados para conhecer os elementos comuns para saber quem “acertou”. Sendo necessário deixar claro que não existe acerto e erro e somente um jogo de dizer “ta vendo, eu tinha razão”, “isso fui eu quem disse”, “assim mesmo que eu imaginei”, “nada a ver com o que eu achei”, “eu queria que”.

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Durante o tempo da experiência, deixamos marcas nas vidas dos alunos e dos professores. Uma forma de avaliar o que estamos fazendo, buscar melhorar o que fizemos e reconhecer as conquistas é medir e sistematizar o impacto. Para isso foram feitas pesquisas que foram respondidas pelas crianças e leitores. Para tabular as respostas, nos apoiamos na Matemática e o docente da área.

Atualmente usamos recursos digitais e estamos explorando outras maneiras de aproximação dos livros, compartilhando-as com o mundo. É por isso que a criação de diários virtuais se faz necessária; e para aqueles que desfrutam escutar de outras vozes a criação de grandes autores, para os que têm acesso limitado aos livros impressos, para os que têm dificuldade de ler, estamos buscando audiolivros que podem ser baixados em celulares.

Durante o tempo do projeto se construíram histórias e o mundo todo pode ver nossos avanços a partir das publicações em blogs institucionais e nas páginas do Diário La Patria, aspectos dessas histórias podem ser lidos no blog: http://lectoresparalavidachapata.blogspot.com  

 


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