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11.12.2020
Tempo de leitura: 5 minutos

Quebradinha: a estética da periferia em destaque

Artista da zona sul de São Paulo recria casas com inspiração em seu entorno que impressionam pela riqueza de detalhes e valorizam a singularidade e diversidade da periferia

A casa de número 20 tem as paredes verde limão. Na fachada há um letreiro: Dr. Cel. Na parede estão enumerados alguns itens: pendrive, capinhas, película de vidros, deixando evidente que se trata de um comércio de venda de itens para smartphones. No portão de ferro, um grafite desenha o nome Nenê. O portão lateral, à esquerda, é coberto com uma chapa de ferro e protege o corredor de entrada da casa. Ao fundo, há um tanque para lavar roupas. Na parede à direita, ao lado da porta, um varal coleciona máscaras faciais coloridas de pano, suspensas por pregadores de roupa. Em frente ao comércio, dois sacos transparentes com lixo esperam para serem recolhidos. A riqueza de detalhes impressiona e parecem pertencer a uma casa real na periferia, mas é uma miniatura.

“A Quebradinha é uma série de esculturas feitas à mão a partir de materiais reciclados, que reproduz em miniatura a singularidade periférica”, assim resume o autor, o fotógrafo Marcelino Melo, conhecido por apelidos como Nenê e Menino do Drone, no perfil da Quebradinha no Instagram.

Desde 2019, ele desenvolve essas esculturas que são, na verdade, um registro de memória. Segundo o escultor, são, principalmente, um registro sobre a periferia. O reconhecimento veio em meio à pandemia, pelas redes sociais. Até mesmo a fanpage da prestigiada Bienal de São Paulo fez uma referência à manifestação artística.

“Não gosto de chamar de projeto, é um lugar meu, pessoal onde tento retratar a grandiosidade do que é a periferia – não só de São Paulo, mas como do Brasil inteiro. Em diferentes formas, em suas diferentes cores, em suas manifestações”, afirmou Nenê em fala para o Festival Favela em Casa.

Matérias-primas simples, como argila, tinta, garrafas pet, retalhos de tecido, papelão, e papel machê – dão vida e reproduzem a estética do que o artista vê pelas ruas. Do campinho e das vias, que muitas vezes são de barro, e se mesclam com o laranja dos tijolos, ao contraste do cinza chumbo das telhas, que cobrem as construções.

“A Quebradinha é isso, uma espécie de banco de dados. É diferente da fotografia periférica, diferente da literatura periférica, diferente desse monte de manifestação artística que a gente tem por aqui”, complementou o artista em declaração para o mesmo festival.

 

O fotógrafo Marcelino Melo, conhecido por apelidos como Nenê e Menino do Drone

O fotógrafo Marcelino Melo, conhecido por apelidos como Nenê e Menino do Drone

Em um dos vídeos do seu canal no Instagram, o artista conta algumas curiosidades sobre a Casa 03. Separamos três delas:

1 – Bar do Lagoa: o sobrado de dois andares pintado de amarelo vivo tem no bar o elemento principal e é um resgate da infância de Nenê, em Carneiros, no sertão de Alagoas, onde o pai dele, que faleceu há cinco anos, tinha um bar. “Alagoanos, geralmente, quando chegam a São Paulo, as pessoas costumam chamar de lagoa. Então essa foi uma forma de eu colocar o meu ‘véio’ aqui”

2 – Fiado só Amanhã: a frase está estampada na parede do bar em miniatura e faz alusão a uma promessa de pendurar a conta no bar que jamais será cumprida. “Lembro de quando fizeram essa frase lá no bar em Alagoas e eu achei genial essa ideia!”.

3 – A caixa de som: no fundo do bar, na parede, se destaca o aparelho para ouvir música. “Um clássico em boteco era estar assim mesmo, no alto. Eu gostava de ouvir muito Luiz Gonzaga e quando o bar estava vazio eu deixava a caixinha ‘fervendo’ o som”.

Rifas das obras e o desejo de fazer uma exposição

Aos 26 anos, Nenê expressa nas obras as lembranças da infância em Carneiros (AL) e a vivência como morador do Jardim Piracuama, no distrito do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo. O próprio nome Quebradinha nasce do dia a dia do bairro.

“Fiquei em dúvida antes de batizar. Antes ia ser Periferia, até que chegou o nome Quebradinha. E é uma gíria, pelo menos aqui na zona sul de São Paulo. Quando você está ‘tranquilão’, você está ‘de quebradinha’. Então é algo tranquilo, de boa, sabe?”, explicou Nenê para o programa É de Casa, da Rede Globo, em novembro.

A atuação como fotógrafo ajuda a explicar de onde vem tanta criatividade e as referências para compor cada mini construção, já que não são reproduções de algo real, mas criações do imaginário de Nenê. Há cinco anos, ele vem realizando séries fotográficas aéreas da zona sul, daí o apelido de Menino do Drone. Durante a pandemia, por exemplo, está registrando as mudanças ocorridas no cemitério São Luiz.

E foi justamente o período de quarentena que fez a série Quebradinha se materializar com força, já que a solução para manter o isolamento social, e ajudar a passar o tempo, foi trazer a rua para a pequena casa que divide com a mãe, criando um ateliê improvisado.

Apesar das casinhas não estarem à venda, o artista tem organizado rifas de algumas de suas criações e já projeta os próximos passos. “Vou comercializar, mas só depois que fizer minha primeira exposição. E quero fazer aqui na zona sul. Se eu conseguir, né, porque a gente ainda está num período de pandemia. Mas vamos fazer as coisas no seu tempo, sem muita pressa, vai dar tudo certo!”, contou ao apresentador Manoel Soares, do É de Casa.

Foto de uma das obras de Nenê: uma casinha dentro de uma lâmpada.

Em uma das obras que mais impressionam, Nenê levou três meses para construir uma casinha dentro de uma lâmpada. Com uma técnica especial conseguiu montar tudo dentro do objeto de vidro sem precisar desmontá-lo.


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