Nota técnica "Educar na era da Inteligência Artifical: Caminhos para a BNCC Computação"

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20.07.2022
Tempo de leitura: 6 minutos

Tudo o que você precisa saber sobre criação de games em sala de aula

A criação de games em sala de aula é um recurso educativo capaz de gerar alto engajamento e desenvolver competências e habilidades dos estudantes.

Alunos jogam game em computador, na sala de informática, em escola pública de São Paulo.

Muito conhecida por jovens estudantes de todo o Brasil, a linguagem dos games vem ganhando espaço na educação – seja através de estratégias de gamificação, do uso de jogos educativos ou da própria criação de games em sala de aula.

Também conhecida como game design, a criação de games em sala de aula é a estratégia de construção de jogos com o objetivo de desenvolver competências e habilidades. Este desafio aprofunda conceitos e gera alto engajamento dos estudantes, de acordo com especialistas, formadores e professores.

O mercado de games está aquecido em todo o mundo, e isso se aplica à educação. De acordo com a Pesquisa Game Brasil (PGB), em 2022  três entre cada quatro brasileiros usam celulares, videogames ou computadores para jogar. Já um estudo feito pela consultoria Metaari em 2019 estimou que, até 2024, o setor de aprendizagem baseada em jogos deve crescer a uma taxa de 33,2% somente na educação básica, com receita quadruplicando para US$ 24 bilhões.

 

Criação de games em sala de aula: estratégia ativa de ensino-aprendizagem 

O desenvolvimento e o uso de jogos na educação são defendidos por pesquisadores e especialistas das áreas de inovação em educação, como Julci Rocha, diretora da Redesenho Educacional. “Os jogos têm muitas características interessantes que decorrem de seu poder imersivo e de engajamento. Quem nunca viu o tempo passar entretido com um jogo?”, questiona Julci. “Esse caráter engajador é algo que pode ser um aprendizado para as metodologias de ensino.”

Como estratégia ativa de ensino-aprendizagem, a criação de games em sala de aula deve favorecer a construção do conhecimento científico nos estudantes de diferentes maneiras, segundo Julci:

  •       proporcionando a vivência de situações reais ou imaginárias;
  •       propondo desafios;
  •       instigando-os a buscar soluções para as situações que se apresentam durante o jogo;
  •       levando-os a raciocinar, trocar ideias e tomar decisões.

O processo de criação de games em sala de aula é muito potente, pois alia o trabalho com determinados temas curriculares, a introdução a ferramentas que possibilitam o desenvolvimento e o estímulo à criação dos estudantes.  “É a criatividade em seu ponto máximo, que é o ápice da potência humana e o nível mais alto da aprendizagem, quanto o estudante coloca à prova todo o seu repertório”, afirma o game designer, pesquisador e professor Jean Tomceac.

A formação docente em games 

Para que tenha condições de aplicar a criação de games em sala de aula, o professor deve vivenciar experiências com jogos físicos e digitais. “As mecânicas e os elementos de jogos são fáceis de serem reconhecidos pelos professores”, afirma Julci. Ela sugere que os docentes joguem um game digital um pouco mais elaborado – como o Clash Royale – e busquem identificar quais são essas mecânicas e elementos.

Em um cenário onde grande parte dos professores não possui fluência digital, é necessário que haja uma aproximação entre eles e os games. “Como perder o medo da máquina e criar mais intimidade com o jogo? Isso só se resolve jogando e ativando no professor o lado curioso que todos têm”, afirma Jean.

Em seguida vem a etapa de aproximar os games das práticas pedagógicas. “Não basta inserir o jogo sem ter um objetivo pedagógico por trás”, aponta o professor Jeferson Heleno Tsuchiya, coordenador de Tecnologias Educacionais da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Jefferson lidera a formação docente em uso de games para a aprendizagem que o órgão passou a realizar em 2018. “Nesse processo, tanto a BNCC quanto o Currículo Paulista são guias de referência para criar, a partir do jogo, um ambiente de aprendizagem.”

Crédito: Aline Regina Gonçalves

Etapas para a criação de games em sala de aula 

Inspirado no Quest to Learn, Julci sugere algumas etapas a serem consideradas pelos professores para a criação de games em sala de aula:

  • Disparador: “Exploração de diferentes assuntos referentes ao tema escolhido, que servirão de subsídio para os tópicos do jogo.”
  • Definição: “É preciso traçar metas de aprendizado específicas para o jogo (por exemplo, aprofundar os conhecimentos sobre determinado tema, exercitar a empatia, etc.).”
  • Ideação: “Brainstorm de ideias sobre os jogos (Objetivo: onde chegar e como vencer; Desafio: antecipar qual a forma que os envolvidos jogam, para que possa traçar estratégias; Mecânica: como o jogo funciona; Componentes: peças do jogo; Regras; Espaço).”
  • Prototipação: “Projetar e desenvolver um ou mais protótipos do jogo (atentar aos materiais necessários).”
  • Playtest: “Jogar para experimentar o protótipo do jogo em pequenos grupos e obter feedback. Observar a efetividade das mecânicas, das regras, etc. Refinar ou reelaborar o jogo com base no feedback dos jogadores.”
  • Luderia: “Promover a experimentação dos jogos, entre os estudantes, as turmas da escola ou com um público diferente. Coletar observações, respostas, interações, aprendizagem, dificuldades, etc.”

 

Recursos digitais para a criação de games em sala de aula 

Os recursos digitais que podem ser usados para essa criação são bem variados. A escolha deve levar em consideração o tipo de jogo a ser criado. As plataformas sugeridas por Julci são:

  • Scratch – “Muito conhecido dos professores, especialmente quem trabalha com ensino de programação. Recurso bem robusto, que permite criar bastante coisa, mas é necessário um certo conhecimento para começar a usar.”
  • Flippity – “Para criação de jogos mais simples, como palavras cruzadas, bingo, forca, jogo da memória, etc.”
  • Wordwall – “Parecido com o Flippity, para criação de jogos mais simples.”
  • Classdash – “Desenvolvido pelo professor brasileiro Tiago Eugênio, traz templates para a elaboração de jogos que podem ser um ponto de partida para criação de conteúdo autoral com facilidade.”

Na prática 

Professora da E.E. Prof. Arthur Wolff Netto, da rede pública de São Paulo, Aline Regina Gonçalves aplicou os conhecimentos adquiridos na formação de uso de games em sala de aula oferecida pela secretaria. “Sempre gostei de trabalhar com jogos, focando no currículo e trazendo algo lúdico”, afirma Aline.

“Essa metodologia foi transformadora. Consegui trabalhar tudo o que precisava, incluindo a maioria dos conceitos de matemática.” Na prática, em que seus alunos utilizavam a base oferecida pelo jogo Minecraft para criar outros games, também foram trabalhados conceitos de Língua Portuguesa e História.

“Não se deve ficar no jogo pelo jogo. Com uma estratégia pedagógica, o game traz o aluno para o aprendizado. Eles se engajam e descobrem novas potencialidades, surgindo conhecimentos implícitos que não conseguimos perceber com a metodologia tradicional”, revela a professora.


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