Informe Social 2024: conheça nossas ações em prol da educação pública!

Notícias

01.12.2016
Tempo de leitura: 5 minutos

O histórico e as formas de combate ao bullying no Brasil

Violência física, apelidos constrangedores, referências preconceituosas e outros comportamentos agressivos são formas pelas quais se pratica o bullying. Se hoje o bullying é parte da agenda pública é porque, na década de 1970, o pesquisador sueco Dan Olweus passou a estudar o assunto, que ganhou notoriedade nos anos 1980, chegando ao Brasil no final dos anos 1990.

No entanto, agressões deste tipo já eram identificadas nas escolas nos séculos XVIII e XIX, quando o comportamento era visto como “natural”, inerente ao ser humano, tanto é que há descrições de professores participando de dinâmicas hoje entendidas como bullying.

Essas descrições mais antigas relatam apenas agressões físicas realizadas por meninos contra seus colegas, geralmente mais novos.

Os relatos atuais descrevem também agressões mais elaboradas, envolvendo violência psicológica, por exemplo, por meio do isolamento de uma pessoa do grupo.

Entendendo o bullying
A dinâmica do bullying é marcada pela presença de alguns atores: autor, alvo e testemunhas. O autor é quem ataca a criança, supostamente mais fraca, com o objetivo de causar dor, constrangimento ou humilhação e o alvo é quem sofre as agressões.

O fenômeno é caracterizado por ações agressivas, repetitivas e imotivadas, contra uma pessoa específica. Em regra, o alvo se vê como incapaz de se defender da agressão.

Diferentemente das brigas, discussões ou desavenças, o bullying é reiterado, deliberado e intencional

2

.

A repetição aumenta o potencial lesivo das agressões, reafirma seu conteúdo e é capaz de gerar um sentimento de abandono e insegurança na criança que é alvo.

Outra característica relevante é a dificuldade de identificação de casos de bullying, pois as crianças, especialmente as que são alvo da agressão, escondem dos adultos os acontecidos e relutam em buscar ajuda.

Assim, para combater o bullying, é necessário identificá-lo ativamente, além de cultivar um ambiente em que a criança sinta-se acolhida o suficiente para expor sua situação.

Lei de combate à Intimidação Sistemática (bullying)
A recém-aprovada Lei nº 13.185/16, além de trazer uma definição legal para o bullying, ali denominado “intimidação sistemática”, cria uma política nacional de combate à prática e assegura atendimento psicológico aos alvos, impondo a escolas, clubes e agremiações o dever de “assegurar medidas de conscientização, prevenção, diagnóstico e combate à violência e à intimidação sistemática”.

Assim, a nova legislação esclarece que escolas, clubes e agremiações recreativas têm responsabilidade sobre o bullying que ocorra sob seus auspícios. Além de obrigá-los a atuar de forma a evitar a ocorrência das agressões e identificá-las ativamente.

Tal previsão é importante, pois, como dito, as crianças por vezes escondem o bullying dos adultos, que, a seu turno e não raramente, erram ao tratá-lo como algo normal. Com a nova lei, fica claro que as escolas, agremiações e clubes não mais podem ignorar as agressões.

Da mesma forma, devem promover a conscientização das crianças sobre o bullying, inclusive para orientá-las sobre como agir diante das agressões.

Consequências do bullying
O alvo é quem arca com as mais doloridas consequências da prática, que vão do estresse ao suicídio, nos casos mais extremos, passando pela baixa autoestima, autoflagelação e evasão escolar. Do ponto de vista social, é comum o afastamento dos colegas, que evitam o contato com a vítima, com temor de serem também alvos do bullying, agravando o sofrimento do alvo.

É importante lembrar que o autor também é afetado pela violência, em especial se nenhuma medida é tomada para interrompê-la. A vivência do papel de agressor é relacionada a atitudes antissociais na vida adulta, há estudos que apontam a correlação entre praticar bullying na infância e condenações criminais e envolvimento em casos de violência doméstica

3

.

Menos lembradas, mas também afetadas, são as testemunhas da violência. Sim, mesmo as crianças que não têm ligação direta com a agressão são afetadas. Os sentimentos variam entre os diferentes indivíduos, mas a literatura descreve medo (de ser vítima no futuro), desamparo, raiva do agressor e culpa por não agir para evitar a violência. Dessa forma, como resultado, observa-se nas testemunhas reações semelhantes às dos agressores como a evasão escolar.

Assim, estando claro que o bullying traz consequências negativas a todos os envolvidos, o cumprimento da Lei nº 13.165/15 contribui para a efetivação do Artigo 227 da Constituição Federal, que afirma ser “dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”

Guilherme Perisse é advogado do Projeto Prioridade Absoluta, do Instituto Alana.

1

Koo, H. (2007). A Time Line of the Evolution of School Bullying in Differing Social Context. Asia Pacific Education Review, Vol. 8, No. 1, 107-116, disponível em http://files.eric.ed.gov/fulltext/EJ768971.pdf

2

Freire, Alane Novais, & Aires, Januária Silva. (2012). A contribuição da psicologia escolar na prevenção e no enfrentamento do Bullying. Psicologia Escolar e Educacional, 16(1), 55-60. https://dx.doi.org/10.1590/S1413-85572012000100006

3

Stephan, Francesca, Almeida, Adriana Aparecida de, Salgado, Fellipe Soares, Senra, Luciana Xavier, & Lourenço, Lélio Moura. (2013). Bullying e aspectos psicossociais: estudo bibliométrico. Temas em Psicologia, 21(1), 245-258. https://dx.doi.org/10.9788/TP2013.1-17

 


Outras Notícias

Ferramentas digitais como aliadas da gestão escolar

03/07/2025

Ferramentas digitais como aliadas da gestão escolar

O uso estratégico de tecnologias digitais na administração educacional fortalece o planejamento, aprimora processos e apoia a atuação de gestores nas redes públicas de ensino

Informe Social 2024: iniciativas em prol de uma educação pública mais inclusiva e digital

18/06/2025

Informe Social 2024: iniciativas em prol de uma educação pública mais inclusiva e digital

Em 2024, a Fundação Telefônica Vivo reafirmou seu compromisso com a educação pública, promovendo inclusão e inovação nas escolas por meio da tecnologia

Dia dos Voluntários mobiliza 10 mil colaboradores e beneficia 51 instituições em todo o Brasil

18/06/2025

Dia dos Voluntários mobiliza 10 mil colaboradores e beneficia 51 instituições em todo o Brasil

Uma das maiores iniciativas corporativas no país, o Programa de Voluntariado da Fundação Telefônica Vivo mobilizou ações simultâneas em 34 cidades, atendendo cerca de 45 mil pessoas

Especialista explica como a IA generativa pode ser usada na educação

10/06/2025

Especialista explica como a IA generativa pode ser usada na educação

O pesquisador Fábio Campos, do Transformative Learning Technologies Lab, da Universidade de Columbia (EUA), fala dos benefícios e desafios do uso da IA e dá exemplos de como ele pode ser aplicada em sala de aula

Tecnologia em sala de aula: conheça histórias inspiradoras de quatro professores da rede pública

28/05/2025

Tecnologia em sala de aula: conheça histórias inspiradoras de quatro professores da rede pública

Docentes dos estados do Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais e Pará contam como incorporaram ferramentas digitais para tornar os conteúdos educacionais mais atrativos, interativos e dinâmicos

Fundação Telefônica Vivo e MEC: parceria estratégica fortalece formação docente continuada no uso pedagógico das tecnologias digitais 

22/05/2025

Fundação Telefônica Vivo e MEC: parceria estratégica fortalece formação docente continuada no uso pedagógico das tecnologias digitais 

O AVAMEC, plataforma de aprendizado contínuo do Ministério da Educação (MEC), agregou no seu portfólio 24 cursos da Fundação Telefônica Vivo focados no desenvolvimento de competências digitais para docentes e gestores