Notas Técnicas

22.02.2024
Tempo de leitura: 5 minutos

Análise dos dados do Censo Escolar 2023

Confira a análise da Fundação Telefônica Vivo sobre os principais resultados dos dados do Censo Escolar 2023

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou nesta quinta-feira (22/02) os resultados do Censo Escolar 2023, pesquisa anual que coleta informações sobre as instituições de ensino, turmas, estudantes e profissionais da educação básica no país.

Em 2023, foram contabilizadas 47,3 milhões de matrículas nas 178,5 mil escolas de educação básica no Brasil, cerca de 77 mil matrículas a menos em relação ao ano de 2022, o que corresponde a uma queda de 0,16% no período. Entre 2022 e 2023, a rede pública teve uma redução de 500 mil matrículas, enquanto a privada registrou uma expansão de 423 matrículas.

A divulgação realizada hoje pelo Inep/MEC traz como novidade, considerando as apresentações geralmente comunicadas à imprensa nos anos anteriores, a desagregação dos dados de repetência e evasão por características sociais dos estudantes. Como ilustrado no gráfico abaixo, os grupos de populações negras, de gênero masculino e que vivem em áreas rurais são os que apresentaram piores resultados em praticamente todas as categorias apresentadas.

O material divulgado hoje em coletiva de imprensa também traz dados sobre a infraestrutura tecnológica nas escolas. Como indicado no gráfico abaixo, a disponibilidade desses recursos no Ensino Médio é maior do que nas instituições de Ensino Fundamental. Quando observada a rede estadual, que detém o maior número de escolas de Ensino Médio, nota-se que 86,6% das unidades têm acesso à internet banda larga.


Porém, o Censo Escolar 2023 é uma pesquisa conduzida por declaração e sem auditoria presencial. É importante ressaltar, portanto, que nem sempre a conexão se traduz em acesso efetivo à internet e equipamentos pelos estudantes. Muitas vezes esses recursos são destinados apenas ao uso administrativo da escola.


Apesar de quase 87% das escolas da rede estadual contarem com acesso à banda larga, o percentual correspondente ao uso da internet para ensino e aprendizagem diminui para 79,5% no caso das escolas de Ensino Médio e para 79,1% nas escolas de Ensino Fundamental.


Outro resultado que aponta na mesma direção é o de acesso à internet para estudantes, que está em 78,5% para Ensino Médio e 74,6% para Ensino Fundamental, considerando apenas as redes estaduais.

Embora o acesso à infraestrutura tecnológica seja essencial para o progresso dos alunos, é de suma importância avaliar a forma como tais recursos são utilizados no cotidiano estudantil. A eficácia da incorporação da tecnologia na sala de aula está intrinsecamente ligada à qualificação dos professores, especialmente para o desenvolvimento de competências digitais dos estudantes.

Nesse sentido, uma pesquisa divulgada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade de Informação (CETIC1) sobre a adoção das tecnologias de informação e comunicação (TIC) indica que há ainda desafios relevantes a serem enfrentados. Publicada em 2022, a pesquisa mostra que apenas 55% das escolas da rede pública, de Ensino Fundamental e Médio, ofereceram alguma formação presencial ou a distância para os professores sobre o uso de tecnologias digitais em atividades de ensino e de aprendizagem nos 12 meses que antecederam à coleta2 de dados.

Essa informação é de fundamental importância pois, somente por meio de uma formação qualificada, os professores podem contribuir com o desenvolvimento de habilidades digitais dos estudantes, resultando em um impacto positivo significativo no processo de aprendizado. A Figura 4 evidencia que menos da metade das escolas analisadas oferecem formações sobre uso de tecnologias em atividades de ensino e de aprendizagem.

Chama a atenção o baixo percentual de escolas com formações sobre linguagem de programação e robótica (apenas 12%). Esse resultado é especialmente preocupante considerando a crescente importância da programação na era digital, caracterizada por uma demanda significativa por profissionais qualificados para trabalhar com dados.

À medida que a análise de dados se torna fundamental para a tomada de decisões em diversos setores, a linguagem de programação emerge como uma habilidade essencial para impulsionar carreiras nesse campo.

Assim, análises mais aprofundadas sobre os dados divulgados hoje pelo Inep se fazem necessárias para avaliar determinantes que impactam na trajetória de aprendizado dos alunos e a adequação da formação docente às demandas da era digital. Cumpre destacar que a pesquisa inclui informações importantes para aferir o progresso da educação básica e subsidiar as novas metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação (PNE), que está previsto para ser revisto ainda neste ano. De acordo com publicação recente do Inep3, o monitoramento e avaliação desses indicadores é fundamental para a identificação de desafios, servindo também como alicerce para a formulação de políticas educacionais mais eficazes.

1 Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nas Escolas Brasileiras, 2022. Disponível em: <https://www.cetic.br/media/docs/publicacoes/2/20231122132216/tic_educacao_2022_livro_completo.pdf>. Acesso em 29/01/2024.

2 A coleta de dados ocorreu entre outubro de 2022 e maio de 2023.

3 Disponível em: https://www.gov.br/inep/pt-br/assuntos/noticias/estudos-educacionais/estudos-do-inep-serao-referencias-a-construcao-do-novo-pne. Acesso em 31/01/2024.


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