A edição 2025 da TIC Kids Online Brasil, realizada pelo Cetic.br/NIC.br e divulgada em 22 de outubro, atualiza o retrato sobre como crianças e adolescentes brasileiros de 9 a 17 anos utilizam a internet. A pesquisa baseou-se em entrevistas presenciais realizadas entre março e setembro deste ano, com 2.370 crianças e adolescentes e seus respectivos pais ou responsáveis.
O estudo integra o ecossistema de pesquisas do Cetic.br que monitora o avanço da sociedade digital no Brasil, oferecendo subsídios valiosos para políticas públicas, programas educacionais e ações voltadas à promoção da cidadania digital.
Os resultados mostram que atualmente 92% das crianças e adolescentes de 9 a 17 anos acessam a internet. Chama a atenção o fato de que 28% desse grupo afirmaram ter iniciado o uso antes dos 6 anos de idade, quase o triplo do percentual registrado em 2016, quando esse índice era de apenas 10%. Esse avanço precoce no acesso digital levanta preocupações sobre os impactos do uso de tecnologias na primeira infância, cuja fase é marcada por intensos processos de desenvolvimento cognitivo e emocional.
Nesse contexto, vale destacar a importância da recente aprovação, pela Câmara dos Deputados, do Projeto de Lei 1971/25, que estabelece a mediação ativa de adultos no uso de dispositivos eletrônicos por crianças de 2 a 6 anos. A proposta reconhece que o ambiente digital apresenta riscos que exigem acompanhamento cuidadoso. Ao propor diretrizes para um uso mais consciente e seguro da internet desde os primeiros anos de vida, o Brasil avança na construção de uma política pública voltada à proteção digital infantil. Agora, o projeto segue para análise do Senado, onde poderá ser debatido, ajustado e, se aprovado, encaminhado para sanção presidencial e posterior implementação.
Esse avanço se soma à sanção da Lei nº 15.211/2025, conhecida como Estatuto Digital da Criança e do Adolescente (ECA Digital), que estabelece obrigações específicas para produtos e serviços tecnológicos acessíveis por crianças e adolescentes. A nova legislação determina, entre outros pontos, que esses serviços devem garantir altos padrões de privacidade, segurança e supervisão parental. A convergência entre essas iniciativas reforça o compromisso do país com a proteção integral da infância no ambiente digital. No entanto, é fundamental que o movimento legislativo seja acompanhado por ações concretas de implementação, fiscalização e formação.
Outro dado relevante trazido pela pesquisa diz respeito ao tipo de dispositivo utilizado para acessar a internet: o celular permanece como o principal meio de conexão, sendo utilizado por 96% das crianças e adolescentes entrevistados. Em relação aos locais de acesso, a escola aparece como o quarto ambiente mais frequente. O dado merece atenção especialmente no contexto de debates sobre a aplicação pedagógica e as restrições ao uso de dispositivos móveis em sala de aula.

É importante destacar a queda significativa no uso do celular como dispositivo de acesso à internet dentro do ambiente escolar: de 51% em 2024 para 37% em 2025. Essa redução pode estar relacionada a mudanças nas políticas escolares, como restrições à utilização do aparelho em sala de aula.
Ainda assim, vale ressaltar que a internet continua sendo uma ferramenta importante no processo educativo: 81% das crianças e adolescentes afirmaram que a utilizam para realizar pesquisas escolares ou estudar, segundo o módulo de atividades online do estudo. Em 2025, a inclusão inédita de um módulo sobre o uso de Inteligência Artificial generativa revela também que cerca de 60% dos jovens entre 9 e 17 anos recorreram a ferramentas de IA com os mesmos propósitos.
Esse crescimento amplia o debate sobre o desenvolvimento de competências digitais e a necessidade de abordar questões éticas relacionadas ao uso da IA no contexto escolar. Esse movimento está alinhado aos princípios da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que reconhece o uso crítico e ético das tecnologias digitais como uma das competências fundamentais da educação básica. Porém, para que as escolas possam integrar a cultura digital ao currículo, estimulando o pensamento crítico e o uso da tecnologia de forma ética e responsável, é essencial que as instituições de ensino e as famílias estejam preparadas para orientar os estudantes.
No entanto, os dados mostram que essa mediação ainda é limitada. Embora 53% das crianças e adolescentes entrevistadas tenham a percepção de que seus responsáveis têm “muito” conhecimento sobre suas atividades online, a pesquisa indica que apenas 44% dos pais ou responsáveis conversam com os filhos sobre o que esses jovens fazem na internet, e somente 37% estabelecem regras para o uso do celular. É importante observar também que metade dos adultos obtém informações sobre a utilização segura da internet por meio das próprias crianças, e não de fontes especializadas ou da escola, como revela o gráfico abaixo.

Isso revela uma lacuna importante na orientação familiar, que precisa ser preenchida com apoio institucional e formação adequada. A presença de educadores com competências digitais atualizadas é fundamental para que os alunos não apenas dominem ferramentas tecnológicas, mas também compreendam seus limites, implicações e potenciais. A construção de uma cultura digital segura e reflexiva depende da articulação entre escola, família e políticas públicas que reconheçam a complexidade do universo online na vida das novas gerações.

