Nota técnica "Educar na era da Inteligência Artifical: Caminhos para a BNCC Computação"

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26.02.2021
Tempo de leitura: 7 minutos

3 projetos que desconstroem estereótipos no ensino de programação

Minas Programam, Mais1Code e Toti são iniciativas que têm o objetivo de aumentar a diversidade e a inclusão no desenvolvimento de códigos e linguagem de programação

Mulher de dreads trabalha de costas. Na frente dela se vê um notebook e um computador.

Existem diversas formas de transformar o mundo. Com o avanço das tecnologias, a programação tornou-se uma das ferramentas para construir essa mudança. Ainda assim, os responsáveis pelos códigos continuam sendo os humanos, que partem de seus contextos sociais para desenvolvê-los. Desta forma, para que a programação seja acessível a todos, é preciso que seja mais inclusiva e diversa.

Homens brancos, jovens e de classe socioeconômica média e alta. Esse é o perfil universal dos profissionais que ocupam as áreas de tecnologia no Brasil. A conclusão vem de um levantamento, realizado em 2019, pela organização social Preta Lab e pela consultora global de softwares Thoughtworks. A pesquisa #QUEMCODABR também chama atenção para a lacuna de oportunidades que esse recorte gera.

Qual é o perfil das equipes de tecnologia?

• As mulheres representam no máximo 20% das equipes (64,9% dos casos)
• Somente10% das pessoas moram em bairros periféricos (67,4% dos casos)
• As pessoas negras representam apenas 10% da equipe (68,5% dos casos)
• Em 85,5% das equipes, não há nenhuma pessoa com deficiência
• 88,4% das equipes de tecnologia não contam com nenhuma pessoa trans

Fonte: #Quemcodabr, 2019

Conheça projetos que estão rompendo com esse cenário e inovando no ensino da programação:

Programando a igualdade

As paulistanas Bárbara Paes, Ariane Cor e Fernanda Balbino se encontraram em suas vivências distintas para levantar questionamentos sobre os recortes de gênero e raça nas áreas de Ciências, Tecnologia e Computação. O que começou, em 2015, como um debate aberto entre desenvolvedoras e programadoras sobre os desafios para ocupar espaços, transformou-se no Minas Programam, uma iniciativa que capacita mulheres para o mercado de trabalho e para a vida.

“A tecnologia não é neutra, ela é influenciada pelo contexto ao mesmo tempo em que o influencia. Para nós, ensinar mulheres, sobretudo mulheres negras, a programar é mais do que um compartilhamento de habilidades, mas sim um passo em direção a ocupação de espaços e construção coletiva de soluções para a sociedade” , complementa Bárbara, cofundadora do projeto Minas Programam.

Além do curso de introdução à programação, carro chefe da iniciativa, o Minas Programam construiu um espaço de reflexão sobre o papel social da tecnologia. Nos últimos cinco anos de atuação, mais de 2 mil pessoas participaram das atividades, que incluem um grupo de estudos voltado a debater tecnologia, gênero e raça, além de oficinas de Python, JavaScript, WordPress, Segurança Digital, palestras e hackathons.

Os cursos são organizados para atender de 30 a 40 pessoas entre 14 e 40 anos, dando prioridade para mulheres negras, indígenas e moradoras da periferia. A formação é gratuita, conta com auxílio-transporte, alimentação inclusa e serviço de cuidadores para as alunas que precisam trazer os filhos. Durante a pandemia, o modelo foi adaptado ao ensino a distância, e a equipe ainda está trabalhando em estratégias para ajudar na organização da rotina e nos custos dos equipamentos e da internet.

O projeto conta, ainda, com o apoio do fundo feminista internacional FRIDA (The Young Feminist Fund), que permite manter a estrutura sem custos adicionais para as estudantes e a articulação permite a troca com outros grupos da América Latina. As inscrições para as turmas de 2021 estarão abertas no período entre março e abril, e podem ser acompanhadas pelas redes sociais.

“Codando” na quebrada

Apesar de ser considerada uma linguagem universal, os conceitos por trás dos códigos nem sempre são ensinados de maneira acessível. Essa conclusão despertou em Diogo Bezerra. Morador do Jardim Brasil, na zona leste de São Paulo, decidiu investir recursos e tempo para impulsionar essa aproximação entre a programação e a periferia.

A trajetória como empreendedor social não é nova para Diogo, que é cofundador da PLT4Way –Iniciativa que ensina inglês gratuitamente para moradores da periferia desde 2017. Inclusive, foi por meio de conversas com os estudantes que ele abriu os olhos para a demanda por cursos de programação acessíveis financeira e geograficamente para a quebrada. Com a chegada da pandemia, a urgência para conectar os jovens a oportunidades de educação e trabalho cresceu e assim nasceu a Mais1Code.

“A tecnologia na quebrada ainda é vista como entretenimento, não como uma ferramenta de desenvolvimento educacional, social e econômico. Oferecer uma oportunidade desses jovens experimentarem uma nova perspectiva é a razão de ser da Mais1Code” define Diogo Bezerra.

Para participar, os interessados devem se inscrever no mais1code.com.br e passar por uma conversa com os organizadores, o chamado papo reto. Nesse momento, os jovens traçam objetivos e identificam problemas que querem resolver em suas comunidades. O próximo passo é começar o curso gratuito com um professor particular. Os mentores são voluntários e orientam os jovens na programação e na resolução de problemas para atingirem suas metas. A Mais1Code já tem duas turmas formadas e tem sete em andamento.

Além dos 24 mentores, Diogo e Tauan contam com uma equipe de consultores para manter o curso de seis meses e a estrutura de computadores e internet. Os sócios criaram o Fundo de Apoio ao Jovem Programador da Quebrada, alimentado com doações que podem ser feitas inclusive pelos próprios participantes do projeto para dar oportunidade a outros jovens.

Conhecimento sem fronteiras

A Toti é uma plataforma de ensino gratuita que forma refugiados e imigrantes por meio de um curso voltado para as demandas das empresas. O foco não está em apenas garantir a empregabilidade, mas também permitir melhores condições de vida para quem chega ao país.

A startup começou a ser idealizada em 2016, ainda na universidade, pelos estudantes cariocas Caio Rodrigues, Bruna Amaral, Diogo Nogueira, Eduardo Caldeira, Giulia Torres e Beatriz Gonçalves, que se formaram em diferentes áreas e usaram conhecimentos interdisciplinares no negócio social.

Pensando no cenário a longo prazo, surgiu a ideia de ensinar programação. Para mobilizar os recursos necessários, foi lançada uma campanha de financiamento coletivo ao longo do ano de 2017. Dois anos depois, a Toti — batizada em homenagem ao deus egípcio da sabedoria e do conhecimento, Thoth — já cruzou a trajetória de alunos vindos de Venezuela, Síria, Congo, Angola e Cuba. Contando com acompanhamento individual, também são potencializadas habilidades e competências socioemocionais dos participantes.

As aulas acontecem uma vez por semana e valorizam a aprendizagem por meio de projetos colaborativos. Durante o curso, os estudantes podem construir um portfólio acessado por empresas parceiras da Toti. Outras organizações, como a Caritas e Acnur, apoiam na divulgação das inscrições, que podem ser acompanhadas também pelas redes sociais.

Você conhece a 42 São Paulo?

A programação é uma ferramenta importante para o desenvolvimento de competências e habilidades para o século XXI. Com um modelo único de aprendizagem, a 42 São Paulo traz um conceito inovador para o ensino de Tecnologias Digitais. Em parceria com a Fundação Telefônica Vivo, o modelo espalhado em mais de 20 países, chegou ao Brasil em 2019.

O espaço de aprendizagem é voltado para qualquer pessoa com mais de 18 anos, com ou sem experiência prévia em programação. Basta querer aprender de maneira colaborativa e inovadora. Para participar, o primeiro passo é se cadastrar no site e fazer os dois testes disponíveis: memória e lógica. O processo de seleção também inclui o check in — uma visita virtual ao espaço de formação— e uma fase imersiva online de 20 dias, chamada de Basecamp.

O programa totalmente gratuito foi desenhado para formar Engenheiros de Software em 10 meses, mas o período vai depender do ritmo e disponibilidade dos estudantes, podendo variar de 3 a 5 anos.


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