O Selo B ajuda a retificar o significado de sucesso das instituições, em compasso com a comunidade e o meio ambiente.
O Selo B ajuda a retificar o significado de sucesso das instituições, em compasso com a comunidade e o meio ambiente.
As mudanças bem-vindas trazidas por culturas como a da Economia Solidária e do consumo consciente obrigam empresas e indústrias a saírem da zona de conforto. Não é mais suficiente entregar o produto nas prateleiras de um supermercado ou no varal da loja – o consumidor e a sociedade devem saber de onde veio a matéria-prima, como a cadeia de produção impacta o meio ambiente e se os trabalhadores e trabalhadoras contam com condições dignas. A mídia também se debruça sobre o tema: documentários como The True Cost (O Verdadeiro Custo, em português) – sobre a indústria da moda e o trabalho escravo empregado nela – expõe embates surgidos entre obtenção de lucro e valores como sustentabilidade e ética trabalhista.
Segundo a pesquisa Rumo à Sociedade do Bem-Estar 2012, publicada pelo Instituto Akatu, tem acontecido um aumento crescente no que se refere ao público sobre responsabilidade social empresarial. Para 53% dos consumidores entrevistados, mais do que somente serviços, as empresas e empreendimentos devem oferecer benefícios à sociedade. “A empresa pode e deve ser uma força do bem, redefinindo até o próprio conceito de sucesso: mais do que lucro ou retorno para acionistas, ela deve oferecer devolutivas à sociedade. Esse é um movimento irreversível”, explica Ana Sarkovas, diretora-executiva do Sistema B no Brasil.
O Sistema B é uma organização não governamental que certifica empresas geradoras de impacto social positivo no território em que estão inseridas. Ele surgiu há dez anos nos Estados Unidos, vinculado à organização B-LAB, e ganhou o apelido de Sistema B quando aportou na América Latina. Atuante no Brasil, o conceito foi trazido pelo Comitê de Democratização pela Informática (CDI), e atua hoje de forma independente. São 1.750 empresas certificadas no mundo; no Brasil, são 55, entre indústrias de grande porte como a Natura e iniciativas em desenvolvimento, como a Fazenda da Toca, que cuida de alimentos orgânicos.
Para que empresas ganhem a certificação, devem cumprir indicadores em cinco áreas: governança, área de relação com o trabalho, relação com a comunidade, relação com o meio ambiente e modelo de negócio de impacto. “Olhamos práticas como qual o percentual de mulheres na equipe, a disposição dos resíduos sólidos e política de fornecedores. Empresas que prezam pelo desenvolvimento humano, como por exemplo, as que se preocupam com a inserção de ex-detentos no mercado de trabalho”, conta Ana. De uma escala de 0 a 200 pontos dentre os indicativos, recebe o certificado as empresas que somarem no mínimo 80 pontos.
Quando a empresa aceita o selo de empresa B, ela deve incluir duas cláusulas em seu estatuto social, comprometendo-se a gerar um valor que seja compartilhado não somente pelos acionistas, mas também para os envolvidos em sua cadeia de valor, sejam os funcionários ou a comunidade – refletindo a preocupação com o empreendedorismo social. Ana esclarece que o certificado não é uma posição final, e sim um incentivo constante para que a empresa continue a aprimorar seu papel social. “O certificado é uma direção e um caminho de melhoria”, ela explica. A cada dois anos, para que a empresa permaneça com o selo, ela deve provar que continua cumprindo as metas e que almeja resultados melhores.
Ana acredita que um dos diferenciais da certificação é que, ao contrário de outros selos, que geralmente são atribuídos aos produtos, o Selo B engloba todas as características da empresa. “Ela não recebe o selo se, por exemplo, for muito boa em governança, mas possuir relações trabalhistas precárias.” Todos os dados, desde quais empresas estão certificadas até o processo pelos quais futuras empresas devem passar caso pretendam adquirir o selo, então abertos ao público e recentemente, o Sistema B lançou uma plataforma para conectar as empresas entre si, provendo a troca de experiências.
Tanto as empresas que procuram o Sistema B para saber o que fazer para se certificar, como aquelas que já foram criadas com premissas muito próximas ao que o selo garante, tem algo em comum: são empresas não mais satisfeitas com o modelo herdado da Revolução Industrial, aquele que gerou um impacto irreversível no meio ambiente e que não comporta mais uma sociedade em busca de modelos diferentes de trabalhos e valores. “Ou você reinventa seu negócio ou no médio, ou em longo prazo, ele não vai funcionar, ainda mais na crise de valores que o mundo e o Brasil estão vivendo. O Sistema B é uma das respostas, e espero que não a única, para que novos modelos de empresa emerjam”, conclui Ana.