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21.03.2022
Tempo de leitura: 7 minutos

“Aprendizagens visíveis também podem envolver práticas digitais”

É o que afirma a professora Julia Andrade, autora de livro recém-lançado sobre aprendizagens visíveis, que busca oferecer novas perspectivas de ensino

Imagem mostra uma sala de aula. Três alunos estão à frente da classe, apresentando um trabalho com uma maquete de planetas. Ao lado, o professor observa a apresentação, assim como demais alunos da classe. Todos usam máscara de proteção.

Os recursos digitais presentes durante o processo de educação têm o seu valor na aprendizagem, pois influenciam no desempenho dos estudantes. De acordo com artigo publicado por José Moran, professor e gestor de projetos de inovação em educação, o domínio da tecnologia é fundamental para uma educação plena. Mas qual é o impacto da tecnologia e das práticas inovadoras para as aprendizagens visíveis?

O debate proposto pelo conceito de aprendizagens visíveis não é sobre a melhor forma de ensinar. Mas sobre as formas de melhor avaliar os resultados do ensino sobre os alunos.

Por exemplo, a valorização da cultura maker, na qual alunos e professores participam ativa e diretamente na construção do conhecimento, é um dos pontos centrais da obra “Aprendizagens Visíveis: Experiências Teórico-Práticas em Sala de Aula”.

O livro reúne relatos, ferramentas e teorias sobre práticas pedagógicas de professores da educação básica pública e privada. A publicação foi idealizada pela professora e pesquisadora Julia Pinheiro Andrade, especialista em metodologia ativas e fundadora da Ativa Educação, plataforma para formação continuada de educadores com foco em temas, palestras e consultorias sobre abordagem ativa.

Dezessete professores-pesquisadores fazem parte da coletânea de artigos da obra. Além disso, o livro conta com práticas, estratégias e proposições teóricas. Todo o conteúdo tem foco na construção de um processo de ensino-aprendizagem mais claro, profundo e significativo para todos os envolvidos.

Os princípios da aprendizagem visível 

O material tem como referências a abordagem da filosofia educacional italiana Reggio Emilia e as experiências de John Hattie, da Universidade da Nova Zelândia, acerca das propostas contemporâneas de ensino.

Além disso, as aprendizagens visíveis também bebem da fonte do “Projeto Zero”, desenvolvido na Universidade de Harvard, no qual é explorada a importância de se aprender fazendo.

Nesse sentido, 10 princípios de aprendizagens visíveis manifestam quais são as maneiras de melhor avaliar o impacto do ensino sobre os alunos.

  •  O educador deve avaliar seu impacto na aprendizagem dos alunos.
  •  A avaliação é uma maneira de nortear o processo.
  •  A colaboração entre educadores e educandos é fundamental para o progresso.
  •  O educador é um agente de mudanças e acredita no potencial dos alunos.
  •  O educador se esforça para que os alunos sejam desafiados.
  •  Os alunos recebem feedbacks e são orientados de acordo com eles.
  •  Diálogos são tão valorizados quanto monólogos.
  •  O alunos entendem o que é um impacto bem sucedido.
  •  Professor e aluno é constroem um relacionamento baseado em confiança e em um ambiente seguro para cometer erros e aprender.
  •  A aprendizagem e a linguagem de aprendizagem são os focos principais.

Fonte: 10 Princípios para a Aprendizagem Visível: Educar para o sucesso

Metodologias ativas 

Com as metodologias ativas ganhando espaço na educação básica brasileira, também é preciso pensar no seu alinhamento com o pensamento visível.

Desse modo, é possível uma aprendizagem mais profunda combinando os princípios da BNCC de transformação do aluno em protagonista no processo de ensino-aprendizagem ao processo e evidências de aprendizagem visíveis e conscientes para todos os participantes.

Para esclarecer melhor esse conceito, entrevistamos Julia Pinheiro Andrade, autora do livro “Aprendizagens Visíveis”. Confira!

 

Sobre o que trata o conceito de aprendizagens visíveis e como ele se relaciona com as metodologias ativas? 

Aprendizagens visíveis se referem a um campo entre metodologias de ensino, estratégias didático-pedagógicas e avaliação formativa. Ou seja, como cada um está aprendendo e elaborando significados e sentidos com base nas experiências que acontecem em sala de aula?

Assim, essa discussão está totalmente ligada à concepção de metodologias ativas, que são o conjunto de estratégias de ensino que põe foco na aprendizagem dos estudantes estimulando uma aprendizagem ativa, reflexiva, crítica, formuladora de hipóteses, onde o estudante resolve, inventa e propõe coisas.

 

Quando você decidiu que era o momento de reunir todas essas aprendizagens em um livro? 

Descobri e mergulhei nessa pesquisa a partir de 2017, quando fiz uma viagem para a Califórnia (EUA), com o Instituto Catalisador. Nela, conheci várias experiências de educação transformadoras, em que víamos escolas públicas completamente transformadas pela documentação da aprendizagem. Com isso, fui atrás das fontes para descobrir a base teórica daquela experiência.

Assim, cheguei aos autores que são o tripé da discussão: a abordagem Reggio Emília da educação infantil; o Projeto Zero, da Faculdade de Educação de Harvard; e por fim, a pesquisa mais recente do professor John Hatte, da Faculdade de Melbourne. Busquei pessoas no Brasil que estavam desenvolvendo essas perspectivas e experiências práticas contextualizadas ao país.

 

Como foi realizada a curadoria das experiências? 

Minha curadoria foi a partir da perspectiva de quem teria fôlego teórico-prático para ilustrar bem as experiências, documentar bem as aprendizagens e fazer uma experimentação bem brasileira com essa perspectiva.

 

E qual é a influência da tecnologia nesse processo de ensino? 

A maioria dessas pesquisas já tinha alguma reflexão sobre o papel da tecnologia na aprendizagem ativa dos estudantes. E durante a pandemia todos nós tivemos que versionar o que fazíamos de formação de estudantes e professores para o on-line.

Então, hoje todas as experiências que estão documentadas no livro já passaram por testes no ambiente remoto. Já aprendemos até a fazer experimentações mão na massa por meio das tecnologias colaborativas.

As experiências também envolvem práticas digitais? 

Sim, de forma que a tecnologia digital amplie uma capacidade humana, não só reproduzindo um ambiente e documentando ou sendo base de algo transmissivo e passivo. Mas sendo um ambiente em que a gente, efetivamente, amplie nossa comunicação, escrita, reflexão e memória.

 

Nesse contexto, o quão importante se faz a formação continuada? 

A discussão sobre aprendizagem visível convida professores e alunos a pensarem no sentido da sua aprendizagem e do seu ensino. Nesse sentido, é muito importante essa reflexão contínua para professores sobre o propósito, sentido e as metodologias coerentes.

 

Podemos dizer que a cultura maker é a base da aprendizagem visível? 

A cultura maker é uma das partes importantes da aprendizagem visível, pois foca no fazer. Porém, é muito comum vermos crianças engajadas em atividades criativas, mão na massa, mas que não há clareza do que estão aprendendo ou desenvolvendo. Então, nem toda atividade maker é um aprendizagem visível.

 

Podemos considerar as aprendizagens visíveis o futuro da educação? 

Atualmente, essa abordagem é um tema de ponta, porque alinha o que e como se deve ensinar, a como se deve avaliar, no sentido de avaliação em processo. Então, é uma busca por coerência entre estratégias metodológicas e estratégias avaliativas.

Entre o que o professor ensina e o que realmente acontece em sala de aula, como cada um dos estudantes simboliza, cria significados para o que está aprendendo e o resultado que podemos realmente publicar e dizer que aquele é o resultado da aprendizagem de uma jornada.


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