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Os vínculos entre educação e internet são uma malha de expectativas, desconfianças e inovação. Conheça alguns casos que ajudam a aprofundar o debate.

Educação e redes sociais: essa soma funciona?

Em 2005, a escola do inglês Jack Cator limitou o uso da internet para evitar que os alunos acessassem websites de entretenimento. O menino, com apenas 16 anos, era um ótimo programador e decidiu burlar a proibição, invadindo o sistema para permitir que os usuários o navegassem de forma anônima. Bem-sucedido em seu propósito, ele percebeu o imenso potencial de sua ação e iniciou o projeto de uma rede própria. Dez anos depois, ele vende a Hide My Ass por uma quantia milionária e continua no posto de chefe-executivo da lucrativa empresa.

Casos como o de Jack são um gatilho para discussões pedagógicas sobre o uso de redes sociais nos ambientes de estudo. Entender as transformações causadas pelos avanços virtuais na forma como a juventude se comunica é essencial. Se a instituição de ensino se abstém ou se torna simplesmente proibitiva com relação à internet, ela se desatualiza com o universo de quem a frequenta. Em 2014, a Fundação Telefônica Vivo lançou a pesquisa Juventude Conectada, no intuito de mapear e compreender a relação entre os jovens e o mundo digital.
A pesquisa averiguou que 37,3% do uso da internet pelos jovens é destinado à comunicação social e 28,1% à pesquisa escolar. O adolescente, já em um complexo processo de formação de identidade, passa a ser também uma persona virtual, que se comporta, interage e tem um jeito diferente de aprender. “Dar um google” em uma informação já é preferível à busca em livros e as relações antes construídas somente em nível pessoal são modificadas em redes como Facebook e Twitter.

Os vínculos entre educação e internet são uma malha de expectativas, desconfianças e incentivos à inovação. No relatório global de tecnologia da informação do Fórum Econômico Mundial, lançado em 2013, o Brasil subiu de 65º para 60º no ranking que avalia a preparação do ensino para novas tecnologias. Este avanço se deve ao investimento na infraestrutura e na democratização dos computadores, mas também sugere uma estagnação na utilização desses dispositivos. A pesquisa da Fundação aponta – ainda que a combinação de redes sociais e escola seja vista como positiva tanto para o professor quanto para o aluno – que existe o receio acadêmico de que essas ferramentas se tornem uma razão para dispersão e sejam prejudiciais.

O professor e pesquisador especializado em tecnologia da educação João Mattar é autor do livro Web 2.0 e Redes Sociais na Educação, onde ele explora os desafios de integrar as redes a projetos pedagógicos. Para ele, os colégios brasileiros tem percebido a necessidade de dar atenção ao fenômeno: “A forma como as escolas lidam com isso varia, naturalmente, de uma para outra. Algumas inserem discussões sobre as redes sociais em suas disciplinas; outras vão além e passam a utilizar algumas das redes nas atividades de ensino e aprendizagem. Mas esse é um movimento natural – esse tipo de novidade não gera automaticamente mudanças rápidas no ambiente escolar”.

Existem ferramentas já utilizadas pelas instituições, como os softwares livres Moodle e Eureka, que descentralizam e disseminam o conteúdo. Mas elas podem causar uma sensação de isolamento e pouca interação, por serem específicas para fins pedagógicos. João dá o exemplo dos AVAS (Ambientes Virtuais de Aprendizagem), alternativas que aliam redes sociais cotidianas ao aprendizado. A rede Ebah é voltada para o compartilhamento acadêmico entre alunos e professores, mantendo laços virtuais com algumas universidades. Já a rede Edmodo também compartilha conhecimentos, sincronizada com Facebook, Twitter e Google+.

A progressão no uso das redes cria a necessidade de que os docentes também renovem as suas formações. João conta um pouco da sua experiência nessa área: “É preciso um tripé para que esses programas sejam eficientes para os professores: reflexão sobre as práticas dos professores em sala de aula, mão na massa (mexer efetivamente em ferramentas) e discussão de cases de educadores que estejam fazendo experiências similares, no Brasil e no mundo. Quando esses três ingredientes são combinados adequadamente, eu percebo que os professores saem dos cursos de formação com brilho nos olhos, porque já estão pensando em como aplicarão aquilo que aprenderam”.

Além de professores preparados, são necessários ambientes que esclareçam os limites entre a utilização das redes para o aprendizado e o exagero que leva à distração. Ainda que seja um caso extremo, o burlar de regras de Jack Cator é um exemplo de uma falha de percepções e de uso consciente, tanto da escola quanto de seus estudantes. “O fato de os alunos usarem redes sociais não quer dizer que elas tenham que ser obrigatórias na escola a todo momento. Se o professor e a coordenação não tiverem planejado o uso de redes sociais, de dispositivos móveis, de games na sala de aula, não faz sentido simplesmente liberar seu uso sem objetivos de aprendizagem – isso em geral prejudica o aluno, ao invés de ajudá-lo”, João opina.

As relações que estão sendo tecidas entre redes virtuais e ambientes escolares estão longe de serem definitivas ou aplicáveis em qualquer ambiente. O seu caráter de constante construção e mudança é que permite uma experimentação adequada para cada tipo de escola, matéria ou aluno. Mas essa combinação não pode ser ignorada e trabalhá-la é fazer com que a escola expanda seus horizontes metodológicos, acompanhando cada vez mais o ritmo de quem nela estuda.

As redes sociais estão aí – e a escola precisa entender a relação com elas
As redes sociais estão aí – e a escola precisa entender a relação com elas