Você toma um caldo de cana e, indiretamente, acaba ajudando moradores de rua a terem uma nova oportunidade. É exatamente isso que faz o projeto Arte e Luz da Rua, que usa o bagaço que seria jogado fora para fazer luminárias e devolver a cidadania a quem antes vivia excluído da sociedade.
O projeto começou com a vinda da alemã Hedwig Knist ao Brasil, 27 anos atrás. Hoje com 53 anos, a ativista chegou por aqui aos 26 para realizar trabalhos voluntários ligados à Igreja Católica. A experiência, que duraria seis meses, se prolongou até os dias de hoje e teve como fruto o projeto que transforma resíduos da cana em artesanato e inclusão.
Sediada no Brás, em São Paulo, a iniciativa surgiu efetivamente em 2000, quando Hedwig e parceiros da Pastoral do Povo de Rua. Em 2012, quando saiu da Pastoral, a idealizadora seguiu com as atividades de maneira independente, o que resultou na transformação das oficinas em um empreendimento social de geração de renda.
“Um dos objetivos é a reintegração social dessas pessoas, pois muitas vezes elas conseguem emprego, mas não se adaptam por falta de postura adequada”, explica Hedwig.
Quando se acostumam a seguir regras e rotinas no projeto, os participantes conseguem se reinserir no mercado de trabalho com mais facilidade. “Esse é o maior aprendizado: ter de chegar a um local, na hora marcada, e desempenhar atividades com começo, meio e fim”, comentou a idealizadora.
Como funciona
Uma vez por semana, o grupo se organiza para buscar bagaço de cana em feiras e pastelarias. Levada à oficina, a fibra da casca é separada e processada. Por fim, ela é aplicada em uma estrutura de arame quadriculada, de acordo com o molde da luminária.
As luminárias são vendidas em feiras de artesanato, eventos ou sob encomenda, gerando renda para os participantes e a oportunidade de aprender um novo ofício.
“É um desafio trabalhar com população de baixa renda. A economia solidária também enfrenta dificuldades em relação ao comprador, que muitas vezes quer desconto, sendo que não temos uma margem grande de lucro. Apesar disso, é emocionante acompanhar a transformação positiva dos participantes”, diz Hedwig.