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Com mais de 100 milhões de usuários, ChatGPT pode apoiar na elaboração de metodologias inovadoras na educação

#Educação#EnsinoMédio

Professores e estudantes conversam diante de um laptop aberto.

Desde que foi lançado, no final de novembro de 2022, o ChatGPT tem dado o que falar. Afinal, a sofisticada plataforma de inteligência artificial é capaz de elaborar textos argumentativos, de forma longa ou resumida, assim como resolver problemas matemáticos com rapidez. Naturalmente, tão logo o fenômeno começou a ganhar espaço no debate público, veio a reboque uma importante questão: como o ChatGPT será usado na educação?

Hoje, três meses após o lançamento, o ChatGPT – criado pela empresa estadunidense OpenAI – já conta com mais de 100 milhões de usuários, tornando-se o aplicativo de crescimento mais rápido da história. Ele funciona assim: basta fazer uma pergunta ou pedido e, em alguns segundos, o chatbot elabora a resposta baseada em uma enorme quantidade de dados disponíveis em toda a internet.

Nova etapa para a educação

Professora do núcleo de Tecnologias da Inteligência e Design Digital (TIDD) da PUC-SP e pesquisadora dos impactos éticos e sociais da inteligência artificial (IA), Dora Kaufman acredita que o ChatGPT representa um ponto de inflexão para o campo da educação. “Ele faz parte de uma categoria denominada ‘IA generativa’, capaz de produzir/criar/sintetizar textos, imagens e vídeos. O perigo é que esses textos aparentemente fazem sentido e confundem o interlocutor que não tem domínio sobre o tema em questão”, observa.

Para além do ChatGPT, já há outros chatbots sendo lançados, como o Bard (Google) e o Ernie (Baidu). A IA generativa também é responsável por ferramentas como o DALL-E, o Stable Diffusion, o Imagen e o MidJourney, já amplamente utilizados para a produção dos mais diversos tipos de conteúdo – inclusive por estudantes.

A própria OpenAI alertou que o ChatGPT pode gerar informações incorretas, produzir instruções prejudiciais ou até mesmo conteúdos tendenciosos. “As experiências têm evidenciado a ampla margem de erro com respostas imprecisas, equivocadas, destituídas de sentido. Por outro lado, o ChatGPT é capaz de gerar bons resumos de textos, responder perguntas sobre uma infinidade de assuntos, colaborar com pesquisas mais objetivas”, aponta.

 

ChatGPT na educação: desafios e oportunidades

Criado artificialmente, esse mecanismo tem um enorme potencial de impacto ao universo da educação. “Qualquer tecnologia disruptiva, como é o caso da IA, coloca em cheque procedimentos e comportamentos estabelecidos na sociedade humana”, avalia Dora. Em sua visão, para que as instituições de ensino lidem com a novidade de maneira adequada, é necessário que sejam revistos e melhorados os padrões de avaliação, as metodologias e os procedimentos de revisão de pares, por exemplo. Isso porque os conteúdos produzidos por tecnologias como os chatbots poderão ser facilmente plagiados por estudantes. “Com o avanço da IA é mandatório reinventar o ensino, a lógica e as metodologias de aprendizado.”

Citando o caso de Nova Iorque (EUA), que baniu o acesso ao ChatGPT em sua rede escolar, ela define a proibição como equivocada. “Precisamos experimentar essa tecnologia, identificar o seu potencial para colaborar/compor com metodologias inovadoras. O ChatGPT pode ser um bom parceiro dos educadores”, sugere Dora.

 

Como posso usar o ChatGPT em sala de aula?

Trazendo a discussão para o chão da escola, é evidente o temor de que o ChatGPT seja utilizado pelos estudantes como uma forma de produzir trabalhos e respostas automaticamente, sem nenhum benefício ao seu processo de ensino e aprendizagem.

Nesse cenário, Dora Kaufman lista algumas possibilidades de uso do ChatGPT por educadores em sala de aula:

1) criar questionários visando testar a compreensão dos alunos sobre determinado tópico;

2) gerar tarefas diferenciadas, ou seja, personalizadas ao perfil de cada aluno;

3) produzir exemplos de respostas de referência às tarefas propostas aos alunos;

4) gerar questionário de múltipla escolhas para avaliar a compreensão dos alunos;

5) criar plano de aula com base na realidade de cada turma;

6) criar recursos visuais como imagens/posters e/ou vídeos ilustrativos dos conteúdos a serem abordados.

Ela reforça que, como toda tecnologia, o ChatGPT deve ser encarado como auxiliar do professor – e jamais como um substituto. “Cabe ao professor validar os resultados gerados pela tecnologia antes de aplicá-los efetivamente, evitando, dada a aparente consistência das respostas do ChatGPT, tomá-las como precisas e verdadeiras.”

 

ChatGPT na educação: desmistificar o uso

Foi com a ideia de desmistificar o uso do ChatGPT na educação que a coordenadora de tecnologia educacional, Solange Giardino, vem promovendo o uso da plataforma nas salas de aula da Escola Villare, em São Caetano do Sul (SP).

“Os primeiros incômodos em relação ao chatbot vieram da escola”, relembra Solange. “Ele causou um frisson muito grande entre professores. Após apresentar a ferramenta a eles, decidiram que experimentariam utilizá-la nos seus componentes curriculares.”

A experiência está sendo aplicada com alunos do sexto ano do ensino fundamental ao terceiro ano do ensino médio. Durante as aulas de física, matemática e português, os professores e estudantes elaboram perguntas ao ChatGPT e analisam as respostas em conjunto. “É uma ótima forma de estimular o pensamento crítico, fazendo uma discussão sobre as fontes do ChatGPT, a forma com que ele pode ser utilizado com ética.”

 

ChatGPT na educação: impulsionar a aprendizagem criativa

A atitude de trazer o ChatGPT para dentro da sala de aula, que Solange definiu como “corajosa”, também será uma oportunidade para impulsionar a aprendizagem criativa na escola. “Mesmo tendo suas limitações, acredito que o ChatGPT nos propicia uma ampliação de horizontes, trazendo novas informações e novas possibilidades de ensino.”

Como consequência à popularização da IA, os educadores terão a missão de elaborar novos modelos avaliativos, excluindo as respostas meramente dissertativas.

“O ChatGPT evidencia com mais transparência a necessidade de rever práticas consagradas”, analisa Dora. “Não se sustenta mais avaliações do desempenho do aluno com base em resumos de tópicos/assuntos; as avaliações têm que ir além, analisando o entendimento do aluno e a sua capacidade de discernimento e de raciocínio.”

ChatGPT na educação: como reinventar o ensino diante do avanço da inteligência artificial
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