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21.06.2018
Tempo de leitura: 4 minutos

Com “bibliotáxi”, taxista doa livros para fidelizar clientes

Além de espalhar cultura, Carlos “Careca” também é conhecido por suas ações em prol do meio ambiente na capital cearense

Na imagem, o taxista Carlos Careca lê um livro em frente ao seu táxi, batizado de bibliotáxi

Taxista, surfista, catador de lixo de praia, inventor de brinquedos recicláveis, artista plástico, professor voluntário de sustentabilidade, escultor de areia, ativista da leitura e da cultura. Tudo o que faz o cearense Francisco Carlos da Silva, 57, não cabe num texto. Figurinha conhecida pelos moradores de Fortaleza, ele agora vem chamando a atenção do resto do Brasil por causa de um projeto para lá de criativo: o bibliotáxi.

“Disseram que já me conhecem em mais de 150 países. Rapaz, eu nem sabia que existia essa quantidade de países no mundo!”, diz, com o bom humor que é marca registrada. O bibliotáxi é uma ideia simples, mas poderosa. No porta-malas de seu táxi, Carlos “Careca”, como é conhecido, tem mais de 100 títulos de livros, de ficção a biografias e livros infantis.

O objetivo é doá-los aos seus passageiros, uma forma de incentivar a leitura e oferecer um serviço diferenciado. Na contracapa dos livros, um adesivo com seu contato faz as vezes de cartão.  “Eu tenho que fidelizar meus clientes de alguma maneira. Mais do que ter um carro impecável e usar terno, o meu diferencial é valorizar a cultura”, explica.

A ideia surgiu há dois anos, quando Careca viu um morador de bairro nobre de Fortaleza jogar fora uma caixa inteira de livros. Ele não teve dúvidas: passou a mão no descarte e organizou tudo em seu porta-malas. Na época, havia saído de todos os aplicativos de corrida por causa do medo da violência. O bibliotáxi foi um jeito de atrair mais clientes.

E não é que deu certo! Dos cerca de dez passageiros que atende por dia, metade liga novamente, não raro com livros na mão para retribuir a doação. “Esses dias me ligaram lá da Bahia. ‘Meu rei, tu que é o Careca? Vou para Fortaleza na semana que vem e quero te conhecer. Tô levando alguns livros para você’”, relembra ele, que é taxista há 14 anos.

 

Uma viagem diferente

O curioso é que foi graças ao bibliotáxi que Careca descobriu o gosto pela leitura. Nascido e criado na Praia de Iracema, nunca teve o hábito de ler. Mas tudo mudou quando descobriu, entre as doações, o livro No Ar Rarefeito, do jornalista e alpinista Jon Krakauer, que narra os desafios de uma escalada ao Monte Everest.

“Foi quando finalmente entendi aquela frase de que quem lê viaja sem sair do lugar. Fiquei tão envolvido com os detalhes que me transportei para aquele gelo todo”, relembra. O fim do livro ele nunca soube, já que doou para um passageiro que se interessou pela história.

 

Um artesão inusitado

Muito antes dos livros, Careca já juntou muita coisa do lixo. Filho de pescadores, desde pequeno tem o hábito de colher bitucas, papel, canudinho e qualquer resíduo que possa ser ingerido pelos peixes. Aos 17, começou a construir brinquedos com o que tirava da praia. Hoje ele também confecciona fantasias de Carnaval com esses materiais.

Como um verdadeiro ativista do meio ambiente, Careca também dá lições de sustentabilidade às crianças de uma escola perto de sua casa, além de ministrar oficinas de construção de brinquedos recicláveis.

Como se não bastante, e motivado pela criatividade que não lhe falta, Careca decidiu que em 2018 faria algo impactante pelo meio ambiente. Recorreu à sua habilidade manual para esculpir, na areia, uma tartaruga Aruanã, tipo comum no Ceará que está ameaçada de extinção.

A escultura de 8 metros de comprimento, 2 metros de altura e 3,5 metros de largura foi feita em janeiro, com a ajuda de banhistas que passavam pelo local. “Eu queria chamar atenção para esse problema ecológico, então usei o lixo da praia para decorar. No casco tinha mais de 500 garrafas de vidro”.

E assim, entre uma invenção e outra, Careca segue em sua luta. Para resumir sua filosofia de vida, ele apela de novo para o bom humor: “Eu percebi muito cedo que a vida é muito dura para quem é mole e difícil para quem é fácil”, brinca. “Por isso, eu preferi inventar uma metodologia diferente de vida e assim levo meus dias”.


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