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04.04.2019
Tempo de leitura: 5 minutos

Como a educação no Chile melhorou ao investir no professor

Paula Louzano, diretora da Faculdade de Educação da Universidad Diego Portales, afirma que investimentos no docente foram fundamentais para melhorar a educação no país

Alunos estão sentados em grupos e olhando para professor em sala de aula: valorização da carreira e formação continuada foram caminhos para melhorar a educação no Chile.

No Chile, o investimento no professor e uma formação voltada mais para práticas de aprendizagem melhoraram os índices educacionais, segundo Paula Louzano, doutora em Política Educacional pela Universidade Harvard e diretora de formação de professores da Universidad Diego Portales (Chile).

O país andino está mais de 15 posições à frente do Brasil nos quesitos matemática, leitura e ciências no Pisa 2015, mais próximo da média da OCDE que das últimas posições, onde o Brasil está. Relatório da instituição revela que o gasto por aluno dos dois países é similar, mas alguns fatores explicam o bom desempenho da educação no Chile.

Ela afirma que o país tem como objetivo atingir os índices educacionais de nações como Canadá ou Portugal — que, por sua vez, estão no topo do Pisa.

“Todos os países que conseguiram fazer uma mudança sistêmica na educação tiveram ações de longo prazo que atravessaram gestões diferentes”, conta a diretora, que defende a importância de qualificar os cursos de formação, investir em práticas pedagógicas e valorizar a carreira docente.

A seguir, Paula Louzano detalha como a educação no Chile passou por mudanças importantes para chegar ao patamar atual.

Como era a formação de professores no Chile e o que foi feito pra mudar isso?

Paula Louzano: Em meados da década 90, a formação de professores no Chile era parecida com a do Brasil: havia um conjunto de universidades públicas e, quando o setor abriu-se para empresas privadas, houve um aumento de cursos de baixa qualidade. Além disso, os cursos de pedagogia eram, em geral, teóricos e parecidos aos de ciências sociais, em vez de profissionalizantes.

Após análises, o país concluiu que precisava fazer — e fez — uma reforma popular e rigorosa, com um currículo ambicioso para o Ensino Fundamental e Médio. Porém, os professores não estavam preparados para ensinar o que foi definido na reforma.

O Chile se inspirou com o que era feito em outros países, como: Canadá, Estados Unidos e Austrália e iniciou um conjunto de políticas para melhorar a formação de professores. Em 2016, o conjunto de políticas foi integrado num sistema de Lei de Carreira Docente [processo de avaliação de professores que determina se um profissional receberá aumento salarial ou precisa se capacitar mais, por exemplo]. Para impactar, é preciso mexer no salário, na carreira, na qualidade do curso de formação e na ascensão profissional dos professores.

Como se tornou a formação desses profissionais?

São criados desenhos da formação de professores, o que permite avaliar se determinado curso consegue formar alunos de maneira organizada, com motivação e com avaliações rigorosas. O Chile optou por fazer uma mudança radical no perfil dos cursos de formação. São faculdades que têm convênios com escolas para oferecer estágios.

Hoje, o curso de pedagogia é de período integral e dura de 4 a 5 anos. Desde o primeiro ano o professor frequenta a escola em que irá trabalhar. Aprende a preparar aula, aplicar prova e, ao longo da faculdade, a quantidade de trabalho que o aluno faz na escola aumenta, enquanto o tempo que ele passa na universidade diminui. É um modelo similar à formação médica. Fazer com que um professor só interaja com alunos depois de formado seria como pensar em um médico que tocaria em um paciente somente no final do curso.

Isso mostra que a educação no Chile valoriza o professor já na graduação?

Paula Louzano: Com certeza. Aqui o salário inicial de um professor é mais alto do que o de muitas áreas. Isso torna as pessoas dispostas a fazer o curso integral e a investir na carreira. 

Qual a importância de adotar medidas de longo prazo para melhorar a educação de um país?

Paula Louzano: Todos os países que conseguiram fazer uma mudança sistêmica na educação, no país inteiro, trazendo alta qualidade, inclusão e equidade, tiveram ações de longo prazo que atravessaram gestões diferentes. Medidas pontuais são específicas para um grupo e por um tempo determinado.

Isso não tem a ver com tamanho do país. É questão de achar que a profissão de docente vale a pena. Envolve recursos, e nenhum país que queira formar professores no mundo fez isso por educação à distância, por exemplo.

Exemplos de inovação

Dois exemplos educacionais do Chile mostram como é possível tornar colégios mais inovadores e inseri-los no século XXI.

Um deles é a Escola A Espiral, que entende a educação como um eixo importante para formação de pessoas e uma grande aliada para desenvolver relações humanas pautadas pelo respeito à natureza e aos direitos humanos. Visão, imaginação, compreensão e criação embasam o método de ensino da escola. 

Reconhecido internacionalmente, o Colégio Cardenal de Cracovia, em Santiago do Chile, traz um modelo participativo, comunitário e democrático que envolve toda a comunidade da região, com direito a Constituição, presidentes, ministros e representantes próprios.  Conheça outras iniciativas inovadoras como a do Colégio Cardenal de Cracovia na publicação Viagem à Escola do Século XXI!


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