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11.05.2016
Tempo de leitura: 5 minutos

Como o empreendedorismo social pode transformar o trabalho e as relações entre moradores?

Projeto em Osasco, cidade da região metropolitana de São Paulo, aponta: os caminhos que podem levar pessoas a empreender são compatíveis com os da economia solidária.

A sensibilização sobre o tema é o primeiro passo para os futuros empreendedores.

Com apenas 65 quilômetros quadrados de extensão, a cidade de Osasco (SP), possui densidade demográfica que ultrapassa os 10 mil habitantes por km². Por causa da concentração populacional e das dificuldades de se expandir lateral e verticalmente, cada ideia para utilizar o espaço e fortalecer relações entre moradores é preciosa. Uma horta sem agrotóxicos que brota debaixo de terrenos da rede elétrica ou uma cooperativa de coleta seletiva são exemplos de ações no município.

O Programa Osasco Solidária, desenvolvido pela Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão, em funcionamento desde 2005, foi fundado sob uma premissa: os caminhos que podem levar pessoas a empreender são compatíveis com os da economia solidária. Se alguém tem o desejo de empreender, porque não comprar matéria-prima de fabricantes locais, ou revender posteriormente para o seu entorno? A economia solidária está estabelecida quando um local é beneficiado por ela, crescendo e estreitando relações entre compradores e vizinhos.

Para a articulação e a manutenção dos projetos empreendedores, o Programa Osasco Solidária desenvolveu a Incubadora Pública de Empreendimentos Populares e Solidárias (IPEPS). Esses espaços públicos, no centro da cidade, funcionam como estufas para o florescimento de ideias empreendedoras, oferecendo assessoria e capacitação. Ali, também é investido um fomento inicial para tirar o empreendimento do papel. Atualmente, as capacitações abrangem cinco segmentos: costura, artesanato, reciclagem, serviços e agricultura.

Cida Lopes, coordenadora da Incubadora, explica que a sensibilização sobre o tema é o primeiro e importante passo para os futuros empreendedores. “A maioria das pessoas não sabe como empreender, não conhecem a economia solidária e nenhuma outra perspectiva de empreendimento e negócio.” Essa sensibilização acontece tanto no Centro Solidário como em visitas aos bairros. Os que se interessam pelo programa procuram então o Centro, onde passam por triagem e entrevista analítica.

Selecionado, o empreendedor é levado a um processo de pré-incubação, onde tem de quatro a oito encontros para prospectar como seria seu empreendimento – é nessa fase que ele enxerga a rentabilidade do projeto e as chances de prosperar. Depois disso, vem a etapa de incubação.
A oportunidade é aberta para todo residente de Osasco, independentemente de renda ou de faixa etária. “Tentamos estimular a ideia de que a economia solidária é aquela que tem de avançar para além da renda, e se tornar um novo modo de trabalho.”

Quando propostas novas formas de relações de trabalho, deve haver uma desconstrução da noção de que o empreendedorismo está atrelado ao individualismo. É uma delicada tarefa fazer com o que o empreendedor compreenda que seu negócio pode ir muito além de obtenção de renda. Celso Pedro, diretor do Programa, fala sobre essa renovação de pensamento. “É uma das coisas mais difíceis de se fazer, porque o individualismo faz parte do ser humano. Criamos uma relação solidária de produção. É um trabalho de formiga, muito difícil, porque propõe novos valores para velhos seres humanos”, diz.

Os resultados revelam que, uma vez transformadas as relações de trabalho e melhorada a confiança dos empreendedores, os laços estabelecidos com a família e com a cidade se modificam por consequência. Isso é particularmente visível nas mulheres, maior público do programa, que em geral o procura para poder complementar a renda. Celso conta a história de uma delas. Antes, vivendo uma relação abusiva em casa, recuperou sua autoestima gerenciando uma cooperativa. “A vida dela mudou efetivamente por conta do processo formativo, o que é mérito dela e de toda uma atenção dos técnicos e companheiros de trabalho”, complementa.

Conceitos como economia solidária ou empreendedorismo social nem sempre são acessíveis para a maior parte da população. Daí a importância de políticas públicas que não só facilitem o crescimento de redes autogestionárias e solidárias, como também utilizem a prática para ressignificação das noções de trabalho e economia. Quando uma rede se fortalece dentro da cidade, a cidade também acaba por se fortalecer, tanto quanto aqueles que nela habitam e a modificam.

De 2006 até 2011, os uniformes das crianças das escolas públicas de Osasco foram confeccionados pelas mulheres do Programa Osasco Solidária. Em uma iniciativa de reconhecimento internacional, essas costureiras produziram aproximadamente meio milhão de uniformes, fazendo girar uma roda econômica e solidária que beneficiava não somente o município – que deixava de terceirizar o serviço – mas também as mulheres, que geraram renda e modificaram seu lugar dentro das engrenagens da casa. Ainda que o projeto com as escolas não exista mais, a costura é um carro-chefe do Programa Osasco Solidária, com 30 máquinas à disposição dos moradores da cidade que queiram empreender.


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