ARTIGO 78/LIVRO 1 – TEMA: DIVERSÕES E ESPETÁCULOS
Comentário de Sílvia Maria S. Vilela
Uma criança ficaria muito aflita se pedíssemos a ela que nos explicasse porque papai e mamãe estão juntos ou não estão. Não está preparada para conhecer o que se passa no vínculo conjugal.
E nós também conhecemos a aflição de termos que dar conta de coisas para as quais não estamos preparados. È só nos observamos diante da notícia de uma guerra do outro lado do mundo. Pessoas com necessidades determinadas por culturas diferentes e motivações que não entendemos, e tudo isso com conseqüências que não dominamos.
Embora queiramos, ás vezes, não podemos nos alienar, porque, uma vez estimulada nossa capacidade de compreensão, tendemos a tentar dar conta dela. E isso exige muito esforço psíquico!
E haja esforço para uma criança dominar situações de superestimulação! Nessa tentativa de lidar com situações muito difíceis para ela, poderá se sentir muito frágil, imaginando que está falhando, e, assim, ir formando para si uma imagem depreciada.
Assim se passa com a relação ao grande desafio que é para a criança entender os relacionamentos humanos. Como só realiza internamente a experiência de ser filho, não pode compreender o que se passa entre um homem e uma mulher. No seu papel, passa todo o tempo tendo que lidar com questões como: dependência, autoridade, aceitação ou transgressão a regras e disputas com irmãos pelo amor do pais. E é nesse continente familiar que vai aprendendo a lidar com as pessoas e seus próprios sentimentos, mas sempre na condição de filho. Seu foco está regulado para o olhar do lugar em que está. Daí não poder entender o que se passa com um casal na sua própria intimidade. E é por isso que não deve ter acesso a ela. Deverá crescer para ter suas próprias experiências sexuais e confirmar ou desfazer suas fantasias a esse respeito.
Quando a criança vê cenas sexuais, ao vivo, ou através de fotos, é, portanto, violentada no seu tempo de amadurecimento sexual. Isso pode provocar sérias inibições à sua criatividade, uma vez que a ausência de crítica fará com que acredite que o que viu é o que deve ser. E, assim, é possível que perpetue essa condição de imaturidade sexual, com todos os temores infantis carregados de apreensão.
Poderá ter medo de crescer, imaginando-se adulto parecido com essa criança incapaz de lhe dar com tantas emoções.
Poderá mudar o relacionamento com os pais, imaginando-os pares das cenas que viu.
Poderá se erotizar precocemente, o que lhe traria muito desgaste psíquico, porque, além não ter condições de realização sexual, perderá tempo deixando de tratar assuntos importantes de sua meninice, para os quais está bem dotada a resolver e a realizar.
Não podemos negar que exista, mesmo, um universo vetado á criança, pela própria impossibilidade que a Natureza lhe impõe nesse momento. E é porque é impossível que o entenda e elabore que se torna impróprio.
Se transgredirmos essa impropriedade, estaremos proporcionando estímulos desorganizantes ao seu crescimento emocional e estaremos criando um adulto inseguro para lidar com demandas internas e externas, por não ter tido a tranqüilidade necessária para ir, gradativamente, se vendo com tais solicitações e desafios.
Este texto faz parte do livro Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado, coordenado por Munir Cury