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02.05.2019
Tempo de leitura: 4 minutos

Editora Gráfica Heliópolis aposta em modelo inclusivo de publicação

A ideia é dar voz à comunidade, incentivar a escrita e publicar livros que não teriam espaço no mercado editorial tradicional

Qual é a probabilidade de um jovem escritor periférico publicar um livro de poesia? E quanto a um senhor de 92 anos que quer lançar a primeira produção? Ou ainda homens e mulheres transexuais que têm histórias para contar? Em um modelo tradicional de editora, a resposta seria quase zero. É para dar voz aos escritores da comunidade, que a Editora Gráfica Heliópolis busca romper essas barreiras.

A editoria fica dentro da biblioteca do CEU Heliópolis, localizado no bairro de mesmo nome na zona sul de São Paulo, e trabalha em parceria com escritores. Não apenas oferece os serviços de publicação, mas também incentiva a produção de quem tem pouca visibilidade e muito a dizer. A ideia partiu do escritor Paulo César Marciano, nascido e criado na comunidade.

PC, como é conhecido, foi incentivado desde cedo pelos pais e professores da escola onde estudou , a  EMEF Campos Salles. Teve oportunidade de desenvolver seu potencial artístico na música, na leitura e no teatro. Sem condições financeiras de acessar esse vasto universo cultural, Marciano participou de projetos sociais e de voluntariado que o aproximaram dessa realidade. Até que decidiu transformar a arte em trabalho.

Da não resposta à oportunidade

Paulo César Marciano, o PC, idealizador da Editora Gráfica Heliópolis, está segurando o primeiro livro publicado dele, Melissa, com uma estante com livros ao fundo.

Em 2008, tentou publicar o primeiro romance, buscando editoras comuns. Não obteve resposta. Apresentou as produções para os grupos artísticos que frequentava e todos elogiaram seu trabalho. Ainda assim, as editoras não respondiam.

No vestibular passou com nota máxima em redação e despertou o interesse dos professores, que o incentivaram a seguir escrevendo. A não resposta das editoras, no entanto, persistia.

“Em alguns processos acreditei que minha escrita não era interessante, que era ruim”, relembra PC, que passou a ficar incomodado. “Depois comecei a refletir: será que a dificuldade de publicar meu livro vem do fato de eu morar na favela, ou de ser um autor estreante, sem um currículo formal?”.

A partir desse questionamento, começou a procurar pessoas na comunidade e que também já tinham algo escrito. E se surpreendeu: muitos do seu círculo cultural já haviam tentado publicar textos e, assim como ele, não receberam respostas.

Ao longo de 10 anos, Paulo Cesar amadureceu tais reflexões, aprendeu a redigir leis de fomento, fez contato com quem pudesse ter interesse em uma editora comunitária. Até que em 2018 soube do projeto Rumos, do Itaú Cultural, que abria um edital de investimento em iniciativas sociais e incluía diversos formatos.

Contou com a ajuda de Diego Renan (29), atualmente o assessor de imprensa da editora, para escrever a proposta. Uma vez aprovada pelo edital, a Editora Gráfica Heliópolis passou a receber financiamento e investir em seu diferencial: incentivar o processo de concepção dos escritores. A empresa fornece desde a estrutura para impressão e diagramação, até a consultoria para o processo criativo.

“É uma via de mão dupla. Nossos livros são produzidos a preço de custo, então alguns escritores nos ajudam na materialização”, explica Diego. “Da mesma forma que as pessoas nos procuram dentro da comunidade, também vamos até elas. Nosso papel é trazê-las para dentro, acreditar nelas”.

Inclusão como modelo de negócio

A Editora Gráfica Heliópolis publica livros artísticos e busca parcerias com escolas públicas da região. O coordenador pedagógico Rubê Lima visita as instituições diariamente e oferece aos estudantes a oportunidade de acessarem o material publicado e de também produzirem obras. Até agosto de 2019, a previsão é lançar 25 livros nas escolas.

A diversidade é o objetivo ao pensar no perfil dos escritores. “A gente criou um modelo de editora sem engessamento. Não temos um nicho editorial, porque isso impossibilitaria alguém. A ideia aqui é dar voz e não tirar”, explica Paulo César.

Por ser inclusivo, o projeto já foi procurado por pessoas de outros Estados e até mesmo por escritores de outros países. Mas, por ora, o trabalho é em pequena escala e convida quem pode estar presente fisicamente para construir junto. Saraus, concursos, palestras e especiais de lançamento são realizados para ir além de uma prestação de serviço, criando-se um movimento artístico literário.


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