Foto: Tiago Queiroz/Jeduca
O professor e pesquisador Fábio Campos gosta de se apresentar como cientista de aprendizagem, uma maneira de descrever alguém que pesquisa e desenvolve metodologias de ensino utilizando tecnologia. Formado em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Campos fez mestrado em Educação e Tecnologia pela Universidade de Stanford e doutorado em Ciências da Aprendizagem na Universidade de Nova York, ambas nos Estados Unidos. Atualmente, ele é pesquisador associado do Transformative Learning Technologies Lab (TLTL), mantido pela Universidade de Columbia, e seu trabalho aborda pedagogias críticas, aprendizagem por meio de tecnologia, design na educação e a interação entre humanos e tecnologias.
Em visita a São Paulo, no segundo semestre de 2024, Campos falou com a equipe da Fundação Telefônica Vivo sobre o uso da Inteligência Artificial (IA) em sala de aula. Confira abaixo os principais trechos da entrevista com Fábio Campos.
1- Quais benefícios você destaca no uso da IA dentro da sala de aula?
No TLTL, pesquisamos o uso da Inteligência Artificial para problemas que não são fechados, e sim para os que são abertos. Se o uso da IA é para responder uma pergunta de uma prova ou resolver uma equação, são problemas fechados, que não usam a criatividade, não expandem as capacidades humanas. Esse tipo de uso só corta caminhos. Eu diria que, hoje, uma das maiores virtudes da IA generativa é o uso para ampliar a criatividade, para gerar insights ou para enxergar aquilo que não se pode ver.
2- Poderia dar exemplos de usos para problemas abertos?
E se pudéssemos ver imagens da colonização portuguesa no Brasil? E se pudéssemos enxergar algumas cenas que nenhum pintor registrou? E se pudéssemos ter projeções para o futuro? Isso é bastante virtuoso na educação. Trabalhar com problemas abertos é um excelente uso de Inteligência Artificial na educação.
3- Quais são os desafios para o uso da IA na educação?
Há vários desafios, principalmente éticos. Por exemplo, qual é a base de dados que está sendo usada para alimentar o modelo da Inteligência Artificial? Há desafios éticos quando se usa qualquer tipo de IA na educação, generativa ou não. Mas eu acho que talvez o principal desafio seja o hype da Inteligência Artificial, que faz com que as pessoas queiram tanto usar ou se sintam atrasadas por não usar. Isso mascara os riscos, sobretudo éticos, para o educador, para o gestor e para o aluno.
4- Quais competências digitais os professores devem aprender para saber lidar com essa ferramenta no dia a dia com os alunos?
Ele tem que saber o que quer ensinar e como ensinar, que tipo de experiência pretende gerar para o aluno. A Inteligência Artificial é só uma de muitas ferramentas tecnológicas que podemos utilizar. Agora, há riscos éticos, riscos de exposição do aluno ou do uso de uma base de dados não confiável. São coisas que o professor precisa saber minimamente.
5- Há algum caminho para os professores interessados em IA na educação percorrerem?
O professor tem que ser muito curioso. Hoje não tem programas de formação definitivos para ensinar alguém a utilizar a IA. Saber ser curioso e ter senso crítico são fundamentos desse processo.
6- Poderia citar boas experiências do uso da Inteligência Artificial que você conhece?
Para falar de bom uso da IA, cito um movimento que está acontecendo no mundo, o Afrofuturismo. É um movimento que recria passados, ou cria futuros, e promove uma rediscussão das relações étnico-raciais. O movimento chegou à educação e é importante para se falar de educação antirracista, entender a sociedade como ela é hoje. A IA quando entra nesse mundo pode dar visibilidade, dar forma.
7- De que maneira isso acontece?
Por exemplo, uma IA generativa de imagem pode criar cenas que os seus olhos nunca viram, coisas que podem acontecer no futuro. Tem um movimento no mundo que se chama Pedagogia Especulativa, que é a pedagogia de especular como pode ter sido, como é ou como será. Para esse tipo de uso, a IA generativa é muito importante.