Atividade do programa Escolas Rurais Conectadas mobiliza alunos, pais e toda a comunidade de Vitória de Santo Antão (PE).
Jogar as cinco-marias, gude, ou girar pião. Cantar adoleta, empinar pipa, descer a ladeira de rolimã ou “pular academia”, outra forma de chamar a amarelinha… É extenso o inventário de brincadeiras infantis que cederam lugar a entretenimentos mais engenhosos e se esvaneceram da mente das gerações mais novas – e, no entanto, ao serem recordados, inclusive com o auxílio da tecnologia, não deixam de conceder a aventura esperada.
Esta foi uma das descobertas feitas por algumas educadoras de classes multisseriadas em Vitória de Santo Antão (PE), no decorrer de uma das formações realizadas no âmbito do Projeto Escolas Rurais Conectadas (ERC), fruto da parceria entre o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R) e a Fundação Telefônica Vivo. Por lá, professoras das escolas Constâncio Maranhão, Jaime Vasconcelos Beltrão, Manoel Domingos de Melo e Zair Pinto do Rego participam do processo formativo do programa, que busca apoiá-las em suas práticas cotidianas ao inserir o uso da tecnologia como suporte.
Reunidas para refletir sobre o tema que as guiaria na construção de novos projetos a serem desenvolvidos em suas escolas, elas encontraram inspiração na foto ao lado, na qual crianças e adultos da comunidade brincavam juntos, na área em frente à igreja. “Uma comunhão de saberes”, definiu a formadora Márcia Nogueira.
Nesse processo de formação surgiu o projeto “Como se brincava antigamente?”, que teve os alunos dessas quatro escolas como protagonistas em seu desenvolvimento. “Eles fizeram pesquisas na internet e com a comunidade sobre brincadeiras, produziram vídeos de bolso… A partir disso, fizemos a nossa programação de conteúdos. Uma das alunas trouxe o jogo com castanha de caju, com o qual trabalhamos Matemática, por exemplo”, relatou Gilvânia, professora da Escola Municipal Zair Pinto do Rego.
Impacto nas famílias
Além de ser uma oportunidade de sobressaltar os saberes locais, o projeto desenvolvido pelas professoras teve impacto significativo nas famílias e nas comunidades em que atuam. “Achei muito bonito um dos vídeos do aluno, em que seu pai o ajudava a fazer um carrinho. Na escola, ele mostrava para os amigos, orgulhoso, o pai o ensinando a fazer”, conta a professora, satisfeita com o resultado. “Aqueles alunos que têm o apoio dos pais ou da família em uma atividade diferente se destacam”, observa.
Com os professores não foi diferente. “Para nós, da Zona Rural, é fácil lembrar, porque era muito divertido. Como ajudávamos nossos pais no trabalho, o momento da brincadeira era sagrado”, lembra Gilvânia. “Fiquei emocionada com os bichinhos feitos de legumes e verduras, mexeu nas minhas raízes. Os meus pais colhiam verduras e vendiam na cidade. Com o que não prestava mais para vender, eu fazia meus bichinhos. Me fez lembrar algo que vivi quando criança.”
De fato, o alcance das ações do Programa Escolas Rurais Conectadas ultrapassa os muros da escola. Iolanda Souza, mãe de três alunos da Escola Municipal Manoel Domingos de Melo, descreve a reação dos pais após a experiência, percebendo os filhos indo à escola com prazer. “Nunca pensaram que uma escola da comunidade pudesse chegar a isso; neste momento, estão orgulhosos e muito gratificados”, acrescenta. “É uma oportunidade que eles não tiveram.”
A percepção da diretora da escola Manoel Domingos de Melo, Célia Gertrudes, é semelhante. “Com a chegada do Programa Escolas Conectadas, melhorou muito a participação dos alunos, eles faltam menos, e a família está entusiasmada”, relata – referindo-se às mudanças positivas não apenas na relação com os estudantes, mas também na maneira de disponibilizar os conteúdos e as atividades em sala de aula, incluindo o uso de notebooks. As próprias professoras, conforme notou, estão animadas com a formação oferecida pelo Programa ERC: “Quanto mais adquirem conhecimento, mais querem se atualizar, melhorar as aulas”.
A escola e a comunidade
Em Vitória de Santo Antão, é intensa a interlocução entre a comunidade e a escola. “A comunidade é muito participativa”, conta Gilvânia, que se divide entre atividades de professora, em sala de aula, e de gestão na Escola Zair Pinto do Rego – realidade comum em escolas rurais, com quadro reduzido de professores e funcionários. “Nos conhecemos de muitos anos e isso provavelmente facilita a interação.”
Segundo ela, há sempre atividades organizadas pela escola no Dia das Mães, Festa Junina e outras datas comemorativas. “Geralmente, não precisa nem de convite. Se a escola abrisse no fim de semana, eles com certeza estariam aqui!”
Na visão de Iolanda, “quando a relação evolui na escola, a comunidade também dá os seus passos”.Um aspecto importante é que todos estão sempre convidados a participar. “A gente tem espaço para comentar o que está errado. Damos valor ao que os outros pensam”, avalia.
“Conseguimos a primeira escola tecnológica da Zona Rural”, comemora, referindo-se a Manoel Domingos como ponto de referência para a cultura jovem local. “Principalmente agora temos de contar com a parceria da escola, porque lutamos pelo mesmo objetivo, que é a melhoria da comunidade”, afirma.
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