Entenda como funcionam as Escolas de Ciclo Único anunciadas pelo governo de SP e o motivo pelo qual tantos professores e alunos são contra
O anúncio do Secretário de Educação Herman Voorwald, feito em 23 de setembro deste ano, preocupou pais, professores e alunos. O plano do Governo Estadual de São Paulo é implantar o modelo de ciclo único nas escolas, em que haverá uma escola para cada ciclo de ensino. Desde o comunicado, setores têm se mobilizado contra a alteração, fazendo manifestações na rua e se organizando dentro de suas comunidades.
Mas o que significa um modelo de ciclo único? Segundo as palavras do Secretário, a medida reorganizará a distribuição dos estudantes em escolas que terão apenas um dos três períodos: a primeira parte do Fundamental, que vai do primeiro até o quinto ano; a segunda, que vai da sexta até a nona série; e por fim, o ensino médio. Os argumentos do governo para tanto é que a segregação permitirá um ambiente mais harmonioso de aprendizagem, além de preencher vagas ociosas.
Com essa mudança, mais de um milhão de alunos terão que se realocar. Maria Izabel Nogueira, diretora da APEOESP, relembra que a decisão já foi tomada no passado, em 1995, pela então secretária Rose Neubauer, e os resultados foram demissões de professores e transtorno para pais e alunos. “Foi uma decisão súbita, de um governo que ainda não aprendeu que se não houver debate com os professores, não existe proposta com êxito”.
Os docentes estão preocupados com relação ao acompanhamento feito durante o processo de aprendizagem de crianças e adolescentes. “Existe uma perda sobremaneira pedagógica. Eu, que já tive a oportunidade de lecionar, sei que, quando meu aluno passa de série e estou com ele, sei como trabalhar com ele, suas dificuldades, como vou planejar minhas aulas e cumprir o currículo. Quando separo os professores dos alunos, aquele vínculo de processo de aprendizado se perde”, explica Izabel.
Do ponto de vista dos estudantes, Maria Izabel acredita que aconteça uma imensa quebra de laço entre eles e sua escola. “A perda de afetividade e de identidade que o aluno tem com seu colégio é imensa. Ele será transferido para um lugar com o qual não tem conexão. É comprovado, quando você quebra um laço, e o jovem sente que aquela escola não é dele, a tendência é se voltar contra o patrimônio. Sem falar da evasão escolar”.
A Base Nacional Comum caminha para que transformações pedagógicas sejam integrais e interdisciplinares, e escolas se esforcem para criar projetos de múltiplas disciplinas e fazerem com que os ciclos se misturem, valorizando aprendizados entre gerações. “Esse projeto vai na contramão disso. É uma fragmentação e dá a entender que o conhecimento é uma caixinha e que nossa postura frente a ele tem que ser omnilateral”, finaliza a entrevistada.
Está prevista para 14 de novembro uma reunião de esclarecimentos para pais e professores. Até lá, ativistas pelos movimentos de educação, docentes e muitos alunos – que são grande parte dos manifestantes – prometem fazer barulho e lutar pelo não fechamento de suas escolas. Cabe agora acompanhar os desdobramento desse anúncio e suas consequências dentro das salas de aula.