Esgotamento mental é um problema que afeta muitos educadores e que se gravou durante a pandemia. Confira dicas de como evitá-lo
As atividades presenciais nas escolas já promoviam esgotamento mental em um número expressivo de professores mesmo antes da pandemia. Só para ilustrar, uma pesquisa realizada em 2018 pela Nova Escola apontou que 60% dos educadores entrevistados em todo o país sofriam com ansiedade, estresse e dores de cabeça. Segundo 87% dos entrevistados, esses problemas foram causados ou intensificados pela profissão.
“A alta cobrança interna e a baixa percepção de valor do seu trabalho criam uma mistura perigosa. Os professores, em especial os da rede pública de ensino, vivem em condições decrescentes de recursos por parte das escolas e desinteresse dos alunos”, explica o Dr. Roberto Aylmer, professor e médico especializado em burnout executivo e gestão da pressão.
De fato, as incertezas e os desafios impostos pela pandemia ocasionaram impactos na educação. Nesse período, aumentou o número de educadores que relataram terem tido esgotamento mental. Dessa forma, esse fenômeno pode ser atribuído à mudança brusca no estilo de trabalho dos educadores. Afinal, situações como jornadas mais extensas e acúmulo de funções acabam gerando mais exaustão.
Além disso, o envolvimento emocional, as horas de exposição às telas e a preocupação com a aprendizagem dos alunos são fatores de estresse enfrentados diariamente pelos docentes.
“A Unesco diz que nove entre 10 alunos, em todo o mundo, foram afetados pela pandemia em sua capacidade de se interessar pelo conteúdo e aprender algo novo. A pandemia levantou um tapete e mostrou que a nossa forma de trabalhar e viver já estava ‘comum’ em alta pressão, mas isso não é normal”, acrescenta.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), devido ao grande número de casos de burnout entre os docentes, o problema é chamado de “Síndrome de Desistência do Educador”. Nesse sentido, ela é caracterizada pela sensação de impotência diante da situação laboral e pessoal, incentivando o desestímulo e a renúncia profissional.
A doença do trabalho
A síndrome de burnout passou a ser considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) uma doença do trabalho em janeiro de 2022. É reconhecida como um “estresse crônico de trabalho que não foi administrado com sucesso”. Mas antes a doença era vista como um problema de saúde mental e um quadro psiquiátrico. Entretanto, o que significa essa mudança?
Com essa alteração em sua classificação, a doença é relacionada diretamente com o ambiente de trabalho e torna as empresas responsáveis pela saúde dos funcionários, uma vez que o estresse mal administrado no local de trabalho pode se tornar um problema crônico.
“A causa principal é quando a empresa pede ao indivíduo mais do que ele pode dar e oferece como recursos menos do que ele precisa. Esse desequilíbrio entre demanda e capacidade de entrega gera estresse crônico no trabalho, passando por sintomas como dores de cabeça, de estômago, insônia, irritabilidade, ansiedade elevada, esgotamento até chegar no burnout, ponto final dessa trajetória de angústia”, revela o Dr. Roberto.
Como evitar o esgotamento mental?
De acordo com o Dr. Roberto, os educadores podem prevenir o problema incluindo na rotina a realização de atividades físicas e ocupacionais.
“Focar em outras atividades e se desligar das preocupações com o trabalho no tempo livre, priorizando afazeres que proporcionem satisfação pessoal. Organização das atividades diárias, folgas, exercícios físicos e uma boa alimentação também são aliados na prevenção do burnout”, detalha.
Do mesmo modo, no ambiente de trabalho os cuidados devem partir tanto da empresa quanto do funcionário. Enquanto o empregador oferece um bom ambiente de trabalho, com funções bem definidas, espaço para diálogo e incentivo ao tratamento psicológico, o empregado deve, por iniciativa própria, incorporar atitudes cotidianas que melhorem sua saúde e bem-estar, procurando por ajuda médica quando sentir algum sintoma da síndrome.
“Embora os índices de burnout estejam altos, o futuro aponta para uma esperança. Com a definição como doença ocupacional, veremos melhoras significativas no modelo de gestão e na forma de trabalhar. Muitas vezes uma crise vem para terminar um ciclo e começar outro maior e mais saudável”, conclui o médico.
Para manter a mente em equilíbrio e evitar o desenvolvimento do burnout, confira orientações da psicóloga Petronilia Coelho, especializada em Psicopedagogia e Neuroeducação.
- Tente reduzir a carga horária de trabalho e evite situações desgastantes.
- Exercícios físicos proporcionam a redução da tensão muscular. É importante adotar uma rotina para essa atividade, visando relaxamento e autocuidado.
- Aproveite regularmente as suas férias e folgas.
- Meditação ou relaxamento ajudam a controlar os níveis de estresse. Isso 1significa ter o controle do seu estado emocional sem aderir às exigências externas e internas de imediatismo.