Levantamento feito pela organização CAUSE joga luz sobre as demandas mais urgentes da sociedade brasileira. Confira
Levando em consideração o contexto pandêmico vivido em 2020 e no começo deste ano, o estudo “21 causas para observar em 2021”, realizado pela organização CAUSE evidenciou as demandas mais urgentes da sociedade brasileira.
A organização, que tem como objetivo conectar marcas e corporações às causas do nosso tempo com o objetivo de transformar realidade, realizou o levantamento para incentivar empresas, organizações e marcas a abordarem essas temáticas ou a se prepararem para ajudar nesses desafios.
“Sabemos que as demandas sociais não se encerram em 21 tópicos. Contudo, acreditamos que os temas aqui retratados sejam os que mereçam mais atenção da sociedade brasileira neste período”, alerta o documento.
As causas são divididas por áreas: investimento em saúde pública e pesquisa; acesso à educação de qualidade; soberania alimentar; atenção à primeira infância; moradia digna; meio ambiente; defesa da democracia; defesa das populações minorizadas; antirracismo na prática; combate à desigualdade e à violência de gênero; acesso a um ambiente virtual seguro e combate a precarização do trabalho.
Para cada uma das temáticas levantadas, a CAUSE destaca pesquisas de órgãos oficiais brasileiros e estrangeiros, assim como acontecimentos do último ano, além de perspectivas do que pode acontecer nos próximos meses. Há também indicações de pessoas e organizações a serem acompanhadas de perto sobre cada assunto.
Além de evidenciar temas que tornaram-se mais críticos neste período, como a situação de grupos socialmente vulnerabilizados e o aumento do desemprego e da fome, o levantamento também indicou pontos positivos a serem observados em 2021. Dentre eles, destacam-se maior preocupação com a saúde mental, o surgimento da telemedicina e o aumento de vereadores LGBTIs eleitos no Brasil em 2020.
Veja abaixo, algumas das causas para observar este ano, assim como pessoas que fazem trabalhos inspiradores nas mais diversas áreas.
Saúde Mental
No ano passado, já se cogitava o aumento dos problemas de saúde mental da população. Esta hipótese, infelizmente, se concretizou. Luto, isolamento, perda de renda e medo podem estar desencadeando transtornos mentais ou agravando os existentes. Levantamento da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) aponta que essa incidência se dá principalmente entre as mulheres. Elas correspondem a 40,5% dos casos de depressão, 34,9% dos casos de ansiedade e 37,3% dos casos de estresse.
A maioria dos países, inclusive o Brasil, gasta menos de 2% da verba destinada à saúde em cuidados mentais. No entanto, o aumento do orçamento está previsto para acontecer. As empresas também estão sendo conduzidas a olhar para esta pauta com mais atenção e existem ainda, iniciativas independentes oferecendo atendimento gratuito, ou a baixo custo, de psicoterapia para quem precisa.
Telemedicina
A pandemia levou o governo a autorizar a prática da telemedicina durante a crise sanitária. No entanto, por ter sido aprovada de forma emergencial, ainda falta a sua regulamentação por parte do Conselho Federal de Medicina (CFM). Quatro em cada dez pacientes buscaram esse serviço por medo de serem contaminados pelo coronavírus. Como consequência, empresas estão investindo nesta nova dinâmica. Os aportes em healthtechs (empresas de tecnologia na área da saúde) cresceram 235% em 2020, em comparação ao ano anterior.
Pandemia e Educação
Com a pandemia e a suspensão das aulas presenciais, estudantes do Brasil passaram a ter suas aulas por meio do ensino remoto, aumentando a desigualdade educacional.
O Conselho Nacional de Educação permitiu a realização de aulas remotas até o fim de 2021. O Ensino Híbrido, com menos alunos em sala e um misto de aulas presenciais e on-line, está sendo o mais adotado e comentado. Acredita-se que haverá também maior financiamento e inclusão digital de crianças e adolescentes de baixa renda.
Soberania alimentar
O levantamento da CAUSE do ano passado apontava um histórico de arrecadação e o estímulo à cultura de doação. Em 2021, no entanto, elas caíram cerca de 90% nos primeiros três meses do ano. O Brasil enfrenta hoje a sua situação mais crítica de todos os tempos: mais da metade da população (125,6 milhões de pessoas) está em situação de insegurança alimentar. Em contrapartida, a sociedade civil, junto às organizações não governamentais, têm tomado medidas para impedir o avanço da fome no país, como a distribuição e doação de alimentos às famílias mais “.
Política de Primeira Infância
Em 2020, a Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou o Projeto de Lei 1027/19, para criar uma Política Estadual pela Primeira Infância. A proposta tem como meta garantir direitos como a vacinação infantil, educação, segurança alimentar, saúde, entre outros. O estudo mostra que estamos vivendo um período de intensificação do tema na agenda pública.
Pessoas para prestar atenção em 2021
Maria Fernanda R. Quartiero
Fundadora do Instituto Cactus, que promove iniciativas para ampliar a informação e os cuidados com a saúde mental, com foco em mulheres e adolescentes
Natalia Pasternak
Bióloga e divulgadora científica brasileira, fundadora e primeira presidente do Instituto Questão de Ciência e primeira brasileira a integrar o Comitê para a Investigação Cética (Committee for Skeptical Inquiry, ou CSI, na sigla em inglês).
Gina Vieira Ponte
Professora pós-graduada em Educação a Distância pela Universidade de Brasília (UnB), defende a educação para a igualdade étnicoracial e de gênero e concebe a educação como instrumento de transformação social.
Preto Zezé
Ativista, rapper, empreendedor e presidente da Central Única das Favelas (Cufa Brasil).
Padre Júlio Lancellotti
Coordenador da Pastoral do Povo da Rua de São Paulo e referência na defesa dos direitos humanos.
Léo Heller
Relator especial da ONU sobre o direito à água e ao saneamento e pesquisador da Fiocruz Minas.
Luana Genot
Publicitária, mestre em Relações Étnico-Raciais e diretora executiva do Instituto Identidades do Brasil (ID_BR).
Guilherme Soares Dias
Jornalista e cofundador do projeto Black Bird, de turismo afrocentrado.
Giulliana Bianconi
Cofundadora e diretora do portal Gênero e Número, primeira organização de mídia no Brasil orientada por dados para qualificar o debate sobre equidade de gênero e raça.
Monique Eleotério
Assessora de projetos da Casa da Mulher Trabalhadora, organização que colabora para a promoção dos direitos e para o fortalecimento da autonomia das mulheres.
Rafael Zanatta
Advogado diretor da Data Privacy Brasil, consultoria de direito digital.
Preta Rara
Historiadora, ativista em prol das trabalhadoras domésticas e autora do livro “Eu, Empregada Doméstica”.
Cuidado com o Meio Ambiente – Lixo nos Oceanos
Calcula-se que haja 14 milhões de toneladas de microplástico no fundo dos oceanos, e o Brasil tem peso importante na poluição dos mares. Se nada for feito, os oceanos terão mais plástico que peixes em 2050, segundo alerta a Organização Mundial da Saúde. Atentas a isso, organizações ambientais promovem campanhas e há diversos segmentos da economia indicando interesse em adotar embalagens sustentáveis para abandonar, ao menos parcialmente, o uso do material.
Combate às Fake News
Países do mundo todo adotaram medidas para combater as fake news (notícias falsas). Diversos boatos circularam nas redes sociais com a intenção de deslegitimar a gravidade da Covid-19, por exemplo. No Brasil, o Supremo Tribunal Federal (STF) começou a investigar ataques contra a própria corte e os trabalhos sobre a disseminação de fake news no país seguem em andamento.
Povos Indígenas
O Brasil está chamando atenção internacional quanto aos desmontes ambientais nos anos de 2020 e 2021. Ambientalistas denunciam na ONU os ataques aos povos indígenas e a preocupante alta nos índices de desmatamento e queimadas.
Populações LGBTIs
Mais de 80 vereadores LGBTIs foram eleitos no Brasil nas eleições municipais de 2020. Desse grupo, 26 eram vereadores trans, o que representa um aumento de 225% em relação a 2016. A expectativa é que esta vitória nas urnas resulte em avanços e em políticas públicas para essa população no país.
Antirracismo na prática
O desemprego gerado pela pandemia agravou ainda mais a desigualdade econômica entre pessoas negras e brancas no país. Algumas empresas se mostraram atentas à necessidade de combater o racismo estrutural, promovendo vagas exclusivas para pessoas negras ou investindo em programas de inclusão e diversidade.
A CAUSE destacou outro aspecto considerado fundamental para o avanço da luta antirracista: o respeito ao patrimônio histórico afrobrasileiro e a importância do reconhecimento de personalidades negras como fundamentais para a construção do país
Acesso a um ambiente virtual seguro – Vazamento de dados
A Lei Geral de Proteção de Dados, aprovada em 2020, obriga empresas a protegerem o público e avisarem essas pessoas caso tenham tido seus dados vazados. Mundo afora, instituições e autoridades se reúnem para debater sistemas de proteção de dados. O Brasil deve seguir o exemplo e participar desses circuitos internacionais.