Nota técnica "Educar na era da Inteligência Artifical: Caminhos para a BNCC Computação"

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15.07.2021
Tempo de leitura: 8 minutos

Evento discute os impactos da inovação tecnológica no ensino superior e no mercado de trabalho

Especialistas debateram sobre os futuros profissionais dentro de uma sociedade em contínua transformação tecnológica em encontros de preparação para o enlightED 2021

Imagem do encontro do enlightED com os participantes do debate

A inovação no Ensino Superior e os desafios profissionais da aprendizagem contínua foram os temas debatidos, nos dias 1º e 8 de julho, em uma série de encontros transmitidos on-line, como preparação para o enlightED 2021, uma das maiores conferências de inovação e educação no mundo, organizada pela Fundação Telefônica Espanha, pela IE University e pelo South Summit. A edição deste ano será realizada nos dias 19, 20 e 21 de outubro. Confira os principais destaques desses dois últimos encontros.

Relembre o primeiro encontro de aquecimento, realizado e transmitido on-line, ao vivo, no dia 17 de junho. Na mesa de debates, os convidados abordaram o panorama da educação digital.

Educação Superior em transformação 

As transformações que andavam a passos lentos dentro de grande parte das instituições viraram questões de máxima importância na pandemia, a exemplo da digitalização dos processos de aprendizagem. Dentro deste cenário, as universidades perderam o monopólio do conhecimento e da tecnologia. Algumas empresas, inclusive, se mostraram bem mais avançadas do que elas nessas áreas, como provocou Victoria Galán Muros, chefe de pesquisa e análise na UNESCO- IESALC durante a mesa inovando no Ensino Superior: prioridades e novas competências, realizada no dia 1º.

Para ela, as instituições de educação precisam construir maiores alianças, que podem ser feitas com outras universidades, com a indústria e com empresas. “Temos que permitir que os estudantes e os representantes das organizações se conheçam, porque muitas vezes eles não se conhecem, nem sabem que existe valor neste encontro”, afirma. Victoria ainda diz ser necessário eliminar o estigma de que a colaboração com empresas é negativa. “A universidade tem que ter sua autonomia, lógico, mas ela precisa consultar o que ocorre fora”, conclui.

Joaquin Guerra Achem, vice-reitor acadêmico de Inovação Educacional do Instituto Tecnológico de Monterrey, também foi um dos convidados para a conversa. O profissional compartilhou que para acompanhar as mudanças na educação superior, ele faz articulações com os setores produtivos, a fim de “entender as suas necessidades e incorporá-las ao processo educativo.”

“O principal desafio, no entanto, são as mudanças organizacionais dentro da universidade. Estou muito focado em mudar a mentalidade do professor e do próprio aluno. Ele precisa perceber que o importante não é apenas saber, mas o que fazer com aquilo que foi aprendido”, afirma.

Mercedes Valcárcel, diretora Geral Fundação Generation Spain, ressalta que, no futuro, haverá demandas que ainda não estão cobertas pelo ensino superior atual, entre elas, o setor da economia verde, que visa o desenvolvimento sustentável sem degradar o meio ambiente. “Alguns déficits profissionais podem ser suprimidos por formações específicas. O contexto da pandemia está mostrando que precisaremos de grande capacidade de adaptação”, diz.

 

Educação para desenvolver novas habilidades 

Alejandro Villanueva, diretor de Educação, Inovação e Empreendedorismo da Fundação Televisa e fundador da POSiBLE, iniciou a sua participação no debate o desafio profissional da aprendizagem contínua, no dia 8, comparando os sistemas de educação com a produção do Ford Modelo T, automóvel produzido pela fábrica norte-americana Ford no começo do século XX, que popularizou e revolucionou a indústria automobilística. A ideia de “educar em massa” a população fazia sentido durante aquele período e foi muito importante para dar base de conhecimentos e habilidade a milhares de pessoas. No entanto, segundo o especialista, esta lógica já não faz mais sentido.

“Hoje, percebemos que este modelo desperdiça uma quantidade enorme de potencial humano para aprender, desenvolver habilidades e interagir. Ele não reconhece que cada pessoa tem um estilo de aprendizagem, assim como necessidades e preferências”, afirma Alejandro. “Ao homogeneizar a educação, perdemos uma quantidade enorme de potencial humano.

“Antes, fazíamos uma graduação ou pós-graduação, no entanto, ainda é pouco quando comparamos com as necessidades de inovação tecnológica e científica”, alerta o diretor de Educação. Milhões de empregos estão sendo automatizados e os trabalhadores não estão desenvolvendo habilidades e conhecimentos que os permitem aproveitar este novo contexto.

“Muitas pessoas ficaram presas em um pacote de habilidades que talvez sejam úteis para algumas situações, mas em outras elas são obsoletas. Na Fundação Televisiva, estamos trabalhando para garantir que não só as crianças desenvolvam as habilidades necessárias, mas também para que os adultos possam amplificar suas habilidades e ter mais ferramentas para usarem melhor o seu potencial”, aponta.

 

Incentivo de empresas 

O mundo vive um desequilíbrio profissional: há um déficit de trabalhadores para as novas profissões, que requerem competências digitais especializadas, enquanto ainda existem altas taxas de desemprego em outros setores.

“O que precisa ser feito para que as empresas incentivem as pessoas a se adaptarem a essa revolução tecnológica, garantindo assim a empregabilidade dos profissionais?”, questiona a mediadora do evento Maria Benjumea, CEO e fundadora do South Summit.

Diana de Arias, CEO e criadora do Decedario, método de estimulação cognitiva destinado às crianças que precisam de apoio educativo, defende que as empresas podem oferecer formações constantes para o desenvolvimento de habilidades técnicas e soft skills.

Já Alexandre Depreux, CCO da TeamEQ para Espanha e LATAM, ressalta a importância da diversidade nas empresas, promovendo a relação entre gerações, como colegas com idades diferentes. “Uma pessoa mais velha tem valores e experiência que uma mais jovem não tem. Já um jovem tem aptidão tecnológica. Nós temos que combinar estas duas coisas: equipes mais diversas funcionam melhor.”.

 

“Eu integro com a máquina para poder ser melhor” 

A revolução tecnológica está ocorrendo de forma radical e acelerada, e retorna a dúvida: as máquinas vão substituir o homem?

Para Alexandre Depreux, a resposta é não. “A tecnologia não substitui o ser humano, ela o acompanha”, diz. Segundo ele, essa mudança trará resultados positivos: os profissionais trabalharão menos, com maior eficiência, logo, vão agregar maior valor. “Há outros postos de trabalho sendo criados e é preciso ver isso pelo seu lado positivo”, comenta, otimista. “Haverá trabalho para todos, sim. O que nós queremos é combater o trabalho estagnado, aquele em que as pessoas fazem tudo de forma mecânica.”

Depreux complementa que, para além das novas habilidades, a sociedade precisa passar por uma mudança de mentalidade. Por exemplo, já não faz mais sentido uma pessoa ficar no mesmo cargo, na mesma empresa, a vida toda. “O fato de estar em constante formação, faz com que você saia da zona de conforto. Para ter trabalhos de maior valor, temos que estar continuamente nos desenvolvendo e nos reciclando”, conclui.

Alejandro Villanueva compartilha da mesma opinião. As máquinas e as novas tecnologias vão mudar todos os aspectos da vida humana e por isso é necessário se perguntar como vamos criar uma relação de maior colaboração com elas. “Não sou eu contra a máquina, nem a máquina que vai me substituir. Eu integro com a máquina para poder ser melhor”, afirma.

 

O futuro do turismo 

“O turismo é o grande empregador de jovens no mundo”, afirma Natalia Bayona, diretora de Inovação, Educação e Investimento da Organização Mundial do Turismo (OMT). No entanto, ela aponta que 50% dos jovens que trabalham com turismo têm sua formação educacional encerrada no Ensino Médio. “Se não mudarmos como as pessoas estão sendo educadas, não podemos falar sobre um setor turístico de alta relevância dentro da economia”, alerta.

Para mudar esta realidade, Natalia apresenta a Tourism Online Academy, uma plataforma de aprendizagem virtual que oferece cursos com foco nos conceitos, nas áreas de interesse e nos princípios fundamentais relacionados ao setor de turismo, abordando os desafios que enfrenta, como globalização, revolução digital, marketing de viagens e sustentabilidade. “Nossa ideia é que com os cursos on-line, certificados por boas universidades e pela a ONU, as pessoas tenham acesso a empregos neste setor. As habilidades aprendidas não são para amanhã, são necessárias para hoje”.

 

Apoio aos empreendedores

Em março de 2020, no começo da pandemia de Covid-19, a OMT, em parceria com a OMS, criou o Healing Solutions For Turismo Challenge, um desafio global para startups e empreendedores do turismo. “Queríamos que nos dissessem como salvar o setor da Covid. Das dez melhores startups de todo o mundo, três nos disseram algo bem simples”, conta Natália. A ideia era criar um passaporte sanitário com a tecnologia da blockchain, assim seria evitável que os comprovantes de vacinação e testes de PCRs, para identificar a contaminação pelo vírus, fossem falsificados.

“Em Administração, aprendemos a expressão Time to Market: se você quer gerar eficiência e inovar, não basta ter uma ideia brilhante. Ela tem que ser comercializável e precisa chegar no momento exato”, explica. O passaporte sugerido pelas startups foi introduzido na Europa um ano depois de idealizado. “É por isso que estou tão obcecada na OMT em apoiar os empreendedores”, afirma a diretora.


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