Crédito: Nito/Shutterstock
Por Ana Luísa Vieira, do Promenino, com Cidade Escola Aprendiz
“Daivison, João e Pedro… Meus novos amiguinhos, ralando p conseguir um dindin…”. Esta é a legenda da foto publicada no Instagram e republicada no Facebook oficial de Xuxa Meneguel no último sábado, 5 de março. A imagem da apresentadora dentro do carro, com o vidro aberto, ao lado de três adolescentes –sorridentes, segurando bolinhas de tênis –, trouxe à tona um debate sério e sempre oportuno: a exposição do trabalho infantil.
*Crédito: Reprodução (Imagem alterada pelo Promenino, a fim de proteger a identidade das crianças).
Com mais de 35 mil curtidas no Instagram e 394 mil curtidas e 5,2 mil compartilhamentos no Facebook, os internautas se dividiram nas opiniões. Muitos a defenderam. “Independente da situação de cada um deles, você foi capaz nesse um minuto de atenção tirar esse sorriso lindo deles! O amor, carinho, atenção… Simples assim!”, escreveu uma seguidora.
Outros a questionaram, porém, sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que promove a proteção integral e identidade dos jovens em situação de vulnerabilidade.
Parte dos seguidores, inclusive, incentivou a apresentadora a utilizar o post para falar das causas e do combate ao trabalho infantil. “Sabia que pra cada real que a criança recebe trabalhando, ela deixa de ganhar 2 na vida adulta? Isso porque ela tende a entrar num círculo vicioso de subemprego que se perpetua na vida adulta e nas gerações futuras. Existe um senso comum de que é melhor a criança estar trabalhando do que roubando, mas esse é um grande equívoco; é melhor a criança estar estudando e participando de atividades culturais, esportivas e outras que a ajudem a se desenvolver plenamente”, alertou uma leitora.
Quase 9 mil pessoas se manifestaram com comentários, alguns deles respondidos, como o da internauta acima. “Que preguiça, espero que sempre tenha o sábado livre, como o dia de hoje… Aliás, você conhece o trabalho que faço na minha fundação ha 26 anos?”, retrucou em postagem a apresentadora, que por seu trabalho na televisão ficou conhecida como “Rainha dos Baixinhos”.
“A polêmica levantada por Xuxa, ainda que sem intenção, colabora com as campanhas contra a exploração de mão de obra infantil no Brasil”, explica o advogado Ariel de Castro Alves. Como uma pessoa pública, é preciso ter mais responsabilidade com o que se posta nas redes sociais, afirma Alves, que também é coordenador estadual do Movimento Nacional de Direitos Humanos em São Paulo.
Em recente coluna para o Promenino, a educadora Adriana Friedmann, especialista na área da infância, defende a construção de uma cultura de ética em relação a meninos e meninas. “Há várias formas de adentrar seus universos particulares, começando por pedir licença a cada vez que ficamos próximos, brincamos, tiramos uma foto ou, de alguma forma, as registramos”, argumenta.
A fim de esclarecer o ponto de vista ético da postagem feita por Xuxa, o Promenino pediu a Ariel de Castro Alves um esclarecimento, sob o ponto de vista legal, do que a controversa foto representa – e dos cuidados que todos temos de tomar ao lidar com a imagem de crianças nas redes sociais. Confira:
Opinião
“Xuxa, como uma pessoa pública, que inclusive ganhou fama e dinheiro pelo enfoque no público infantil, precisa ter mais responsabilidade com relação ao que posta nas redes sociais. Ela não pode alegar ingenuidade ou desconhecimento da ilegalidade do trabalho infantil, inclusive porque mantém uma Fundação voltada ao atendimento de crianças e adolescentes em situação de risco e também porque já participou de campanhas de enfrentamento à violência contra crianças no país.
Ela, ao invés de exaltar o trabalho infantil, como aparentemente teria feito, mostrando a prática com aspectos positivos, inclusive postando como se o trabalho gerasse felicidade aos meninos explorados, poderia postar sim, mas com o alerta de que o trabalho infantil é ilegal e que essas práticas não são positivas ao desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes. Ela tem o direito de postar a foto, mas condenando a exploração do trabalho infantil e não exaltando, aparentemente, como algo positivo.”