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Empreendedores preocupados com a gestão de resíduos, a educação ambiental dos consumidores e o futuro do planeta veem oportunidade de crescimento com as greentechs

gestão de resíduos

 

Quando o assunto é lixo e reciclagem, o Brasil não tem motivos para comemorar. O país produz 80 milhões de toneladas de lixo por ano, mas apenas 3% desse material vai para a reutilização, segundo informações da Agência Brasil. Diante desse cenário, algumas empresas encontraram oportunidades de fazer dinheiro e ajudar a realizar a gestão de resíduos, dando um destino certo para itens descartados.

Estudo feito pela Pipe Social mostra um aumento de 42% nos negócios voltados para a gestão de resíduos no país. Os dados fazem parte do 3º Mapa de Negócios de Impacto, em que foram analisados 536 empreendimentos alinhados à agenda ambiental, com atuação nos setores da agropecuária, florestas e uso do solo, indústria, logística e mobilidade, energia e biocombustíveis, água e saneamento e gestão de resíduos.

O levantamento mostra que grande parte das greentechs – as empresas de iniciativa verde, que utilizam soluções tecnológicas – estão de olho no lixo e no resíduo como possibilidade de crescimento e investimento.

Os negócios voltados para esse mercado começaram a crescer a partir da instituição da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), em 2010, que abriu uma série de oportunidades para empreendedores desenharem modelos de negócio que auxiliassem os geradores a cuidarem da destinação correta dos resíduos. A lei nº 12.305/10 organiza a forma como o país tem que lidar com o lixo, exigindo dos setores públicos e privados a transparência no gerenciamento de seus resíduos.

A determinação veio para chamar a atenção para um grande potencial que era desperdiçado, já que muitos objetos descartados poderiam ser reciclados ou reaproveitados, poupando recursos naturais e financeiros e a emissão de CO2, que desequilibra o efeito estufa.

Desde então, o mercado tem se tornado cada vez mais oportuno para esses negócios de impacto. E para garantir espaço nesse ramo competitivo, os empreendedores buscam um diferencial para os seus serviços.

Recompensa para quem recicla

Um campo para quem deseja se consolidar no mercado de gestão de resíduos são os negócios focados em coleta e destinação correta de lixo que oferecem algum tipo de benefício para o consumidor final. Esse modelo consiste em recompensar, por meio de pontos e outras vantagens, quem leva resíduos separados (PET, vidro, alumínio etc.) até os pontos de coleta.

Um exemplo é a Molécoola. Fundada em 2017, por Rodrigo Jobim Roessler, a startup incentiva o consumidor a praticar reciclagem através de um programa de fidelidade ambiental. “Ao invés de ser um programa de fidelidade em que você ganha pontos quando gasta dinheiro no cartão de crédito, você recebe pontos por todo material reciclável que leva até uma das nossas estações”, explica o fundador.

Dependendo do material que o consumidor separa, os itens podem valer mais ou menos pontos, que, depois, podem ser trocados por produtos de diferentes parceiros.

Com um modelo ambientalmente correto, que envolve tanto a indústria de bens de consumo quanto os varejistas e consumidores, a Molécoola também oferece capacitações e treinamentos para os recicladores poderem se desenvolver nessa área de atuação.

“Além da questão ambiental, tem uma questão social super relevante que é intrínseca à operação do nosso negócio”, diz Rodrigo.

startup tem como objetivo gerar impacto ambiental, receber a maior quantidade possível de materiais e destinar esses itens de forma 100% correta. Desde o início dos trabalhos, gerou uma base de 35 mil consumidores cadastrados e já destinou quase 1.000 toneladas de resíduos de material reciclável. Entretanto, o empresário ainda vê muitos desafios para que a gestão de resíduos seja um bom negócio no Brasil.

“Como humanidade, estamos no processo de tomada de consciência de que aquilo que a gente compra vira resíduo e precisa ir para algum lugar. Do ponto de vista do planeta, não tem essa de ‘jogar fora’. Então, definitivamente, não é um negócio fácil e simples. É um segmento que vem cheio de desafios que a gente ainda está começando a digerir e a resolver. Mas acredito que o mercado ainda vai se aquecer nos próximos anos, há perspectiva de crescimento”, ressalta Rodrigo.

Apesar das muitas portas fechadas que teve no início da carreira, Rodrigo acredita que é possível seguir no ramo. E para quem optar por esse caminho, aconselha se arriscar e persistir. 

“A verdade é que toda aposta em uma inovação tem o risco de dar errado. E não é porque deu errado que aquele profissional não é bom, não é uma pessoa capaz ou comprometida. Falando de maneira mais ampla, tem uma mudança cultural para acontecer. Essa mudança está acontecendo! Percebemos que isso está em andamento, mas é talvez um dos maiores desafios quando você traz alguma coisa inovadora para a mesa”, finaliza.

Digitalizando o lixo

Outro exemplo de gestão de resíduos em negócios de impacto são as empresas de rastreabilidade da cadeia de resíduos, como a Plataforma Verde (GreenPlat). Criada em 2017 pelo especialista em gestão de Resíduos, Chicko Sousa, ela funciona com logística reversa, que permite a integração, em um sistema transparente, compartilhado e de corresponsabilidade, de todos os participantes da cadeia de gestão de lixo, de materiais de produção industrial e na atividade comercial, além do monitoramento de cada um.

Seu software permite o rastreamento on-line de cada etapa, desde a geração até a destinação final dos resíduos, ajudando a diminuir o número de aterros irregulares, pontos de descarte viciados e a atuação de empresas não autorizadas.

“A Plataforma Verde, o nosso software ambiental para o setor privado, abrange desde a extração da matéria-prima até a destinação final. Ajudamos nossos clientes a atingirem aterro sanitário zero e a aumentarem as taxas de reciclagem, também os apoiando na conformidade ambiental”, explica Chicko.

A plataforma também oferece tecnologia para o setor público com o CTR (Controle de Transporte de Resíduos), que monitora os resíduos gerados nas cidades, criando a economia circular em alta escala e engajando todos os elos de uma cadeia de valor.  A Plataforma Verde monitora, atualmente, mais de 18 mil toneladas de resíduos/dia e conta  com quase 700 mil empresas cadastradas. 

“Nosso software foi montado em formato de rede. Dessa forma, as empresas acabam colocando novas empresas no nosso radar, e quando elas estão atreladas, dificilmente saem do ecossistema”, diz o criador.

Para o CEO da GreenPlat, o mercado de gestão de resíduos tende a crescer, mas ainda caminha a passos lentos. “O principal desafio é a baixa consciência das empresas sobre cuidados socioambientais. Estou há duas décadas nesse mercado, mas somente nos últimos anos que vemos um interesse maior pela sociedade em geral. Esse é um mercado promissor, principalmente porque, infelizmente, ainda temos uma gestão de resíduos precária em muitos Estados, além de baixos investimentos e interesse por parte do setor privado”, afirma.

A GreenPlat foi a primeira startup do Brasil na área ambiental a receber o prêmio Technology Pioneer, concedido pelo World Economic Forum.

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