Na educação no século XXI, lidar com emoções e sonhos é parte importante do cenário escolar.
Na educação no século XXI, lidar com emoções e sonhos é parte importante do cenário escolar.
Um debate sobre educação nunca é um debate solitário. Cada aluno, educador e gestor tem parte no delicado processo de construir formas de educar que contemplem não somente habilidades e competências, como também o complexo insumo de que são feitos os humanos: seus anseios, dores, sonhos e capacidade de relacionamento com o outro. A escola como originalmente pensada não contempla esse arcabouço relacional, e transformá-la empaticamente começa quando ela é conversada e boas práticas são partilhadas.
A iniciativa Escolas Transformadoras, do Instituto Ashoka em parceria com o Instituto Alana, reuniu pensadores e articuladores para conversar sobre empatia em evento no dia 19 de maio. Embora pareça uma palavra de significado cristalino – capacidade de partilhar dos sentimentos e emoções de outras pessoas – o verbete provou-se um desafio de definição e de imaginar sua aplicação. O mediador Renato Janine Ribeiro, após trazer uma explanação sobre a origem da palavra, levantou duas perguntas aos convidados: a empatia está consolidada ou só está na superfície? E como ela se insere no contexto educacional?
As indagações acenderam o debate sobre a empatia dentro do ser humano. Seria ela uma característica inerente ou uma habilidade que pode ser aprendida e posteriormente reforçada? Ainda que divididos, os participantes da roda de conversa, com toda sua gama de experiências, concordaram que ela precisa ser encorajada e fazer parte do contexto escolar.
A artista plástica e contadora de histórias Stela Barbieri falou sobre a falta que sente da empatia em conversas com educadores: “As pessoas ficam na dinâmica da coisa, e não na experiência que não está nem em mim nem em você, mas entre nós: a sua experiência em mim e minha experiência em você traz uma terceira, a compartilhada”.
Helena Singer, diretora do Departamento de Ações Estratégicas e Inovação do SESC Brasil, provocou reflexão ao dizer que “não é possível educar sem empatia, mas é possível escolarizar e isso acontece o tempo todo”. Ela adicionou que a estrutura escolar de hoje não favorece o sentimento. Eda Luiz, diretora da CIEJA Campo Limpo, ainda trouxe o questionamento de como incentivar a empatia em uma sociedade de desigualdades violentas. “Os meus alunos saem do extremo sul, percorrem três horas de ônibus lotado. Isso não é violento? Como ele vai construir a empatia com o outro, que está na mesma situação que ele?”.
Longe de propor soluções definitivas, muito no exercício de escutar práticas e absorvê-las, a segunda parte do debate primou pela aplicação boas ideias no cotidiano educativo. Braz Nogueira, atual dirigente da DRE Ipiranga, tem como convicção de que é necessário abolir o “adultocentrismo” – e que as ideias se enriquecem com o envolvimento das crianças. Rosely Sayão, psicóloga e consultora educacional, discorreu sobre trocas de papeis que não fiquem no subjetivo. “Vamos colocar os alunos nos lugares dos professores, os professores nos lugares dos diretores: essa é uma maneira de começar a entender o outro e o que ele significa.”
Foi novamente com uma provocação que Helena terminou suas falas, alegando o perigo do discurso da empatia, “o risco de ampliar a demanda superficial por empatia, como se fosse agora a palavra da moda, que vai servir talvez para quem venda coisas, mas não para transformar a educação”. Ela defende que não se deve dar aulas nem avaliações sobre empatia, muito menos transformá-la em um trabalho filantrópico. A empatia faz parte de um aprendizado muito mais profundo, que quando experimentado pelos educadores, pode se desenrolar em práticas de diversas esferas.
A fundadora e presidente do Instituto Alana, Ana Lucia Villela, mostrou-se satisfeita com a sensação de que ainda havia muito para ser partilhado entre os participantes. “Que bom que não deu tempo de eu falar mais, do outro falar mais. Todo mundo vai sair inquieto, com mais vontade de escrever e pesquisar. Foi um encontro de inquietações.” Ela espera que reuniões como essa se multipliquem em outras rodas de conversa e debates, não só entre gestores e especialistas, mas também entre crianças, jovens e adultos, a comunidade como um todo.