O estado do Piauí foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como o primeiro território das Américas a implementar o ensino de Inteligência Artificial (IA) na Educação Básica, em setembro do ano passado. A disciplina é obrigatória aos alunos do 9º ano do Ensino Fundamental e das três séries do Ensino Médio, desde o início de 2024.
Atualmente, mais de 120 mil estudantes da rede estadual têm aulas sobre IA e suas possibilidades de uso. A iniciativa pioneira do Piauí também foi recentemente destacada no relatório “Inteligência artificial na educação básica: novas aplicações e tendências para o futuro” do Centro de Inovação para a Educação Brasileira (Cieb).
A disciplina de IA é oferecida como parte do conjunto de inovações pedagógicas implementadas pela Seduc/PI, com o apoio de uma plataforma digital desenvolvida em parceria com o Google.
Em Guaribas, município do Sul do Piauí, perto da fronteira com a Bahia, a IA no currículo já começa a gerar resultados concretos. No Centro Estadual de Tempo Integral (CETI) Paulo Freire, o projeto dos estudantes para desenvolver um aplicativo para a agricultura familiar, orientados pela professora Amanda Sousa, une conhecimentos das disciplinas de IA, Biologia e Projeto de Vida.
“Com o contato com essas ferramentas, os alunos passam a contribuir para soluções práticas na sua realidade. No caso do protótipo, a ideia foi criar um banco de sementes que ajudasse agricultores afetados pela estiagem”, destacou a professora Amanda ao site da Secretaria Estadual de Educação do Piauí (Seduc/PI).
Nas escolas com a disciplina de IA, a jornada acadêmica dos estudantes vem se transformando com realização de projetos interdisciplinares e resolução de problemas. “Independentemente da profissão que eu escolher, a IA será útil, porque está presente em quase todos os setores. Essa experiência me ajudou a enxergar novas possibilidades profissionais”, disse Carolina Pereira, aluna do último ano do Ensino Médio no CETI Paulo Freire, ao site da Seduc/PI.
Olimpíadas de IA e parceria com MIT
Os resultados da política do ensino da tecnologia e da adoção de IA no currículo escolar do Piauí já podem ser mensurados. Neste ano, o Estado emplacou 1.010 estudantes classificados para a terceira fase da Olimpíada Nacional de Inteligência Artificial (ONIA) e ocupa a segunda posição no ranking de estados com mais estudantes aprovados para a 3ª fase, ficando atrás apenas do Paraná.
E os estudantes piauienses também estão na quarta e última etapa da Olimpíada Internacional de IA (IOAI) 2025, que neste ano ocorre em Pequim, na China. Todos os 85 alunos classificados receberão um treinamento com especialistas de ensino em IA e ciências da computação, farão simulados de provas objetivas e práticas, além de desafios de programação e análise de dados. Ao final, os quatro melhores serão premiados com medalhas de ouro e representarão o Brasil na competição em Pequim, que ocorre de 2 a 9 de agosto.
A Seduc/PI soma, desde 2023, 25 mil estudantes matriculados em cursos voltados à formação profissional como desenvolvimento de sistemas com ênfase em IA, programação de jogos digitais e marketing digital.
Merecem destaque as iniciativas como a disciplina de empreendedorismo, desenvolvida em parceria com o Massachusetts Institute of Technology (MIT), voltada ao mercado digital e ao ecossistema de startups; e um projeto de ensino de robótica em parceria com a empresa Tron Robótica Educativa, que envolve uso IA e programação implantado inicialmente em cem escolas.
IA brasileira
Dentro de seu projeto de IA na educação e na gestão, o estado do Piauí aposta no desenvolvimento de uma plataforma IA generativa com base de dados em português, 100% nacional. IA generativa é a forma popular para nomear as plataformas que utilizam a tecnologia LLM (Large Language Model ou, em português, Modelo de Linguagem Grande) — como as ferramentas ChatGPT, DeepSeek e Gemini.
Batizada de SoberanIA, a plataforma está sendo desenvolvida por uma equipe de pesquisadores de todo o Brasil e com o auxílio de um supercomputador de alta performance, que foi instalado no data center estadual. A máquina possui capacidade de processamento 250 vezes superior à de um computador comum.
“Eu sou fã de tecnologia e ciência. Nosso objetivo é tentar reduzir os custos, melhorar os serviços prestados pelo governo”, explicou o governador Rafael Fonteles durante a apresentação do projeto ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, em fevereiro. Entusiasta da tecnologia, Fonteles tem formação em Matemática pela Universidade Federal do Piauí e mestrado em Matemática Aplicada pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA).
Benefícios da IA em sala de aula
Em seu livro “Educação para a era da inteligência artificial”, Charles Fadel, pesquisador e professor de Universidade de Harvard, e especialista em IA, destaca que, entre os benefícios do seu uso, em sala de aula, estão: a personalização do ensino; o desenvolvimento de planos de aulas mais efetivos; e a integração entre os conteúdos estudados e a criação de materiais e tarefas interdisciplinares. Na gestão escolar, a IA pode ajudar a combater a evasão escolar, automatizar tarefas administrativas, e monitorar políticas públicas educacionais.
A obra traz reflexões sobre como a IA transforma a maneira de ensinar e aprender, analisa o seu avanço e desmistifica os temores sobre superinteligência.
Traduzido e editado no país com o apoio da Fundação Telefônica Vivo, Fundação Santillana e Instituto Península, o livro foi escrito em coautoria com os também pesquisadores Alexis Black, Robbie Taylor, Janet Slesinski e Katie Dunn.
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