Apesar de vantagens significativas de quem opta pelo empreendedorismo, como maior realização pessoal e flexibilidade, há também muitas barreiras a serem superadas pelo caminho. Confira dicas de quem já superou muitas delas.
Quem está acompanhando os resultados da recente pesquisa Juventude Conectada – Edição Especial Empreendedorismo já sabe que a maioria dos jovens brasileiros está disposta a encarar os desafios do empreendedorismo e enxerga esse caminho com bons olhos. Para 74% dos entrevistados, de 15 a 29 anos, é melhor ter o próprio negócio do que trabalhar para alguma empresa.
Não faltam argumentos para justificar a preferência. Realização pessoal, motivação financeira, liberdade de horários e escolhas e maior engajamento com a atividade profissional apareceram como os principais motivos listados na pesquisa realizada pela Fundação Telefônica Vivo em parceria com IBOPE Inteligência e Rede Conhecimento Social.
“Sempre soube que o empreendedorismo era o meu caminho, nunca me vi como alguém que bate cartão”, relata Thais de Souza Ferreira, de 30 anos. Desde os 6, a carioca ajudava os pais a vender alimentos na praia para complementar a renda da família. Na escola, vendia desenhos próprios e prestava serviço como monitora.
Já formada, foi camelô e dona de food truck até criar, em 2016, o Mãe&Mais, negócio social que oferece serviços e informações de saúde e bem-estar para gestantes, mulheres e crianças na primeira infância. O empreendimento foi incubado pelo Pense Grande em 2017.
“Eu comecei empreendendo por necessidade e depois veio o propósito de promover uma transformação social na comunidade. Por isso, desistir não é e nunca foi uma opção”, enfatiza Thais, que é mãe de três filhos e conta com uma rede de apoio familiar que a ajuda a se dividir em várias funções.
Superando desafios do empreendedorismo
Quem resolve empreender sabe que não são poucas as barreiras enfrentadas ao longo da jornada. A falta de tradição empreendedora e a burocracia para obter investimentos foram algumas citadas pelos participantes da pesquisa Juventude Conectada, mas os desafios não param por aí.
“Sou negra, periférica, mãe. Numa sociedade como a nossa, os rótulos também são determinantes. Parece que o empreendedorismo foi feito só para um determinado grupo de pessoas”, define Thais. “Conseguir um investimento é extremamente difícil, mesmo quando você cria um negócio social de impacto. A saída é lutar, lutar e lutar”.
No caso dos jovens, a idade pode causar certa descrença, como conta a empreendedora cearense Emanuelly Ferreira de Oliveira, de 30 anos: “as pessoas ainda acham que o jovem está de brincadeira ou que não tem a experiência necessária para prestar um bom serviço”.
O fato de ser uma mulher atuando com tecnologia é, para ela, outra dificuldade, já que o campo é geralmente dominado por homens mais velhos. “Toda reunião que eu vou preciso comprovar mil vezes o meu currículo. Passo por um interrogatório imenso, coisa que meu marido, que é meu sócio, não enfrenta”, conta a dona do Social Brasilis, uma metodologia de ensino de empreendedorismo que usa técnicas de gameficação para prototipar e realizar projetos, visando protagonismo e autonomia.
Percebendo a resistência, Emanuelly encontrou duas saídas para minimizar as desconfianças. A primeira foi trabalhar em cima da marca de sua empresa, em vez de focar no seu nome. A segunda foi buscar o apoio de instituições, como a Universidade Federal do Ceará, que trouxessem credibilidade para a plataforma. Assim, foi ganhando espaço e mercado e, hoje, a empresa, que passou pelo Pense Grande em 2016, já visa expansão para outros estados.
Falta de apoio e incentivo
A pesquisa Juventude Conectada – Edição Especial Empreendedorismo também apontou a tendência da educação formal e das famílias em estimular mais a busca por segurança financeira que a autonomia nos negócios. O empreendedorismo ainda é visto por muitos como algo transgressor e arriscado.
“Na maioria das vezes, o jovem passa por um processo de silenciamento e é levado pelo o que a família quer e pelo o que a sociedade espera dele”, acredita Emanuelly, que só teve forças para encarar os desafios do empreendedorismo quando já estava formada em letras e atuando como professora.
“Quando criei o Social Brasilis, era finalmente algo meu, era minha voz e a primeira vez que eu estava vivendo meu próprio sonho, quebrando meus próprios paradigmas”, diz a empreendedora, que segue com o propósito de ajudar outros jovens a tomarem os rumos da própria vida. “Quando as pessoas ganham voz elas saem transformadas. Por isso eu digo que os jovens precisam ser ensinados que são capazes de ir atrás de seus próprios sonhos e fazer acontecer”, diz a jovem empreendedora.
Formação e troca de ideias
Outros dados importantes do estudo mostram que, se existem desafios, há também oportunidades que aproximam a juventude do empreendedorismo. Ter referências formativas e afetivas são pontos centrais, segundo a pesquisa Juventude Conectada.
Saído de uma comunidade ribeirinha do Pará, Taissir Wilkerson Carvalho, de 31 anos, sempre buscou na superação dos desafios do empreendedorismo uma alternativa mais rentável, flexível e cheia de propósito.
Ele é dono do Embarcar, que fornece informações sobre transportes hidroviários da Amazônia e foi também faz parte do Pense Grande. Apesar de ter sido dono de dois negócios anteriores, foi só quando fez um curso especializado em gestão de finanças e pessoas que ele teve a certeza de que estava no caminho certo.
“O processo formativo foi um verdadeiro divisor de águas na minha vida. Além de aprender muito, mudei meu modo de pensar e pude ter a clareza de que o empreendedorismo era para mim”, define.
Taissir faz questão de passar tudo o que aprendeu para frente. “Tem muito site e muito curso gratuito de programação, de modelo de negócios. Se você não tem condições de pagar por algo mais robusto, comece se qualificando com o material que já está disponível”, indica.
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