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Com assuntos variados e contemporâneos, autores contam sobre a produção nacional na pandemia. Confira nomes para ler e expandir os horizontes

#Educação#Educadores

Imagem da escritora Aline Bei

Uma onda de novos escritores e escritoras brasileiros têm balançado a literatura nacional. Segundo o jornalista e autor, Chico Felitti, a outra boa notícia é que esses profissionais estão mais diversos.

“Vejo que, mais do que nunca, são publicados livros produzidos por pessoas que têm trajetórias diferentes. Falo de diversidade de gênero, de classe, étnica, e também de temáticas. Pessoas diferentes tendem a ter repertórios diferentes, o que pode gerar livros diferentes”. Ele enxerga esta abertura com muita empolgação e torce para que seja apenas o começo.

Em comum, e com mais frequência, estão os temas e aflições mais contemporâneos que servem como pano de fundo. Chico, por exemplo, narra a história do artista Ricardo Correa da Silva, conhecido como “Fofão da Augusta” no site BuzzFeed Brasil em 2017. A reportagem se transformou em seu primeiro livro, Ricardo e Vânia, em 2019. No ano seguinte, veio o segundo livro-reportagem A Casa: A história aterradora da seita de João de Deus

A escritora Lorena Portela escolheu a síndrome de burnout, distúrbio causado pela exaustão extrema, causada principalmente pelo excesso de trabalho, para a sua primeira obra, Primeiro Tive que Morrer, ambientado em Jericoacoara (CE). “São problemas que certamente atingiram outras gerações, mas esses debates são dos dias de hoje”, explica.

A autora lembra ainda outras contemporâneas como Natalia Timerman, que abordou o ghosting, termo usado para designar o término repentino de um relacionamento sem deixar explicações, no livro do livro Copo Vazio, e a argentina Ariana Harwicz que escreveu sobre a depressão materna, o Morra, Amor .“Os problemas, obviamente, não são novos, mas a discussão é bem moderna”, diz.

Produções literárias na pandemia 

A crise sanitária causada pela Covid-19 também chegou e afetou o trabalho dos escritores.  Chico conta que para ele foi um baque e tanto. “Como dependo de investigação para escrever, viajo muito, e passo a maior parte do meu tempo encontrando pessoas. A pandemia impediu as duas atividades. Um sufoco”, diz.

Para Lorena, o impacto foi outro. Ela conseguiu escrever e lançar sua primeira obra, de forma independente, durante a pandemia. “Estava numa posição relativamente confortável e consegui me dedicar ao processo de escrita, publicação e vendas”, afirma.

Segundo ela, ao mesmo tempo em que o momento ruim que passamos mina as forças, há quem se sinta mais inclinado a produzir, seja por inspiração, seja por necessidade. “A vida tem uma capacidade de regeneração absurda e não é mito dizer que crises abrem espaço para a criatividade.” No entanto, ela destaca que isso não é uma regra e fala com cuidado sobre o assunto. “Ninguém tem obrigação de produzir nada enquanto está tentando sobreviver”, afirma.

Já Aline Bei, vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura em 2018 com O Peso do Pássaro Morto, diz que sentiu maior interesse das pessoas pela escrita e pela leitura, inclusive com a interação com o público pelas redes sociais. “Tenho trabalhado bastante com oficinas de escritas e isso tem intensificado essa troca”, diz.

Ela afirma que o ambiente virtual permite ter grupos diversos, com pessoas de diferentes estados e até países. “Se a pandemia trouxe alguma coisa que podemos incorporar no nosso cotidiano depois que tudo isso passar, é justamente a profundidade que a gente ganhou a partir das coisas que estão on-line”, afirma. “Podemos manter essas descobertas, que ajudam a literatura a chegar mais longe.”

 

Hábito de leitura 

Segundo o levantamento Retratos da Leitura no Brasil do Instituto Pró-Livro, divulgado em 2020, 52% dos brasileiros têm o hábito de leitura. A média de livros inteiros lidos em um ano é de 4,2 livros por pessoa. Esta é a única pesquisa em âmbito nacional que tem por objetivo avaliar o comportamento leitor do brasileiro.

Para Lorena, muitas vezes a leitura é posta em um lugar muito distante das pessoas e o mercado pode soar intelectualizado e elitizado. Por outro lado, muitos filmes e séries de sucesso são baseados em livros. “A divisão entre literatura boa e ruim é um dos motivos que atrapalha o incentivo à leitura”, afirma.

Ela diz que o importante mesmo é que as pessoas comecem a criar esse hábito, que se conectem com o exercício da leitura e que, a partir dele, desenvolvam o interesse por outras leituras. “Tudo bem se a pessoa estiver, eventualmente, lendo obras que são consideradas menos maduras por alguns. Abre caminhos, sabe?”

Aline ressalta a necessidade de encontrar obras que dialoguem com as sensibilidades do leitor. “Se assistimos a um filme e não gostamos, não deixamos de ir ao cinema. Já o livro tem uma resistência maior: a pessoa precisa acertar a obra de primeira, ou então, fica a premissa de que a leitura é chata”, diz.

Para ela, talvez o livro exija muito mais de nós, evocando a imaginação e a memória. “O importante é não desistir de ler.”

Já Chico Felitti diz que uma mudança no perfil dos autores conseguiria também construir um leitorado maior e mais diverso. “O Milton Nascimento já diria que o artista tem de ir aonde o povo está. Acredito cada vez mais que a temática dos livros deve ser a mais diversa o possível, porque assim iria ao encontro de públicos diferentes”, finaliza.

Autores para ficar de olho 

Que tal conhecer escritores brasileiros contemporâneos que estão fazendo sucesso no mercado literário nacional? Confira as sugestões:

• Itamar Vieira Junior

De Salvador, na Bahia, ele é o autor do romance Torto Arado, ganhador do Prêmio Jabuti, um dos mais importantes da literatura nacional, em 2020. O livro conta a história de duas irmãs, Bibiana e Belonísia, que vivem em condições de trabalho análogas à escravidão nos anos atuais em uma fazenda no sertão da Chapada Diamantina.

O escritor passou a sua adolescência no estado de Pernambuco e mais tarde na cidade de São Luís (MA). Ele estudou de Geografia na Universidade Federal da Bahia (UFBA), sendo o primeiro aluno receptor da Bolsa Milton Santos, dedicada para jovens negros de baixa renda.

 

• Bianca Santana

Natural da capital paulistana, além de escritora, ela é cientista social, jornalista e taróloga. Ela escreveu os livros Continuo Preta: a vida de Sueli Carneiro e Quando me descobri Negra, um dos vencedores do Prêmio Jabuti em 2016, na categoria Ilustração. Bianca foi considerada “mulher inspiradora” em 2015 e 2016, na área da literatura, pela Think Olga, e é hoje colunista da Revista Cult.

 

• Jarid Arraes

Escritora, cordelista e poeta de Juazeiro do Norte, na região do Cariri, no Ceará, (CE). Ela foi vencedora do prêmio APCA em Literatura na categoria “conto” com o livro Redemoinho em Dia Quente, em que fala sobre mulheres brasileiras que não se encaixam em padrões e desafiam expectativas. Ela também escreveu Heroínas Negras Brasileiras em 15 Cordéis, em que conta a história de mulheres negras que fizeram a história do Brasil.

 

• Julián Fuks

Filho de pais argentinos, Fuks nasceu em São Paulo, capital, e foi um dos selecionados pela revista britânica Granta como um dos 20 melhores jovens escritores. Em 2016, venceu o Prêmio Jabuti com seu livro A Resistência. A obra conta a história de uma família de intelectuais argentina que busca exílio no Brasil depois do golpe em seu país em 1976.

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