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O Garoa Hacker Clube é um laboratório de trabalho e convivência onde as pessoas se juntam para fazer e errar – e, por consequência, aprender.

Alguém passa com um fio em uma das mãos, e, na outra, uma placa de arduíno ou uma cerveja artesanal oferecida pela casa. Enquanto em um canto da sala um garoto queima os miolos para fazer um circuito funcionar, no outro ecoam risadas e o barulho de um teclado. De repente, o zunido da impressora 3D preenche o ambiente, ocupado por pessoas e/ou aparatos eletrônicos. Sempre acontece algo novo no Garoa Hacker Clube: conhecê-lo é entrar em mundo de curiosidades, onde tudo – ou nada – pode acontecer.

O Garoa Hacker Clube nasceu em 2009, do desejo de diversos colaboradores em ter um espaço inspirado em modelos que pipocavam mundo afora, como o alemão Chaos Computer Club ou o norte-americano Noisebrigde. Habitando primeiramente a Casa de Cultura Digital, hoje a associação fica nos fundos de uma casa no bairro de Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo. Você pode ser um membro associado, pagando uma taxa mensal ou anual, mas também usufruir do espaço simplesmente indo até ele. É chegar, procurar um canto e se acomodar.

A casa oferece diversos equipamentos para a feitura de projetos, como componentes eletrônicos, hardwares velhos e até uma impressora 3D. Tudo está disponível em caixas espalhadas, com uma regra de uso simples: pegou, usou, guardou. Na cozinha, é possível fabricar cerveja. A palavra possibilidade combina muito com o Garoa. Com tantos equipamentos de uso livre, não é difícil dar asas à imaginação e criar o que se quiser.

O que esse hackerspace oferece está muito além de aparatos à vontade. É um lugar de convivência. Pessoas de áreas como programação, robótica, mecatrônica, artes e marcenaria circulam criativamente, trabalhando e compartilhando. A autogestão é fundamental nos processos de aprendizagem que acontecem ali. Não há alguém para ministrar aulas ou dar oficinas, salvo eventos onde isso é determinado. Quem está ali para aprender faz, acerta e erra – caso se perca em algum ponto, pode contar com ajuda ou se virar sozinho.

Existem programações que são regulares. A mais famosa delas, e também onde estivemos para entrevistar os participantes, é a Noite do Arduino, que acontece todas as quintas-feira, às 19h30. O arduino é uma placa acessível que pode ser usada para diversas atividades, desde programar um robô ou até fazer funcionar um site. Mas, como explica Mike Howard, um dos integrantes mais antigos da casa, a “Noite do Arduino é uma noite de encontro; é quando todo mundo que se conhece socializa, quando quem é novo costuma chegar, e quando quem só quer conhecer pode ver a casa cheia”.

Aprender dentro do Garoa depende principalmente da força de vontade, da curiosidade, e de se fazer conhecer e conhecer outras pessoas. Mike diz ser fundamental entender que esse espaço é um lugar de trabalho, não de consultoria. Quem chega ali não pode esperar ser ensinado, porque todos estão envolvidos em algum projeto. O mais interessante é ter à disposição equipamentos, uma boa biblioteca e pessoas que entendem e fazem coisas muito diferentes da sua área.

“Conhecer as pessoas é sem dúvida o mais importante”, diz Renato Candido, um dos criadores do aplicativo Gymness, junto com os sócios Vitor Fernandes e Hugo Borges. A plataforma monta programas personalizados de exercícios físicos, para que o usuário possa elevar sua performance. Os três rapazes se conheceram quando o Garoa ainda era na Casa de Cultura Digital e acreditam que o ambiente e a circulação de pessoas foi crucial para sua empreitada.

Enquanto testava um sistema de contagem para o aplicativo, Vitor complementa que as trocas interpessoais podem ajudar no desenvolvimento de um projeto. “Por exemplo, um cara ajudou a fazer o sistema de barras. Ele nem era do projeto, mas estava presente, viu o que estava rolando e ajudou”. Os rapazes também se divertem com outras situações, como a de pessoas que chegam ao Garoa sem querer interagir, pedindo auxílio no TCC ou outros estudos. “Não estamos aqui para isso. Se você quer participar e aprender, tem de conviver”, ressalta Hugo.

O educador espanhol César Muñoz Jiménez, criador da Pedagogia da Vida Cotidiana, defende que a matéria-prima da educação seria aprender o outro em contraste com o eu. O cotidiano é um lugar de aprendizado, e o Garoa Hacker condensa essa definição muito bem. A prática de cada um fazendo o seu, ajudando-se esporadicamente, batendo a cabeça para acertar e dando a mão para o outro quando esse não acerta, é feita pela observação e pelo contato. “O assunto do Garoa Hacker é gente curiosa que faz coisas legais e esquisitas”, define Mike, com bom humor.

O aprendizado tecnológico que vem da observação, da curiosidade e da convivência
O aprendizado tecnológico que vem da observação, da curiosidade e da convivência