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A blockchain é a tecnologia que surgiu junto com a bitcoin, mas sua utilidade vai muito além das criptomoedas. Entenda como ela funciona e veja exemplos de como ela é usada na área de impacto social.

A blockchain é uma rede de confiança digital”, define Fabíola Greve, professora titular e pesquisadora da UFBA, além de especialista em blockchain.

Ao se realizar uma transação, do tipo financeira ou imobiliária, é preciso um elemento garantidor: ao transferir uma quantia em dinheiro, é necessário um banco; quando se transfere um imóvel, é necessário um cartório. A tecnologia blockchain elimina esses elementos garantidores. Logo, não é preciso recorrer a um banco para transferir dinheiro.

A segurança da rede se dá através de uma série de protocolos de criptografia computacional. “Ao ter a posse de um bem, somente você pode transferir aquele bem para outra pessoa. Isto porque só você detém a chave criptográfica de acesso daquele ativo”, explica Fabíola. Algumas nomenclaturas são difíceis de entender, mas é possível compreender como funcionam a partir da “analogia do cofre”, contada pela professora.

Todas as transações feitas na rede são armazenadas numa base de dados, em estrutura de corrente chamada blockchain – por isso o nome da tecnologia. De forma resumida, a blockchain é uma rede de confiança que funciona com blocos encadeados muito seguros, os quais sempre carregam o conteúdo das transações realizadas na rede.

O bloco posterior vai conter a impressão digital do anterior, além do seu próprio conteúdo e, com essas duas informações, gerar sua própria impressão digital. E assim por diante.

Então, se um hacker, ou alguém mal-intencionado, quiser alterar alguma informação neste conjunto de blocos não conseguirá. “Você não consegue mudar nada lá dentro, porque qualquer mudança pode ser percebida. A blockchain é altamente segura, além disso, todas as informações geradas através dela são armazenadas de forma replicada em todos os computadores da rede”, diz a pesquisadora. A cadeia de blocos, o modo como ela foi montada, é, portanto, matematicamente inviolável.

“Blockchain é a nova internet”

Costuma-se dizer que a blockchain é uma tecnologia meio, porque permite transações diretas. No entanto, é preciso um software que rode por cima dessa tecnologia para poder oferecer os serviços. É necessário desenvolver um aplicativo para usufruir do seu potencial. 

“A gente fala que a blockchain é a nova internet”, explica Fabíola Greve. A internet é um conjunto de computadores interligados que permite o envio de informações instantâneas. A blockchain rodaria por cima da internet que existe hoje, mas ela vai permitir a transmissão de informações, assim como transações de ativos – elementos que têm um valor agregado, como um carro, ou uma propriedade intelectual. “É um novo patamar de relacionamentos que se cria”, complementa a pesquisadora.

A blockchain passou a ser considerada para gerar impacto positivo em diversos setores. E como ela pode ser aplicada em projetos de impacto social? Veja a seguir exemplos que tangibilizam o uso desta tecnologia.

O uso na área da Saúde

Como toda nova tecnologia, há ainda um potencial enorme a ser explorado. É possível, por exemplo, desenvolver uma plataforma que armazene registros médicos para que os usuários possam ter o controle sobre os seus dados. “As pessoas teriam suas informações médicas na carteira digital. Ao ingressar em um hospital, os profissionais só teriam acesso às suas informações se você permitir. Não há o risco de alguma instituição vender os seus dados para seguradoras”, defende Fabíola.

A UNICEF vem explorando maneiras de usar o blockchain para apoiar seus esforços humanitários globais. A Prescrypto é uma das seis startups de blockchain financiadas pelo Fundo de Inovação da Agência da ONU. Ela desenvolveu um serviço de prescrição eletrônica que garante portabilidade de dados clínicos confidenciais de forma segura e privada.

Com o RexChain – tecnologia desenvolvida pela Prescrypto – as prescrições são armazenadas em um banco de dados criptografado, que apenas o usuário, ou as pessoas com quem ele escolhe compartilhar, podem acessar.

A inovação da empresa está no fato de que dados muito sensíveis são transmitidos de forma altamente segura, e isso tem um grande impacto nos grupos vulneráveis. A segurança da rede é importante para que os dados não sejam dominados pela indústria farmacêutica para priorizar benefícios econômicos, ignorando as necessidades dos pacientes.

 

Cadeia de rastreabilidade e meio ambiente

Com sua capacidade de transferir, registrar e monitorar ativos em um espaço virtual a baixo custo, a blockchain pode ser usada para responder aos desafios das cadeias de rastreabilidade de suprimentos globais.

Ao rastrear cadeias de suprimento combate-se a compra de produtos falsos, como medicamentos. É possível verificar se a cadeia age conforme os regulamentos existentes e os bons padrões ambientais, sociais e de governança. A tecnologia revolucionária pode verificar reivindicações éticas e ajudar a fazer cumprir os padrões trabalhistas – evitando trabalho infantil, por exemplo – e ambientais.

Provenance, uma startup com sede em Londres, testou com sucesso a tecnologia blockchain na cadeia de abastecimento do atum da Indonésia (uma das mais polêmicas do mundo). Os pescadores enviam um SMS após cada captura, dando-lhe uma identidade digital no ponto de origem. Um código de identificação digital permitiu o rastreamento em cada etapa da viagem, com novas informações adicionadas ao longo do caminho, até que o peixe chegasse aos restaurantes japoneses.

 

O potencial em produtos financeiros

As fintechs, startups que trabalham para inovar e otimizar serviços do sistema financeiro, estão usando blockchain em todo o mundo.

Coins.ph opera nas Filipinas, onde transferir dinheiro eletronicamente é muito popular, mas pode ser caro. A empresa desenvolveu um aplicativo móvel que roda em tecnologia blockchain e permite transferências de forma mais barata, rápida e direta para aqueles com acesso limitado a bancos formais.

Os usuários podem abrir uma conta simplesmente inserindo um número de telefone e verificando digitalmente sua identidade. Isso se traduziu em aumento da renda disponível, e a maior participação das populações mais vulneráveis ??no sistema financeiro.

Assim como a Coins.ph, a BitPesa, no Quênia; a Bitso, no México; e a Unocoin, na Índia, estão usando blockchain para agilizar os pagamentos internacionais, estabelecer novos tipos de carteiras digitais e permitir pagamentos para pessoas antes desconectadas.

“Estas moedas sociais são usadas para fomentar o desenvolvimento econômico local e regional. Com o uso delas é possível eliminar a presença de um banco. Muitas pessoas não têm condições de ter linha de crédito, ou conta bancária, então as moedas sociais podem cumprir esse papel. Não é preciso ter uma conta bancária, basta que você tenha a sua carteira digital”, explica a especialista, Fabíola.

No Brasil, existe a Moeda Seeds, uma empresa financeira baseada em blockchain cuja proposta é promover mudanças na economia global por meio de suporte a cooperativas. Em seu site a empresa afirma ter como missão humanizar as finanças. Tudo isso por meio da facilitação do acesso a financiamento e apoio técnico ao negócio. Foi ela que criou a primeira criptomoeda brasileira. Com esta e por meio do programa Moeda Semente foi facilitado o acesso a crédito e o desenvolvimento de milhares de comunidades.

Taynaah Reis é fundadora e CEO da empresa Moeda Seeds. Durante o Festival Social Good Brasil de 2017, ela contou sua trajetória e como a startup que fundou está utilizando a tecnologia blockchain para revolucionar as microfinanças. Assista ao vídeo abaixo!

O que é a tecnologia blockchain e como é aplicada a projetos de impacto social
O que é a tecnologia blockchain e como é aplicada a projetos de impacto social