Saltar para o menu de navegação
Saltar para o menu de acessibilidade
Saltar para os conteúdos
Saltar para o rodapé

Conhecido por combater as epidemias brasileiras do início do século XX, Oswaldo Cruz investiu em uma rede de pesquisadores que ajudaram a manter a ciência como aliada da saúde até hoje

#Educação

Foto do médico Oswaldo Cruz

Diante de uma crise sanitária, econômica e humanitária que afetou toda a população brasileira, a Ciência foi a principal solução para os desafios enfrentados pela sociedade. Apesar da semelhança com os dias de hoje, este período descrito diz respeito a outro contexto histórico, o de 1899, época em que se consagrou um dos médicos sanitaristas mais importantes do Brasil: Oswaldo Cruz (1872-1917).

Não à toa, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) no Rio de Janeiro, uma das instituições responsáveis por tomar a dianteira na produção de vacinas contra Covid-19 em território nacional, recebeu o nome em homenagem à trajetória do médico, que fundou e dirigiu o órgão público no fim do século XIX. Na mesma época, surgia em São Paulo o Instituto Butantan, fundado pela mesma equipe de Oswaldo Cruz, também com o objetivo de combater as epidemias que estudavam.

O interesse na área da microbiologia, ciência que estuda os micro-organismos, e a passagem pelo Instituto Pasteur, na França, foram grandes diferenciais na carreira do sanitarista ao investigar e estabelecer medidas para combater doenças como a varíola, a peste bubônica e a febre amarela. Mas o que realmente o destacou, em relação aos demais médicos do período, foi o trabalho pelo fortalecimento da educação em saúde.

“O maior legado de Oswaldo Cruz foi ter criado uma rede de pesquisadores que acreditavam na ciência, sem esquecer das causas sociais e políticas ligadas às principais crises sanitárias do país”, diz Ana Luce Girão, doutora em História das Ciências e pesquisadora da Fiocruz.

Diante de um cenário complexo 

Além das crises sanitárias que assolavam o Brasil, o cenário político e social no início do século XX era complexo. Segundo a historiadora Ana Luce, “houve uma confluência de fatores que resultaram em episódios como a Revolta da Vacina”. Iniciada após uma tentativa de tornar a vacinação contra a varíola obrigatória, em 1904, esse acontecimento polêmico dividiu a opinião pública em relação à atuação de Oswaldo Cruz.

Ao convidar o sanitarista para combater as epidemias, o presidente Rodrigues Alves também tinha a intenção de conduzir uma reforma urbana, sobretudo no Rio de Janeiro e em São Paulo. A ideia era afastar os vestígios da era colonial. “Além disso, por ser um país agroexportador, as doenças que circulavam nos portos brasileiros impactavam as relações comerciais com o exterior”, complementa Ana Luce.

A forma como o governo da época escolheu conduzir as reformas, porém, trouxe ainda mais desafios. A população pobre que vivia nos grandes centros, em sua maioria composta por ex-escravizados que não receberam suporte com o fim do regime de escravidão, foi transferida para os morros. Por não terem condições ideais de higiene e moradia, a disseminação de doenças se tornou ainda mais grave entre essa parcela do povo brasileiro.

“Oswaldo Cruz tentou, por inúmeras vezes, traçar planos que foram negados pelo governo. Ainda assim, era pragmático quanto ao papel da ciência para frear a disseminação, e não foi bem interpretado quando propôs implementar uma política obrigatória de vacinação”, resume a historiadora.

Expostas a  diversas violências e cercadas por desinformação, a maior parte das pessoas se recusou a receber a equipe de Oswaldo Cruz em suas casas. “Circulavam todo o tipo de notícias falsas, como a de quem tomasse a vacina ficaria com cara de vaca”, diz Ana Luce. Quatro anos depois, no entanto, quando o surto de varíola voltou a se agravar na cidade do Rio de Janeiro, a população procurou espontaneamente pela vacina.

Fé eterna na ciência

A desinformação e a complexidade dos problemas não são os únicos paralelos entre a trajetória do sanitarista e o contexto atual de pandemia de Covid-19. Ana Luce reforça que, embora as tecnologias e possibilidades para as duas épocas sejam completamente distintas, ainda se pode dizer que o pensamento científico se comprovou como a principal forma de combate às crises em ambos os períodos.

“Com a eficácia das vacinas, Oswaldo Cruz foi de tirano da saúde à médico respeitado. Na época, não havia como pensar em uma política de ciência aberta, como se vê hoje. E, ainda assim, ele conseguiu conectar pesquisadores do Brasil e do mundo, usando a pesquisa científica como principal guia para as soluções”, acrescenta a especialista.

Ana Luce ressalta que ter reconhecido a importância de construir espaços para formação de novos cientistas foi um dos legados do médico Oswaldo Cruz que ajudou a tornar o Brasil uma referência mundial em manutenção da saúde pública. Importantes conquistas como o Sistema Único de Saúde (SUS) e a Campanha Nacional de Vacinação Contra a Poliomielite (1980-1990) são lembretes de que o país tem tradição para lidar de forma eficiente com crises sanitárias.

“‘Fé eterna na ciência’, Oswaldo Cruz costumava dizer. Foi essa crença que permitiu a população brasileira encarar a vacina como um direito. Temos instituições que erradicaram o sarampo, a poliomielite, controlaram o HIV e o H1N1 e prepararam-se para o ebola. E continuamos a nos preparar, amparados na ciência, para combater o coronavírus”, finaliza a historiadora.

Quem foi Oswaldo Cruz, o sanitarista que mudou os rumos da saúde pública no Brasil?
Quem foi Oswaldo Cruz, o sanitarista que mudou os rumos da saúde pública no Brasil?