“Não há mais conflito entre pesquisa e empreendedorismo”, destaca Paulo Lemos, professor e pesquisador da Universidade Estadual de Campinas.
Entre os alunos das universidades brasileiras, 57,9% pensam em abrir um negócio no futuro. Além disso, 11,2% (quase 1 em cada 4) já são empreendedores. Os números fazem parte da atualização da pesquisa Empreendedorismo nas Universidades, produzida pela organização Endeavor Brasil em parceria com o Sebrae, em 2014. E indicam uma realidade: as universidades brasileiras precisam, necessariamente, pensar em ser mais empreendedoras.
Para se tornar uma universidade empreendedora e inovadora, segundo Lemos, é preciso, em primeiro lugar, criar um projeto que deixe claro para alunos, professores e toda a sociedade que aquela instituição é empreendedora. “Não adianta ter alunos empreendedores, professores incentivadores do empreendedorismo, se não houver um ambiente que dê vazão a isso e contribua para a geração de resultados”, argumenta o pesquisador Paulo Lemos.
“Há uma questão geracional”, afirma Paulo Lemos, professor e pesquisador em inovação e empreendedorismo, autor do livro Universidades e ecossistemas de empreendedorismo (Editora Unicamp, 2013). “Hoje, o jovem que ingressa na universidade tem uma visão empreendedora muito mais ampla.” De acordo com a mesma pesquisa, somente 10% do total de alunos não priorizam ou não se interessam pelo assunto.
Agência de inovação, incubadora de negócios, núcleo de inovação tecnológica são alguns espaços comuns em Stanford, Cambridge, Universidade de Utah e Massachussetts Institute of Technology (MIT), universidades com alto nível em produção científica e tecnológica e, ao mesmo tempo, empreendedoras. Para o especialista, isso mostra que não existe mais uma contradição entre a pesquisa e o empreendedorismo. “Esta é uma condição cada vez mais viável e necessária. Se o aluno escolher uma universidade reconhecida pela pesquisa, isso não significa que não encontrará ambiente para empreender”, observa.
Como exemplo brasileiro, ele destaca a Unicamp, que inclui uma associação para startups, uma liga empreendedora e a Fundação Estudar atuando no campus – entre outras fontes de aprendizagem. “Antes mesmo de ingressar, o estudante sabe que vai encontrar um ambiente disponível para confirmar o seu percurso empreendedor.”
Um dos principais empecilhos ao fortalecimento desse ambiente nas universidades é a carência de professores voltados para o empreendedorismo e a inovação, que possam oferecer cursos mais contemporâneos. “É preciso estar em sintonia com as mudanças”, diz Lemos. Segundo a pesquisa Empreendedorismo nas Universidades, os alunos valorizam mais as fontes onde conseguem aprender de forma rápida e prática. Neste sentido, o professor destaca o papel da educação online.
A diferença pode estar no tipo de curso e também na maneira como é provido. O Coursera, plataforma de cursos gratuitos a distância, em diversas áreas (e com certificação) de 180 renomadas universidades do mundo, é um bom exemplo. Por lá, Lemos oferece aulas de empreendedorismo focado em formação por competências. Ele explica: quando o aluno recebe um certificado, cria-se um link automático com o portfólio deste internauta no LinkedIn. “Essa articulação é impressionante. Permite que se pense a formação como uma playlist”, ressalta o professor.
Lemos acredita que as novas gerações são mais empreendedoras, o que já configura uma mudança de mentalidade das instituições de ensino. “As universidades podem entender como os jovens vão se comportar e atuar nos mercados de trabalho e nos mercados de criação e desenvolvimento de novas empresas, de maneira mais empreendedora. O fato de as empresas estarem cada vez mais procurando perfis de pessoas que tenham comportamentos e competências empreendedoras já é um elemento que as faz olhar de maneira diferenciada para seus alunos”, afirma.
O pesquisador ressalta: o mais importante para uma universidade fortalecer e integrar seus sistemas é ter projetos robustos de inovação e empreendedorismo. “Universidade empreendedora é aquela que sabe fazer o casamento do mundo da produção científica com o mundo do comportamento e das ações empreendedoras de seus estudantes e professores”, conclui.