Projeto Student Bank, programa tailandês que ensina finanças para crianças, visa preparar jovens para empreender e causar impacto social em suas comunidades
Projeto Student Bank, programa tailandês que ensina finanças para crianças, visa preparar jovens para empreender e causar impacto social em suas comunidades
É bem antes do Sol despertar que os alunos tailandeses chegam nas escolas. Tanto nas públicas quanto nas particulares, a rotina começa cedo e se estende pelo dia todo. Entre matérias regulares como matemática e inglês – a segunda língua falada no país – crianças e jovens também têm aula de ensino religioso, e as escolas têm pequenos santuários dedicados a Buda. Nas salas de aula, nada de sapatos, já que é desrespeitoso estar calçado no ambiente de aprendizado.
Ainda que 91% das crianças estejam matriculadas no ensino básico tailandês, segundo censo realizado pelo World Education Services em 2014, esse número cai quando passam para os outros graus e apenas 29% chegam à faculdade. Os números são ainda mais tímidos quando se fala da zona rural. De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a razão para isso é que as crianças entram tarde no sistema escolar. Muitas vezes, em razão da pobreza e dificuldades financeiras, acabam por largar os estudos para ajudar os pais.
Quando em 2012 a ONG Plan International chegou à Tailândia, país do sudeste asiático, ela realizou uma pesquisa para traçar um perfil dos estudantes. No levantamento, um dado interessante veio à tona, como conta a gerente de comunicação, Anne Caillebotte: “Percebemos que a grande maioria não somente guardava dinheiro para bancar sua educação futura, como também queriam ajudar nas despesas de suas famílias. Vimos o potencial para desenvolver a habilidade de lidar com dinheiro”, diz. Começava então o Student Bank Project, hoje presente em 43 escolas primárias e secundárias do país.
O Student Bank funciona como um banco em menor escala dentro da escola, incentivando crianças e jovens a aprenderem atividades socioeconômicas em grupo. Tarefas como depositar e sacar são operadas em softwares fáceis de usar, sob a supervisão de educadores capacitados, que orientam sobre cálculos e pequenos problemas financeiros.
O mais importante dentro do projeto é que são as crianças entre 10 e 18 anos que ensinam umas às outras como lidar com o dinheiro, que pode ser usado pela família do estudante após a sua saída da escola.
Hoje 21.086 crianças estão engajadas no programa, oriundas de uma população classificada como Most-at-Risk Populations (MARPs) – em nível máximo de vulnerabilidade social. Esse contingente inclui grupos étnicos, imigrantes, pessoas sem cidadania ou pessoas com HIV/AIDS. “Líderes mirins são capacitados em micro operações bancárias e também no software. Em seguida, eles formam grupos em suas escolas, onde cada aluno escolhe a função que quer exercer. É a partir dos problemas de cada instituição e da comunidade onde estão inseridos que os alunos criam um plano de arrecadação de fundos”, conta Anne.
A formação também serve para muni-las de conhecimento empreendedor, na esperança de que possam utilizar o dinheiro salvo para suas ideias no futuro. “Isso é principalmente importante para países em desenvolvimento”, diz Anne. Nos grupos formados por adolescentes, eles recebem orientação de empreendedorismo para desenvolver planos de negócios imaginários, que podem vir a se tornar protótipos reais.
Um dos exemplos de incentivo, como explica Anne, é quando um jovem desenvolve um produto e o Student Bank o prepara para que ele possa vendê-lo no mercado real. “Os estudantes terão oportunidade de apresentar seus planos de negócio e produtos para agentes do mercado real, obtendo conselhos valiosos. Isso os tornará mais confiantes para tomar decisões no futuro profissional”, conta a gestora. Hoje, o projeto tem cerca de 300 mil dólares guardados como fundo.
No Brasil, matérias sobre finanças e economia são ensinadas em alguns cursos universitários, mas, assim como na Tailândia, não costumam estar presentes no ensino fundamental. Por isso, o programa Student Bank acredita que a aproximação de crianças e adolescentes com as finanças, principalmente em países que ainda enfrentam dificuldades econômicas, é um meio de nivelar indicadores sociais.