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29.06.2016
Tempo de leitura: 6 minutos

Quilombo de Ivaporunduva recebe voluntários do programa Vacaciones Solidárias

Situado no Vale do Ribeira, comunidade tradicional será palco para ação anual de voluntariado da Fundação Telefônica Vivo.

Situado no Vale do Ribeira, comunidade tradicional será palco para ação anual de voluntariado da Fundação Telefônica Vivo.

“A nossa luta aqui é muito antiga, ela começou lá, 400 anos atrás, na época da escravidão”, introduziu Ditão, como é conhecido Benedito Alves da Silva, líder comunitário do Quilombo de Ivaporunduva, ao contar uma história que ele conhece como ninguém. Entre a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e o Centro Comunitário, no coração do bairro rural do município de Eldorado, no Vale do Ribeira, ele recebeu uma equipe da Fundação Telefônica Vivo, responsável pelo programa Vacaciones Solidárias, para apresentar a região onde o seu povo se constituiu.
O cenário é típico: casinhas de pau a pique e sapê na cobertura, que atualmente revezam o espaço com as habitações de alvenaria, e o relento que evapora do sinuoso rio Ribeira de Iguape, que abastece e dá nome às suas margens. Em um tempo que nem se nota passar, ele segue revelando, com o linguajar característico e a riqueza de detalhes de um bom contador, os principais marcos de sua história, indissociável da história de luta e resistência do seu povo por justiça e direitos.
“Aqui era só mato, só floresta. A única forma de chegar na cidade, em Iguape, era pelo rio. Daqui até lá eram 10 dias de viagem de canoa. Tudo era lá, no começo. Depois é que veio vindo, veio vindo… Começamos a entender o mundo um pouquinho melhor de 1968 pra cá, quando a estrada chegou. Mas chegou também o braço da ditadura militar. E o povo começou a ir embora”, relatou Benedito.

Breve histórico do programa

Criado em 2008, o programa Vacaciones Solidárias começou oferecendo aos funcionários espanhóis uma experiência de voluntariado na América Latina. Depois, incluiu também funcionários de outros países da Europa. “No primeiro ano, 30 europeus que não falavam nada de espanhol vieram para diferentes países latinoamericanos”, relembra Lucila Ballarino, Responsável Global pelo Programa Voluntários Telefónica. Com tempo, foi desenvolvida uma metodologia de intervenção para definir os países e os projetos que entrariam no programa. Hoje, as vagas são abertas a funcionários de toda parte – “para que se mesclem e para gerar esse orgulho de pertencer a uma empresa internacional”, explica Lucila.

A luta do quilombo pelo direito à terra, que teve início após a criação da Constituição Federal, para eles seguiu até 1997, e de alguma forma ainda continua. Como ele contou, o pedido de reconhecimento foi questionado juridicamente por falta de documentação. “O negro que não é alforriado, quando nasce, o pai não vai registrar em cartório. Quando casa, não tem casamento, junta marido e mulher.
Quando morre, não tem óbito também em cartório. Ele não pode sair, porque pode ser capturado. Desta forma, então, tem um buraco no meio sem resposta. E demos essa resposta através dos nossos costumes.”
Muito desses costumes, conquistas e vasto conhecimento da natureza ao redor vão permear a imersão do grupo de voluntários do grupo Telefônica Vivo e de empresas parceiras, como Terra e TED, selecionados para a edição 2016 do programa Vacaciones Solidárias. De 18 a 29 de julho, 10 brasileiros e 10 estrangeiros da América Latina e da Europa, que estão doando 15 dias de seu período de férias em prol desta experiência social, estarão reunidos no Quilombo de Ivaporunduva, no Vale do Ribeira, para ajudar a reformar um Telecentro, instalado no Centro Comunitário.

Em princípio, conforme relatou Lucila Ballarino, Responsável Global pelo Programa Voluntários Telefónica, durante uma visita de reconhecimento ao local, os projetos selecionados precisam cumprir dois componentes: uma necessidade de melhoria em infraestrutura, “algo que seja permanente na comunidade, para que os voluntários sintam que estão deixando alguma coisa e para que o projeto tenha um encerramento para eles”, e uma convivência de qualidade com a comunidade, “algo menos tangível, menos visível, mas que muitas vezes tem um impacto mais profundo que a intervenção na infraestrutura”. “Tem que ser uma combinação das duas coisas”, esclarece.
Muitas vezes, as comunidades mapeadas pela Fundação têm dificuldade ao priorizar suas necessidades. Por isso, as decisões são tomadas em conjunto, envolvendo a coordenação da Fundação, que inclusive trata de todos os temas logísticos antes da chegada dos voluntários, para que não percam tempo organizando o que será feito. “Assim, quando ele chega, logo começa a trabalhar e não perde nenhum momento, porque, neste contexto, cada dia conta”, reafirma Lucila.

Esta é a primeira vez que o programa acontece em uma comunidade tradicional. “Conheci muitas comunidades que trabalham em zonas vulneráveis em diferentes regiões da América Latina, mas essa foi a minha primeira imersão em uma comunidade tradicional”, compartilhou. Para ela, foi um grande impacto conhecer uma comunidade tradicional com grande senso de organização e ouvir a experiência de vida de seus integrantes. “O líder dessa comunidade é um em um milhão”, afirmou sobre Ditão, referindo-se à sua admirável habilidade de diálogo, de narrar e articular histórias no tempo e de mobilizar pessoas. “Seu corpo demonstra humildade e luta. E seu estilo de liderar demonstra igualdade. Nota-se em tudo que luta por igualdade.”
A constatação de que o racismo ainda é tão presente em nossa sociedade é motivo de tristeza para Lucila. Diante disso, porém, ela volta para a Espanha com a certeza de que os voluntários que vivenciarão ali suas Vacaciones Solidárias voltarão transformados pelo conhecimento que transborda de Ivaporunduva e pela extrema consciência do líder Ditão e de toda a comunidade sobre a sua condição e a do mundo inteiro. Uma experiência que levará consigo para sempre.


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