Crédito: Debora Schunemann
Por Carolina Pezzoni, do Promenino, com Cidade Escola Aprendiz
Desenvolver uma visão do aluno enquanto cidadão – “como alguém que pode ter uma atitude positiva em relação ao meio” – é um dos principais objetivos na agenda da gestora Tania Maria de Lana, da Escola Municipal Dona Manoela Moreira, em Brumadinho (MG). Já para Débora Schunemman, diretora da Escola Municipal Milton da Cruz, em Cachoeira do Sul (RS), a prioridade é transformar a relação dos educadores com os alunos, oferecendo conhecimentos além do currículo tradicional.
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Enquanto isso, em Itaíba, no sertão de Pernambuco, o estímulo da professora Ieda Ferreira dos Santos, que viu um computador pela primeira vez na oitava série, é garantir o acesso da Escola Municipal Epitácio Pessoa à tecnologia, para alunos e docentes.
São três experiências escolares distintas – no contexto, nas necessidades e nos olhares – que se encontram na concepção do educador como um profissional atuante e colaborativo. Tania, Débora e Ieda, participantes engajadas nos programas de formação do Escolas Rurais Conectadas, compartilham a seguir um recorte de suas trajetórias na educação, contando como a rotina em suas escolas mudou com a participação no projeto aliada à proposta pedagógica.
Desenvolver o aluno-cidadão
Situado no vale do rio Paraopeba, o município de Brumadinho (MG), integrante da Região Metropolitana de Belo Horizonte, tem uma população de 35 mil habitantes e muitas riquezas históricas, culturais e naturais. Ao mesmo tempo, ainda encontra sérios problemas sociais, como a criminalidade e a falta de investimento nos sistemas de abastecimento de água e esgoto.
Nessa região, a apenas 15 km do Instituto Inhotim, importante acervo de arte contemporânea, está localizada a Escola Municipal Dona Manoela Moreira. Nas palavras da sua diretora, Tania Maria de Lana, a comunidade local demanda atenção total do município, inclusive da escola. “Temos de estar atentos à nossa comunidade, saber o que está acontecendo perto de nós”, defende.
Essa orientação, para ela, faz parte da agenda escolar. A sua participação no curso A Escola no Combate ao Trabalho Infantil (ECTI), disponível na plataforma Escolas Rurais Conectadas, cumpre este intuito: “precisamos pensar na escola como responsável”, define Tania. “Temos muita preocupação com a questão das drogas, do tráfico que alicia crianças. E não apenas esse tipo de exploração do trabalho. A escola deve se sentir parte para mostrar outro caminho a elas”, afirma, defendendo a educação como contraponto a uma situação de violência cotidiana.
Com a visão de uma educadora que começou sua trajetória em sala de aula e depois, em 2013, assumiu uma função de gestão, ela tem em seu radar a aprendizagem, tanto a do professor como a do aluno. “Enquanto professora vive-se uma realidade, na direção é um universo maior”, declara.
Em busca de enriquecer essa experiência, Tania participa de cursos variados, o que lhe permite também contribuir nas reuniões pedagógicas. O mais recente, “Jogos e brincadeiras: para além da seriação”, tornou-se uma chance de refletir sobre a importância do brincar. “Quero que esses professores tenham essa visão do aluno enquanto cidadão, como alguém que pode ter uma atitude positiva em relação ao meio.”
Transformar a relação com o aluno
A concepção do gestor como um profissional “atuante e participativo” motiva a diretora escolar Débora Schunemann, da Escola Municipal Milton da Cruz, em Cachoeira do Sul (RS), a participar de diversos cursos formativos a distância. No seu currículo, estão “Escolas para todos”, “Avaliação: para quê e como avaliar”, “Escrita criativa: com a palavra, a autoria!”, “TIC nas escolas” – só para citar alguns.
“É uma oportunidade de refletir sobre a prática pedagógica”, afirma Débora que, enquanto gestora, procura selecionar projetos e oferecer subsídios para o trabalho das professoras. Entre as iniciativas de maior repercussão no ambiente escolar, ela menciona o jardim suspenso feito com garrafas, cujo preparo contou com a participação dos alunos. “Às vezes, as questões financeiras e administrativas tomam muito o tempo do gestor, mas precisamos nos equilibrar entre isso e a parte pedagógica”, posiciona-se.
A transformação mais evidente, em sua opinião, está na relação com o aluno. Para a diretora, ele é o primeiro a notar o investimento da escola em oferecer algo que vá além das atividades tradicionais. “São mudanças muito práticas. Eles interagem mais, ficam mais motivados”, observa. Assegura ainda, no mesmo sentido, que o professor passa a refletir sobre como a formação influencia diretamente o dia a dia. “O conhecimento traz uma transformação interior e muito prática.”
Levar a tecnologia para o Semiárido
Fundada em 1969, no município de Itaíba, em Pernambuco, a Escola Municipal Epitácio Pessoa, onde a professora Ieda Ferreira dos Santos trabalha há 4 anos com uma classe multisseriada, já chegou a funcionar em uma garagem, na casa do seu pai. “Isso faz tempo. Meu irmão chegou a estudar lá”, rememora. Com a doação de uma parte do sítio da família para a prefeitura – “por ser em uma boa localidade para as crianças” –, foi possível construir uma estrutura própria, mas, até 2014, a casa onde estava instalada não tinha água encanada, rede de esgoto ou energia elétrica.
A primeira mudança que melhorou essa estrutura aconteceu com a seleção para o projeto do Instituto Trata Brasil, em 2014, que providenciou a reforma de duas escolas na região, escolhidas por sorteio. “Na verdade”, retifica Ieda, “a escola não foi sorteada, mas, como a prefeitura já tinha reformado uma das escolhidas, resolveram reformar aqui!”. Entre outras mudanças estruturais importantes, a escola ganhou novo piso, banheiros, pia e cozinha.
Confira o documento e assista ao relato da professora Ieda após entrega da reforma na Escola Municipal Epitácio Pessoa:
Em seguida, após participar de uma formação do programa Escolas Rurais Conectadas, a escola ganhou um notebook da Fundação Telefônica Vivo. “Ajudou demais em nosso trabalho: com os projetos para a Secretaria de Educação, que agora conseguimos preparar sem ter de ir à lan house, e também aprimorando a dinâmica em sala de aula, com slides e vídeos”, destaca a professora, que, na semana em que recebeu o computador, reuniu alunos e pais para contar a novidade.
O próximo passo é trazer a internet para a escola. “Seria um suporte a mais. Durante um tempo, usei um modem emprestado da minha cunhada. Fizemos uma pesquisa literária sobre o Pequeno Príncipe. Rapidinho o encontrei na internet para apresentar às crianças, com vídeos, desenhos…” A seu ver, a maior conquista é o entusiasmo das crianças com o acesso à tecnologia. “Elas ficam muito felizes, querem aprender a mexer em tudo e aprendem rápido”, relata Ieda. Hoje com 22 anos, ela conta que viu um computador pela primeira vez quando estava na 8ª série do Ensino Fundamental.
Sobre a formação, a professora ficou sabendo por meio da coordenadora da escola que, por sua vez, recebeu a informação da Secretaria de Educação. “Na segunda-feira já levei a minha inscrição”, conta. “Era uma formação a distância, mas teria de ir a Recife duas vezes. Muitos não fizeram por conta da viagem, e depois se arrependeram. Quem está na escola tem a obrigação de aprender.”