O caminho para empreender passa por reconhecer os próprios talentos e criar condições para dar o primeiro passo, mas essas atitudes podem ficar comprometidas por quem sofre dessa síndrome. Saiba mais!
“Eu tive muita sorte”, “só pode ter sido o destino”, “eu não sou tão bom quanto as pessoas pensam”. Você tem esses pensamentos diante das conquistas, mesmo tendo se dedicado a elas? Se a resposta for sim, você pode estar sofrendo da síndrome do impostor.
A pessoa que sofre com esse padrão comportamental acredita que não merece as próprias conquistas. O sucesso é sempre atribuído a fatores externos e nunca ao próprio merecimento. Ela convive com o medo de descobrirem que não são tão habilidosas ou competentes como demonstram ser.
Apesar do problema não ser considerado como um transtorno psiquiátrico pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é mais comum do que parece e afeta mais de 70% da população pelo menos uma vez na vida, segundo pesquisa conduzida por especialistas da Universidade de Salzburgo, na Áustria. Ele pode atingir tanto a vida pessoal quanto a profissional.
“Têm uma relação com a falta de apropriação do próprio valor, um padrão de comportamento de baixa autoconfiança, acompanhada de uma autoestima bastante fragilizada”, explica Tatiana Berta Otero, psicóloga, especialista em Terapia Comportamental Cognitiva pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Ainda segundo a especialista, esse padrão de comportamento é observado há cerca de 40 anos por pesquisadoras americanas que colocaram essa terminologia para se referir as características relacionadas à insegurança.
Quando surgiu a Síndrome do Impostor
O termo apareceu pela primeira vez em 1978 em um artigo científico sobre um padrão comportamental, primeiramente, das mulheres. Pauline Rose Clance e Suzanne Imes, da Georgia State University (nos Estados Unidos) perceberam que alunas altamente capacitadas não se enxergavam dessa forma. Depois identificaram que mulheres bem-sucedidas sentiam-se como “impostoras”.
Esse padrão foi recorrentemente associado ao sexo feminino em uma época em que as mulheres estavam se inserindo no mercado de trabalho, até então dominado pelos homens. Justamente em um momento em que eram vistas e cobradas em diversas situações e precisavam sempre provar e fazer a mais para serem reconhecidas. A sobrecarga de atividades traz a sensação de que nada está sendo feito direito.
Apesar de os primeiros estudos apontarem essa tendência para um dos gêneros, os homens também são afetados. As pesquisas foram ampliadas a partir da década de 80, e mostraram que qualquer pessoa pode sofrer com esses sentimentos. É uma tendência do ser humano desenvolver características de mais insegurança dependendo do lugar e do contexto em que se encontra.
“No meio em que nos validam mais, estimulamos o desenvolvimento de maior autoconfiança/autoestima. Essa síndrome acarreta um sentimento constante de inadequação, mesmo diante de elogios e reconhecimento externo, e pode evoluir para outros transtornos como ansiedade generalizada e depressão”, continua explicando a psicóloga Tatiana Berta.
A pesquisadora destaca que a síndrome pode ser desenvolvida em qualquer idade, sendo mais comum quando se está em uma posição sujeita a maiores julgamentos, como ao receber uma promoção no trabalho ou iniciar um novo projeto. Também é mais comum em profissões mais competitivas, como atletas, artistas ou onde as pessoas são avaliadas a todo o momento.
Até a ex-primeira-dama dos Estados Unidos Michelle Obama, em um discurso no Reino Unido, falou sobre se sentir uma “fraude”: “Eu tive de trabalhar duro para superar aquela pergunta que ainda faço a mim mesma: ‘eu sou boa o suficiente?’. É uma pergunta que me persegue por grande parte da minha vida. Estou à altura de ser a primeira-dama dos Estados Unidos?”, disse na época.
Síndrome do Impostor no Empreendedorismo
Ao abrir um negócio, a personalidade, os valores e princípios do empreendedor refletem o resultado da empresa. Se o sentimento de autossabotagem acompanhar este indivíduo, o futuro do negócio pode ser prejudicado e a ideia pode sequer sair do papel.
É necessário descobrir se o sentimento de incapacidade não chega a paralisar. Segundo a psicóloga Tatiana Berta, esse é um passo difícil, já que quem se sente impostor não percebe que precisa de ajuda e por isso tem dificuldade de buscar os resultados que almeja.
“Se a pessoa acredita que não é capaz, pode ser que ela comece num padrão de se esquivar em relação a esses resultados. Então, muitas vezes, pessoas que têm possibilidades e não reconhecem que são capazes, deixam de crescer, perdem realmente a oportunidade de se desenvolverem naquilo que gostariam de fazer”.
Para quem está inseguro sobre empreender, Tatiana lembra que dar o primeiro passo é fundamental, sempre tendo um planejamento e possibilidades viáveis em mente. Quando ficamos muito no campo do pensamento e do sentimento, e pouco no campo da atitude, o resultado não tende a ser favorável. Por meio da ação é que são criadas oportunidades de vivenciar e aprender com as situações e é essa vivência que traz a autoconfiança.
Superando a Síndrome do Impostor
Se você se reconheceu nos parágrafos acima, separamos cinco dicas para superar esse padrão comportamental e eliminar esse sentimento de não se colocar à altura de suas conquistas:
Aceite elogios: comece a aceitar bons comentários sobre o seu visual, sobre o seu serviço ou suas atitudes. É preciso encarar com naturalidade, como algo que só vai acrescentar. Seja grato e sinta orgulho de si próprio. É preciso trabalhar a autoestima para se sentir confortável com os elogios.
Descubra seus pontos fortes: anote em um caderno as suas atividades do dia e seus pontos fortes para a realização daqueles trabalhos. A partir do conhecimento de suas habilidades, e também das fraquezas, é possível fazer uma avaliação justa sobre si mesmo. Valorize o próprio talento!
Não se compare aos outros: a constante comparação com outras pessoas é um dos sintomas mais comuns da síndrome do impostor. Todas as pessoas têm defeitos e qualidades, maiores ou menores habilidades. É preciso valorizar as próprias experiências e lembrar que os talentos são individuais! Em vez disso, se compare a quem você era no passado e perceba a própria evolução.
Entenda que ninguém é perfeito: aceite que há grande possibilidade de você errar em algum momento e aprender com o próprio erro! Isso não diminui suas habilidades. Aprenda com a falha e não encare como um reflexo de toda a sua vida. Conheça seus próprios limites e peça ajuda de alguém de confiança se você costuma procrastinar para buscar a perfeição.
Procure ajuda e faça terapia: Se mesmo depois de todos os esforços você continuar se sentido como um impostor, procurar um profissional vai ajudar na auto-observação, a superar os pensamentos e a sensação de ser uma fraude, além de colaborar para o planejamento de atividades. Com orientação, é mais fácil viabilizar mudanças e reconhecer que é possível viver de outra forma.