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15.03.2016
Tempo de leitura: 5 minutos

Tecnologia digital encurta distâncias entre arte e educação, transformando a aprendizagem

Um debate sobre o Projeto Museus Virtuais.

Recursos digitais levam estudantes a passeios virtuais pelo universo da arte.

Recursos digitais levam estudantes a passeios virtuais pelo universo da arte.

A cada clique, abre-se uma janela para a arte produzida no mundo. Dos anjos e apóstolos das pinturas medievais à renascença italiana em Vênus, de Botticelli; do chiaroscuro (claro-escuro) de Caravaggio ao naturalismo de Manet e outros representantes da arte moderna. Em instantes, é possível fazer um percurso desta dimensão usando o navegador Google Art Project, que oferece visitas virtuais a museus dos cinco continentes.

Valendo-se desta tecnologia digital, que possibilita a visualização aproximada de detalhes, o acesso a instalações e ao contexto histórico, o Instituto Maratona Cultural, com sede em Florianópolis (SC), idealizou o Projeto Museus Virtuais. O princípio é criar um ambiente de imersão nos museus, usando a projeção 360° para reproduzir as imagens em um sistema multitelas e proporcionar a sensação real de percorrer as galerias para quem nunca teve a chance de visitá-las.

Na atividade, o mediador exerce um apoio fundamental. “É uma figura importante, pois, quando se está na plataforma, é muito fácil dispersar”, argumenta a diretora do Instituto, Paula Borges, idealizadora do projeto ao lado do irmão e sócio, o historiador da arte Heitor Borges. Por isso, todas as sessões contam com um educador da arte à disposição. Ela observa que a tecnologia – embora “incrível”, em suas palavras entusiasmadas – não é autoexplicativa, nem acessível a todos.

“Muitas crianças nunca tinham entrado em um cinema”, conta Paula, descrevendo a emoção delas ao estarem diante da tela pela primeira vez. Com temporadas vigentes entre 2014 e 2015, o projeto já atendeu a quase oito mil pessoas. E, de acordo com pesquisas do Instituto, 85% dos visitantes nunca haviam entrado em um museu em Florianópolis.

O roteiro dos encontros, com duração aproximada de uma hora, acontece a partir de temas pré-estabelecidos e varia entre “A Arte Brasileira”, “A Renascença Italiana” e outros. Nenhuma sessão é igual à outra: a interação do público determina os rumos do tour.

No palco, diante da plateia, o educador conta com sua principal guia (mas não a única), o Google Art Project, e escolhe uma música ambiente. Abre, então, uma pintura e começa a situá-la historicamente, levantando curiosidades sobre o artista. A partir daí, o percurso é guiado a partir da curiosidade do público. “Mais do que uma aula expositiva, é um passeio contemplativo”, ressalta a diretora do Instituto.

Assim como o Google Art Project se identifica com o público jovem, o Projeto Museus Virtuais atende principalmente a crianças e adolescentes. “Percebemos a necessidade de nos comunicar com a escola. Como uma instituição voltada para a cultura e a educação, queríamos mostrar esse poder de informação da plataforma, levando os estudantes a conhecerem obras que transformaram uma sociedade, e que vibrassem com isso”, conta Paula.

Havia inclusive a preocupação em adequar a linguagem, para que não ficasse “adulta demais”, mas a principal lacuna estava resolvida: “a oportunidade de eles estarem inseridos”. Nessas viagens virtuais, o público do projeto já passou por museus como D’Orsay, em Paris, National Gallery, em Londres, MoMA, em Nova York e o Instituto Inhotim, em Minas Gerais.

Recursos digitais levam estudantes a passeios virtuais pelo universo da arte.

Relações entre o museu e a escola

Enquanto muitos entendem a virtualidade do museu como uma ferramenta essencialmente tecnológica, o Núcleo de Ação Educativa da Pinacoteca do Estado de São Paulo, criado em 2002, estende o conceito para que a ideia de patrimônio e cultura seja debatida em sala de aula. É uma visão que se alia à própria definição de museu, “instituição pública e eminentemente educativa”, como ressaltou Mila Chiovatto, coordenadora geral da área.

Ao perceber que, no Brasil e na América Latina, a formação dos professores não contempla uma percepção do universo cultural como um recurso de todos, deu-se início a um debate da instituição com a escola pública e privada. “Percebemos a necessidade de publicar materiais, mas isso se restringiria ao professor que pode vir até aqui e usufruir a coleção. Mas aquele que mora longe, o que faria?”, argumentou Mila.

Surgiu ainda a questão: como estabelecer essa parceria com a educação formal levando em conta que a cultura está por toda parte, nas cidades, nas praças, não se restringindo aos museus em si? Das perguntas, nasceu o Museu para Todos, hotsite voltado para educadores, com atividades lúdico-pedagógicas e materiais e links de referência.

“A tecnologia é um meio para chegar aos professores. Mas nossa preocupação primeira é a experiência do contato com a arte”, ressalta Denyse Emerich, coordenadora do Programa Educativo. A seu ver, a proposta é inovadora na medida em que pratica novas formas de reflexão para estreitar os laços entre educação e arte, buscando que transcendam os muros tanto da escola como do museu e se transformem mutuamente.


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