Em 15 de março comemora-se o Dia da Escola, data que nos convida não apenas a reconhecer a instituição como pilar do desenvolvimento educacional, social e econômico do país, mas também a refletir sobre a escola pública que almejamos. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a escola deve ser um espaço de formação integral, onde o aprendizado ultrapasse a transmissão de conteúdos e se torne ferramenta para a formação de cidadãos críticos, éticos e preparados para os desafios do século XXI. A data também lembra os desafios estruturais que a escola pública precisa vencer. Não se trata apenas de superar deficiências físicas ou recursos limitados, mas de repensar práticas pedagógicas mais contemporâneas, conectadas à vida, à tecnologia e às demandas sociais.
Neste sentido, a tecnologia na escola é uma ferramenta poderosa para promover melhorias para alunos, professores e gestores. Mas ela não deve ser vista apenas como um recurso complementar, mas uma aliada na personalização do ensino, na colaboração entre os estudantes e no acesso ao conhecimento. A BNCC Computação determina, inclusive, que o uso da tecnologia deve ser contextualizado, mostrando que as ferramentas não são apenas acessórios, mas recursos para ampliar oportunidades e reduzir lacunas. Para isso, é imperativo investir na formação continuada de professores e em políticas públicas que assegurem condições dignas de trabalho e aprendizagem.
O professor Albino Szesz Junior, doutor em Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPT), no Paraná, é otimista em relação ao uso da tecnologia como aliada na transformação da escola pública. “Vejo que no futuro seria ótimo termos espaços de ensino flexíveis, com a tecnologia integrada no dia a dia escolar e professores aptos para saber usá-la. É uma visão de futuro bastante factível.”
Quatro pilares sustentam a adoção da tecnologia na escola
Para o especialista, que atua nas áreas de computação, educação inclusiva, inovação e Inteligência Artificial (IA), a tecnologia abre portas para todos que desejam construir uma escola mais acessível, equitativa e inclusiva. “Ela fornece um suporte e uma capacidade que até então era inimaginável”, afirma.
Mas para Szesz, apesar do imenso poder das tecnologias atuais, os ganhos na qualidade do processo de ensino e aprendizagem dependem de quatro pilares que servem de sustentação para qualquer melhoria que se almeje na educação.
“O primeiro deles é a infraestrutura; o segundo é recursos; o terceiro é formação; e o quarto é mobilização”, explica. Quando um desses pilares está ausente, segundo Szesz, o projeto desmorona. “Não adianta nada ter todos os recursos disponíveis se eu não tenho acesso à internet. Ou, eu tenho acesso à internet, mas não tenho recursos. Tenho tudo isso, mas não há formação de professor para ele saber como usar… e assim por diante”, exemplifica o professor.
Quanto à mobilização, ela precisa envolver a sociedade e a comunidade escolar. Para vencer resistências, como a desconfiança de pais, alunos, gestores e educadores, a estratégia deve ser baseada em dados concretos, relatos de experiências bem-sucedidas e demonstrações práticas de como a tecnologia na escola pode otimizar o trabalho docente e melhorar o desempenho dos estudantes. “A mobilização deve ser positiva, jamais impositiva. Os pais e alunos precisam ver e sentir que a tecnologia ajuda no desempenho escolar, os professores e gestores devem ser convencidos de que seus trabalhos podem ganhar um belo reforço, e a sociedade precisa estar ciente de que a educação contemporânea deve ser tecnológica”, afirma Szesz.
Professores são insubstituíveis
A formação continuada de professores é crucial para o avanço da educação no Brasil. Nesse cenário, a oferta de cursos online, de formação e aperfeiçoamento, permite que o conhecimento chegue aos lugares mais remotos. Outra vantagem da inclusão de ferramentas digitais no ensino é a possibilidade de personalização do aprendizado. Como muitas plataformas conseguem medir, gravar e comparar todas as etapas de uma atividade, é possível levantar dados muito específicos de cada aluno, identificando carências e potencialidades.
A tecnologia também permite adaptar conteúdos a realidades regionais distintas, promovendo maior equidade entre diferentes regiões, alinhando-se à BNCC e às avaliações nacionais, como o Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica). “Eu vejo um potencial gigantesco no uso de tecnologia para a personalização do ensino. Uma mesma solução válida em um contexto pode não ser tão eficaz em outro. Por isso, as mesmas tecnologias que ajudam os professores dentro das salas de aula podem e devem ser usadas pelos docentes e gestores para adequarem os conteúdos às realidades locais”, acredita Szesz.
Embora a tecnologia seja uma aliada poderosa, especialistas reforçam que seu potencial só pode ser concreto com a mediação docente. Pesquisas, como a AI and Education: Guidance for Policy-makers (UNESCO, 2023), afirmam que mesmo com o avanço da IA generativa, o papel do professor continua central. Experiências analisadas mostram que plataformas adaptativas só funcionam quando os docentes interpretam dados, personalizam estratégias e mantêm interações humanas significativas. “O papel do professor nunca acaba, ele deve usar a tecnologia na escola como uma extensão da sua cognição, para facilitar o seu trabalho e fazer algo mais personalizado, algo que de fato atinja o que ele precisa naquela aula, naquele contexto”, finaliza Szesz.