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21.05.2015
Tempo de leitura: 4 minutos

Uma nova língua: a programação como ferramenta pedagógica

A programação foi criada muito antes da existência de um processador, mas nem sempre foi vista como uma ferramenta com potencial pedagógico.

Conheça essa nova língua

O professor e tradutor Erwin Theodor escreveu na apresentação do livro A Aventura das Línguas, de Hans Joachim Störig: “O ser humano dispõe de inata capacidade plurilingual”. Todos falamos mais de um idioma. O outro idioma não significa necessariamente inglês ou francês. E sim que, dentro da própria língua nacional – cujo dia se celebra neste 21 de maio -, existem vários níveis de expressão. Enquanto sua retina reflete o brilho fosforescente da tela do computador ou do smartphone, você está lendo o produto de uma das línguas mais utilizadas e invisíveis: a programação.

Embora seja difícil desassociar a programação ao computador, a primeira centelha dessa linguagem foi criada muito antes da existência de um processador que pudesse traduzi-la em comandos. Em 1842, a cientista inglesa Ada Lovelace desenvolveu o primeiro algoritmo a ser lido por uma máquina, a engenhoca de cálculos de Charles Babbage. Se hoje um clique do mouse ou o apertar leve de um botão leva a abertura de infinitas possibilidades, é por causa do árduo trabalho de brilhantes matemáticos e engenheiros como Konrad Zuse (criador do primeiro computador capaz de ler uma programação complexa), John Backus (responsável pelo nascimento da FORTRAN, primeiro programação a ser utilizada em larga escala) e Seymour Papert (criador do LOGO, ferramenta construtivista que usava a programação para fins pedagógicos).

A popularização de microprocessadores embutidos em smartphones e tablets, além da democratização do uso da internet e barateamento do custo dos computadores, tornou a programação uma ferramenta recorrente na vida de crianças e adolescentes brasileiras. Mas isso não significa que eles saibam programar ou entendem as teias de algoritmos por trás dos videogames que jogam ou dos websites que acessam.

“À medida que as pessoas não sabem mais o que é programar e a mágica acontece diante delas, elas perdem o processo de documentar e de registrar. Quando você ensina um comando para um computador, você está descrevendo sua cabeça, como e o quê você pensa”, explica o professor João Vilhete.

João é coordenador do NIED – Núcleo de Informática Aplicada à Educação da UNICAMP –, responsável pela implantação de programas informáticos em diversas escolas. Para ele, é absoluta a necessidade de que a programação seja uma disciplina recorrente no âmbito educacional por sua capacidade de auxiliar em um desenvolvimento lógico: “Se você usa a programação para potencializar o ensino e a aprendizagem, dentro de um contexto de diferentes disciplinas e conteúdos, você cria um método muito mais consistente. Quem tem o pensamento computacional e organizado e consegue descrever os processos, consegue levar isso para além de quando está programando.”

Especializado em usar a robótica como prática lúdica de ensino, João também aponta a importância da programação no quesito “transdisciplinaridade” na educação: “As pessoas pensam: Por que eu vou aprender matemática se quero estudar português? Ou por que eu tenho que aprender história, se quero trabalhar com programação? E é claro que tem que aprender! As pessoas têm que entender que o mundo é interdisciplinar e que as coisas se interconectam. Quando você tem um bom conhecimento na sua área e consegue navegar nas outras, é capaz de ver as conexões que a programação pode criar.”

O movimento Programaê também enxerga a programação como uma habilidade fundamental para a leitura e compreensão do contemporâneo. Por meio da disponibilização de linguagens de programação como o Scratch e outras plataformas de aprendizado, a iniciativa desmistifica os códigos como um conhecimento inalcançável, democratizando o aprendizado e capacitando jovens a serem protagonistas de um universo que necessita cada vez mais de profissionais aptos a utilizá-lo.

Como o jornalista Brendan I. Korner brilhantemente afirmou em seu artigo Forget Foreign Languages and Music. Teach Our Kids to Code (Esqueça línguas estrangeiras e música. Ensine nossas crianças a programar): A língua do futuro não será o mandarim e sim a língua das máquinas. E se é esse o caso, que os protagonistas não sejam computadores que pensem por si próprios, mas sim os jovens, com a inteligência sistemática capaz de comandá-los e usá-los para a reformulação contínua do saber.


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