No Vacaciones Solidárias, colaboradores doam 15 dias de suas férias para atuar em projeto social. A Escola Especial 29 de Março, no PR, recebeu a iniciativa
Ferramenta foi empregada pela primeira vez no projeto, para mapear necessidades de escola especial
Trabalhando há mais de 60 anos com crianças, jovens e adultos com múltiplas deficiências, a Escola Especial 29 de Março, em Curitiba (Paraná), é referência em educação especial. Por possuir uma estrutura pequena, capacitada para atender 107 alunos, a instituição consegue se atentar às particularidades de cada um deles, potencializando seu aprendizado.
Mesmo com tamanha experiência, a organização – mantida pela Associação Ruth Schrank – enfrentava alguns desafios. Seu bazar, importante fonte de renda, precisava expor melhor seus produtos; as redes sociais precisavam de uma nova dinâmica e uma linguagem mais próxima de seus seguidores; e as tecnologias à disposição dos profissionais e alunos da escola poderiam receber um uso ainda melhor
Festa entre voluntários e alunos da escola 29 de Março
Não é fácil perceber essas pequenas fragilidades, principalmente para os que estão imersos no cotidiano escolar. Notá-las foi fruto do cuidadoso mapeamento de um grupo de colaboradores voluntários do grupo Telefônica, durante o projeto Vacaciones Solidárias que faz parte do Programa de Voluntariado promovido pela Fundação Telefônica Vivo. A iniciativa global, na qual colaboradores do Brasil e de vários países doam quinze dias de suas férias para se engajar em um projeto social, esteve presente na Escola Especial 29 de Março durante as duas primeiras semanas de agosto.
A Fundação Telefônica Vivo já possui um histórico de trabalho com a Escola Especial 29 de Março, visitada nas edições de 2015 e 2016 do Dia dos Voluntários. A escolha para que instituição participasse do Vacaciones foi uma preocupação do programa em compreender quais as melhores maneiras de melhorar o cotidiano da população com deficiência, que representa 24% dos habitantes do Brasil.
O Vacaciones Solidárias 2017 recebeu 996 inscritos mundialmente, e 223 do Brasil. Para a ONG paranaense, foram escolhidos 16 voluntários: seis do Brasil e dez estrangeiros da Itália, Espanha, Venezuela, Peru, Colômbia e Argentina.
Para levar adiante esse propósito, uma novidade do programa neste ano foi o uso da metodologia de design thinking, aplicada pela primeira vez no Vacaciones Solidárias. “É uma metodologia de inovação. Convidamos a escola, professores, alunos e voluntários para mapear as reais necessidades e, a partir daí, criar frentes de trabalho para impactar a escola a longo prazo”, explica Patrícia Focchi, Gerente de Seção Voluntariado. “Isso é o oposto do voluntariado tradicional, em que colaboradores chegam com projeto prontos, sem ouvir os beneficiados”, diz.
Para muitos voluntários, que esperavam cuidar da pintura de rodapés ou fazer recreações, foi uma surpresa perceber que teriam que usar suas próprias habilidades para causar mudanças mais duradouras, que melhorassem a estrutura de funcionamento da instituição.
Divisão de tarefas
Design Thinking
Método de trabalho desenvolvido em quatro grandes fases: exploração do problema; entendimento; geração de ideias e experimentação de soluções. Prioriza aqueles que de fato vivem a situação na construção das respostas. Conheça o guia aplicado a projetos sociais.
Após o mapeamento das necessidades da Escola 29 de Março, os voluntários foram divididos em três grupos: um com foco na captação de recursos, outro dedicado a encontrar meios de tornar a rotina dos alunos mais feliz e um último, dedicado a otimizar as tecnologias disponíveis na escola.
Um dos colaboradores participantes do grupo de captação de recursos, Paulo Evaristo, que também participa do Comitê de Voluntariado de São Paulo, conta como foi a experiência. “O design thinking ensina você a não ter apego com ideias, encontrando uma sintonia entre as opiniões do grupo para uma rápida resolução de problemas. Isso é importante quando estamos trabalhando em causas voluntárias”.
Representantes do clube Atlético Paranaense presentearam a escola com camisa oficial
Além da otimização do bazar, o grupo se concentrou na reconstrução da marca da escola, reformulando o logotipo e produzindo placas para melhor comunicação visual interna. Os voluntários dessa frente também conseguiram uma importante conquista: o clube de futebol Atlético Paranaense doou uma camisa assinada por seus jogadores, que será sorteada em uma rifa pela Escola 29 de Março.
Com experiências em trabalho voluntário na Espanha, a advogada Laura Romero queria utilizar suas habilidades comunicativas na melhoria da rotina estudantil. Como a escola atende a cidade de Curitiba e municípios ao redor, muitos dos alunos fazem trajetos de duas a três horas de ônibus para chegar. Foi tarefa do grupo refletir sobre alternativas para torná-lo menos cansativo. “Acompanhamos a rotina de uma estudante, fomos até sua casa, viajamos ao seu lado de ônibus e conversamos com mães e pais de outros alunos. Desenhamos experiências para deixá-los mais contentes”.
A equipe de Laura desenvolveu uma atividade de afetividade digital, criando uma campanha para que as pessoas usem as redes sociais para mandar mensagens personalizadas para cada um dos alunos. Também buscaram maneiras de incluir música nos ônibus escolares durante os trajetos e, como atividade cultural, montaram um palco portátil para apresentações com fantoches.
“O design thinking te ajuda a pensar livremente e a encontrar a melhor ideia para atender o público. Isso funciona muito no voluntariado” Paulo Evaristo - Brasil/São Paulo - Analista de Operações
“O Vacaciones faz você criar um novo olhar sobre as pessoas. Você sente no dia a dia como as professoras trabalham com amor e como os alunos respondem” Danielle Prados - Brasil/São Paulo - Analista de Telecomunicações
“Eu tinha medo de não ser capaz de me comunicar com as crianças, por causa da língua. Mas logo percebi que só é necessário observar e ver no olhar e no toque o que elas precisam. A experiência foi muito mais do que eu imaginava” Laura Romero - Espanha - Advogada
“Eu ajudei na formação dos pedagogos em tecnologia. Para que possam usar melhor o que tem a seu dispor. Ser voluntário é comprometer-se com a sociedade” Andersson Garcia - Colômbia - Desenvolvedor de Produtos
“Definitivamente não sou a mesma pessoa que saiu da Venezuela. Foi a experiência mais incrível da minha vida poder estar com as pessoas atendidas na escola e com outros voluntários!” Claudio Jesus Gonzales Briceño - Venezuela - Líder de Operações
“É lindo o trabalho de criar metáforas para se comunicar com quem não pode falar ou ler. Foi isso que aprendemos com o trabalho no Vacaciones Solidárias” Marian Gomez – Venezuela - Líder de Planificação
“Eu convido todos os voluntários a participarem do Vacaciones Solidárias. Não hesitem, vocês vão se transformar e transformar a vida de alguém” Lorenço Menezes - Brasil/São Paulo - Consultor
A Fundação Telefônica Vivo sempre trabalhou a tecnologia como ferramenta de inovação, e trazer isso para o Vacaciones Solidárias foi um dos grandes desafios da edição. Um grupo de colaboradores esmiuçou como a escola se relacionava com as ferramentas digitais à sua disposição. “Identificamos as necessidades tecnológicas, como redes sociais e páginas da internet, e também o uso de lousas digitais e projetores que podem trazer estímulos de aprendizado diferentes para os alunos. A partir disso, criamos um plano de comunicação e melhoria dos dispositivos” disse o voluntario Andersson Garcia, da Colômbia. A ideia é que os funcionários consigam fazer a manutenção dos equipamentos.
Os dois últimos dias de evento foram marcados por uma atmosfera de saudosismo e agradecimento. Aos voluntários, coube a tarefa de trazer pequenas mostras de seus países e de suas culturas para os alunos. Entre bandeiras coloridas, mapas na cartolina e refeições partilhadas, os colaboradores se despediram, apresentando o legado deixado nos quinze dias de trabalho.
“Tomamos a acertada decisão de não alterar nossa rotina, e depois de dois dias os voluntários estavam integrados e agregando seu conhecimento ao nosso trabalho. Foram duas semanas de brilho no olhar dos alunos, vamos sentir muita falta!”, disse a vice-diretora e pedagoga da instituição, Thaís Cristine.