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Notas Técnicas

10.09.2025
Tempo de leitura: 9 minutos

OCDE divulga relatório Education at a Glance 2025

Edição deste ano destaca expansão de EPT como caminho para ampliação de oportunidades dos jovens

Imagem ilustra a nota técnica que exemplifica o termo educação profissional e tecnológica

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou ontem (09/09) o relatório Education at a Glance 2025 (Educação em Foco). O documento oferece uma visão abrangente dos sistemas educacionais em países da OCDE e parceiros. A edição deste ano aborda como tema principal o Ensino Superior, mas também traz aspectos relacionados ao Ensino Médio, em especial à Educação Profissional e Tecnológica (EPT).

 

Jovens sem-sem e o papel da EPT

O relatório revela que, em 2024, quase um quarto dos jovens brasileiros de 18 a 24 anos estava fora da escola e do mercado de trabalho, configurando a condição de sem-sem¹ (sem oportunidade de emprego e sem oportunidade de estudo). A proporção, de 24%, supera significativamente a média da OCDE, de 14%, revelando um desafio persistente para a integração produtiva da juventude. Embora tenha havido uma redução em relação a 2019, quando o índice era de 30%, o patamar ainda se mantém elevado. O dado também expõe uma forte desigualdade de gênero: 29% das mulheres jovens encontram-se nessa situação, contra 19% dos homens, ao contrário do que ocorre na maioria dos países da OCDE, onde as taxas tendem a ser mais equilibradas.

Esses resultados evidenciam a urgência de se pensar estratégias educacionais que dialoguem mais com a realidade da juventude. A EPT tem papel estratégico nesse sentido, ao oferecer percursos mais conectados com os projetos de vida dos jovens, favorecendo o engajamento e contribuindo para reduzir os riscos de evasão. O próprio relatório da OCDE menciona as recentes mudanças no Ensino Médio como um passo relevante nessa direção, ao fortalecer a EPT como opção dentro da Educação Básica e abrir espaço para currículos mais flexíveis e adaptados às demandas locais. Além de aproximar a escola das aspirações dos jovens, a EPT também amplia suas alternativas de inserção produtiva.

Nesse sentido, vale destacar que, embora os dados da OCDE mostrem que o Brasil ainda esteja em um patamar baixo no comparativo internacional, com apenas 14%² dos estudantes do ensino médio matriculados em programas vocacionais em 2023 (frente a uma média de 44%), o país avançou bastante na última década. A proporção praticamente dobrou entre 2013 e 2023, passando de 8% para 14%, resultado associado a reformas recentes que abriram espaço para currículos mais flexíveis e adaptados às demandas locais. Esse crescimento coloca o Brasil entre os países que mais expandiram a oferta no período.  

De forma complementar, é positivo observar que o tema também aparece como prioridade no novo Plano Nacional de Educação (PNE) que, em seu objetivo 11, propõe ampliar a oferta de EPT integrada ao Ensino Médio. Isso evidencia o alinhamento entre a agenda internacional e os compromissos nacionais em torno da valorização da EPT como estratégia para diversificar trajetórias e oportunidades para a juventude.

É importante reforçar também que ampliar e qualificar a EPT não é apenas uma questão de oferecer trajetórias educativas mais relevantes, mas também de responder à urgência do mundo do trabalho em absorver jovens com competências técnicas, digitais e socioemocionais desenvolvidas.

 

Formação técnica e a inclusão produtiva de jovens

Cumpre destacar a recente pesquisa³ da Brasscom, realizada em parceria com a Fundação Telefônica Vivo e o Instituto Locomotiva, que aponta que 82% das empresas do setor de TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) pretendem ampliar suas equipes nos próximos dois anos, sendo que quase metade dessas vagas deverá ser destinada a posições de entrada.

O estudo mostra ainda que a formação técnica, as soft skills e a promoção da diversidade estão entre os principais fatores considerados pelas empresas na contratação de jovens. Esses resultados dialogam diretamente com a análise da OCDE e reafirmam que, ao aproximar a escola da realidade dos estudantes e desenvolver competências práticas, a EPT atua como ponte entre educação e mercado, ampliando a empregabilidade e acelerando a inserção produtiva da juventude.

Essa discussão sobre formação técnica conecta-se também aos desafios de ingresso e permanência dos estudantes brasileiros em cursos superiores na área de tecnologia. De acordo com o relatório da OCDE, em 2023, cerca de 23% dos graduados de bacharelado nos países da organização estavam em áreas de STEM (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). No Brasil, essa proporção era de apenas 16%. Além da baixa participação, as taxas de conclusão nesses cursos também preocupam: apenas 38% dos estudantes brasileiros concluem a graduação em até três anos após o prazo previsto, contra 58% na média internacional. Esses dados mostram que o desafio não está apenas em atrair mais jovens para essas áreas, mas em criar condições de permanência e sucesso acadêmico.

Assim, o fortalecimento da EPT, nesse contexto, pode desempenhar um papel decisivo não só na inserção produtiva imediata, mas também na construção de bases sólidas para a continuidade dos estudos em STEM. Além disso, considerando que a escolha profissional no Brasil ocorre de forma precoce, a EPT pode ajudar os estudantes a fazerem escolhas mais conscientes, ao oferecer experiências práticas que aproximam o jovem do mundo do trabalho e das possibilidades acadêmicas. Ao articular percursos técnicos no Ensino Médio com possibilidades de transição para o Ensino Superior, o Brasil pode ampliar a atratividade dessas carreiras, reduzir desigualdades de acesso e permanência, e preparar mais jovens para ocupar posições estratégicas em um mercado cada vez mais orientado por ciência, tecnologia e inovação.

 

A importância das competências digitais

O relatório também ressalta que a digitalização e a integração da inteligência artificial no mundo do trabalho reforçam a necessidade de alinhar sistemas educacionais às novas demandas. Nesse contexto, a formação nos níveis secundário e superior é vista como fundamental para preparar estudantes a lidar com tecnologias emergentes e garantir resiliência no mundo do trabalho.

Portanto, a formação dos jovens deve levar em consideração, como elemento central, a resolução adaptativa de problemas em ambientes digitais, que pode ser definido como a capacidade de alcançar objetivos em situações dinâmicas, nas quais não há um método único ou previamente conhecido para chegar à solução. Esse processo envolve ativar recursos cognitivos e metacognitivos, como definir o problema, buscar informações relevantes, testar estratégias e avaliar resultados, em diferentes ambientes de informação.

Na prática, isso significa lidar com desafios que emergem justamente em contextos digitais: navegar em interfaces tecnológicas, integrar variáveis diversas, interpretar dados em tempo real ou ajustar decisões frente a informações que mudam rapidamente.

Os resultados mostram que, em média, apenas 31% dos adultos nos países da OCDE alcançam níveis mais altos de proficiência nessa área, enquanto cerca de um terço permanece em patamares básicos ou baixos, com dificuldades em lidar até mesmo com tarefas rotineiras em contextos digitais. Essas diferenças revelam que o desenvolvimento de competências digitais vai além do domínio técnico, exigindo também acesso, confiança e oportunidades de prática em situações reais, desde a educação básica. A OCDE reforça que essas habilidades são cada vez mais importantes porque a tecnologia está incorporada em atividades sociais, financeiras e cívicas, além de estarem presentes no mundo do trabalho.

Faça o download gratuito da nota técnica do relatório Education at a Glance 2025

¹ A OCDE utiliza a nomenclatura, em inglês, NEETs (Not in Employment, Education or Training). No Brasil, por muito tempo se popularizou a expressão “jovens nem-nem”, em referência àqueles que nem trabalham, nem estudam. Mais recentemente, entretanto, pesquisadores e organizações têm proposto alternativas que evitam atribuir responsabilidade ao indivíduo e enfatizam as condições estruturais que limitam suas oportunidades. Nesse sentido, surgiram termos como “sem-sem” e “jovem-potência”, que buscam destacar o potencial dessas juventudes e a necessidade de criar caminhos para seu desenvolvimento e inclusão social. Esse conceito é explorado na pesquisa “Futuro do Mundo do Trabalho para as Juventudes Brasileiras”, disponível em: https://www.fundacaotelefonicavivo.org.br/pesquisas-conteudos/pesquisa-futuro-do-mundo-do-trabalho-para-as-juventudes-brasileiras/. Acesso em 09/09/205.

² De acordo com o Education at a Glance 2025, 14% dos estudantes do Ensino Médio no Brasil estavam matriculados em programas vocacionais em 2023. Esse valor, contudo, não coincide com o resultado do Censo Escolar 2024 divulgado pelo Inep nos últimos meses, que indica um resultado próximo a 17% em 2024. As diferenças decorrem de dois fatores principais: i) a defasagem temporal, já que o último relatório OCDE apresenta dados de 2023, e o Inep, de 2024;  ii) as diferenças de classificação, uma vez que a OCDE adota a ISCED (International Standard Classification of Education) para tornar os dados comparáveis entre países, o que pode levar a ajustes em relação às categorias utilizadas nacionalmente. Apesar das variações, todos os levantamentos apontam uma tendência consistente de crescimento da matrícula em Educação Profissional e Tecnológica (EPT) no Ensino Médio brasileiro na última década.

³ Prospecção de Vagas de Entrada no Macrossetor de TIC. Disponível em: https://www.fundacaotelefonicavivo.org.br/pesquisas-conteudos/pesquisa-vagas-de-entrada-tecnologia/. Acesso em 09/09/2025.


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