O evento, que aconteceu durante os dias 17 a 20 de agosto, reuniu tendências tecnológicas que se espalham pela escola – e fora dela.
O evento, que aconteceu durante os dias 17 a 20 de agosto, reuniu tendências tecnológicas que se espalham pela escola – e fora dela.
Os meninos passaram a sexta-feira ensolarada na escola. Pela manhã participaram de uma oficina de jogos matemáticos, uma roda de RPG, além de acompanharem uma orquestra montada no meio do pátio. Estavam ansiosos para a próxima atividade: uma oficina de brinquedos feitos a partir de sucata eletrônica. Quando a educadora chegou carregando uma grande caixa, eles enfiaram suas mãos na tralha eletrônica. Logo, estavam montando carrinhos com tampas de garrafas plásticas e pilhas.
O aprendizado se estenderia por toda à tarde na Escola Caetano de Campos, que participava da terceira edição da Virada Educação. O evento, que aconteceu durante os dias 17 a 20 de agosto em São Paulo, reúne processos pedagógicos que se espalham tanto em espaços convencionais de educação, como a própria escola, quanto em outros não tradicionais, como praças ou muretas. O aprendizado acontece simultaneamente em oficinas, debates, intervenções e mapeamentos urbanos; por alguns dias, a cidade foi um grande órgão educador.
A Escola Caetano de Campos foi a primeira escola a abrir-se para o evento, em 2014, e ainda concentra um grande número dos eventos propostos – foi nela que o cortejo de música afro-brasileira Ilú Obá de Min, que abriu a Virada, encerrou seus batuques. Dentro de uma programação variada, pipocaram várias oficinas permeadas pela importância de se discutir as linguagens de programação, robótica e também como as tendências tecnológicas têm alterado e inovado o panorama educacional.
No final do primeiro andar da escola, um grupo misto de crianças e adolescentes via-se frente a um desafio lúdico: aprender sobre como funciona o pensamento computacional sem ter à sua disposição uma máquina. Os proponentes da oficina Laboratório de (des)computadores utilizaram jogos com bolinhas e também copinhos plásticos para explicar as sequências numéricas lidas pelo computador. A ideia era que os participantes se engajassem não somente mental, mas corporalmente nos princípios da linguagem de programação.
“Quando você consegue desenvolver o raciocínio lógico antes de usar o computador, você começa a entender o que está por trás do funcionamento da máquina, tornando-a mais acessível. E consegue adaptar esse aprendizado para a realidade escolar brasileira, que muitas vezes não tem acesso ao computador”, explica Monica Rizzoli, uma das educadoras a ministrar a oficina. O educador e palhaço Carril Fernando complementa, dizendo que é importante relacionar o computador e a programação com outras áreas de conhecimento, como a própria arte.
Na sala próxima, os sons que se ouviam eram o das muitas perguntas das crianças e dos motorzinhos que zumbiam quando conectados às pilhas. A educadora Thais Avelino trouxe a oficina Educação Maker – Brinquedo com Sucata Eletrônica para introduzir as crianças e jovens a cultura do Faça Você Mesmo. A partir de partes sucateadas de computadores, televisões e celulares, os participantes podiam construir pequenos objetos de movimento, como carrinhos, helicópteros e até mesmos barcos.
Ainda que Thais estivesse presente durante toda a oficina, quem comandou o debate sobre as dúvidas que surgiam no processo foram as próprias crianças. Nos erros e acertos, eles aprendem como são capazes de criar suas próprias engenhocas por meio de objetos que muitas vezes são descartados. “Tem que aprender errando, Se eu disser como as crianças tem que fazer, tudo fica previsível, e se você as deixa livre, elas usam toda a sua criatividade e potencial”, complementa a educadora.
Um dos idealizadores da Virada Educação, Antônio Sagrado Lovato, referiu-se uma vez ao termo virada como simbólico na construção do movimento de uma cidade que é educadora e utiliza tanto o lado de dentro quanto o lado de fora da escola. Quando crianças e adolescentes são coautores de uma cultura educacional inovadora, seja criando brinquedos em oficinas makers ou ocupando suas escolas, a Virada se estende para muito além de quatro dias, tornando-se uma prática cotidiana da cidade e seus articuladores.